Arquivo para Tag: Cosmovisão bíblica

Pastores-Mestre: O Dom de Cristo à sua igreja

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres

Efésios 4:11

As sociedades não se tornam seculares simplesmente quando abandonam totalmente a religião, mas quando já não se sentem incomodadas por ela. Esse é o sinal mais perigoso: quando a fé já não mexe, já não confronta, já não incomoda. E, ironicamente, esse mesmo risco ronda também a própria igreja de Cristo, justamente no lugar em que menos esperaríamos — na compreensão do seu clero. Não porque estejamos descartando o ministério pastoral, mas porque já não enxergamos sua natureza teológica como algo estimulante ou central. A figura do pastor como teólogo — aquele que abre as Escrituras para ajudar o povo a conhecer a Deus, a si mesmo e ao mundo — já não faz mais os corações arderem, como os discípulos a caminho de Emaús (Lc 24.32).

Em nossos dias, muitos pastores, como Esaú, têm trocado sua herança vocacional por um prato de lentilhas (Gn 25.29-34; Hb 12.16). Em vez de mergulharem na Palavra, tornam-se especialistas em gestão, estrategistas de marketing, coachs de liderança e terapeutas improvisados. E o pior: muitas congregações passaram a exigir exatamente isso deles — preferindo títulos de MBA a homens de oração. Não é de se estranhar que tantos recém-formados saiam do seminário reclamando que não foram preparados para o “verdadeiro trabalho” do ministério. Enquanto isso, os próprios seminários, pressionados pelas demandas do mercado eclesiástico, reformulam seus currículos e acabam contribuindo ainda mais para a perda da teologia na vida da igreja.

A história, é claro, é longa e complexa. Já foi contada em muitos livros. Mas a ideia central é clara: a teologia foi banida de Jerusalém e posta em exílio. O resultado é que o conhecimento de Deus se torna cada vez mais raso entre nós. E a comunidade da aliança, chamada a ser jardim frutífero, passa a parecer um deserto — uma terra seca, cheia de oportunidades desperdiçadas, que já não cultiva discípulos como outrora.

Por isso, mais do que nunca, precisamos resgatar a identidade do pastor como teólogo. Não como um acadêmico de gabinete, mas como um servo que conduz o rebanho às verdes pastagens da Palavra. O povo de Deus não precisa de mais “gestores” — precisa de homens que façam os corações arderem novamente com as Escrituras abertas diante deles.

Escrevo a vocês, meus colegas de ministério — e aqui não me refiro apenas aos pastores titulares! — porque percebo o quanto precisamos resgatar a essência teológica da nossa vocação. Não importa se o ministério que você exerce é definido como “pastor de jovens”, “educador cristão”, “pastor de vida congregacional”, “líder de louvor” ou qualquer outra função. A verdade é que todos nós fomos chamados para algo maior do que um cargo: fomos chamados para falar de Deus e, ao mesmo tempo, lidar com as pessoas. E vamos ser honestos: nenhuma dessas duas tarefas é simples… mas ambas são inevitáveis. Cabe a nós, em qualquer área de atuação, comunicar Cristo e ministrar a Palavra em todo tempo, de várias formas e a todas as pessoas. Esse é o coração do nosso chamado: ministrar a Palavra de Deus ao povo de Deus.

Escrevo também a vocês, igrejas, porque sei que precisam ser lembradas da seriedade dessa vocação. É urgente repensar a natureza, a função e até mesmo as credenciais que vocês exigem de seus pastores. Mais do que diplomas bonitos na parede, seus pastores precisam de condições para servir e crescer como teólogos públicos — homens que falam de Deus para o mundo e do mundo diante de Deus. Além disso, lembro a vocês que a igreja não é apenas uma comunidade social, mas uma comunidade teológica, criada pela Palavra e sustentada pelo Espírito. Vocês não escrevem a própria história com Deus como coadjuvante; é o contrário: estão inseridos na grande história de Deus. E é exatamente aí que entra a nossa vocação pastoral. Um pastor-teólogo existe para ajudá-los a enxergar isso, a viver isso e a ensinar outros a crer nisso.

Problema: uma visão perdida

Eu tenho aprendido que, sem visão teológica, nós, pastores, perecemos. A visão é aquilo que nos permite enxergar onde estamos e para onde devemos ir. Muitas vezes, o que vemos assusta e intimida. Pedro andou sobre as águas com os olhos fixos em Jesus, mas quando olhou para o vento e as ondas, começou a afundar (Mt 14.28-31). O que o fez tropeçar não foi a tempestade em si, mas o deslocamento do olhar. E confesso: muitas vezes acontece o mesmo conosco. Quando nossa visão é dominada pela realidade aparente, sufocamos a fé; mas, quando a fé em Cristo guia nosso olhar, somos capazes de ver o mundo como ele realmente é — criado, redimido e amado por Deus. Essa sempre foi a mensagem dos profetas: anunciar o que viam, testemunhando que Deus está renovando todas as coisas por meio de Seu Servo e de Seu povo da aliança. Se essa é a visão que nos foi dada, eu pergunto: por que tantos pastores estão se afogando em pleno mar?

A tempestade não é o problema. O que nos faz afundar, muitas vezes, não são as ondas do mar, mas as ondas do sentimento popular; não é o vento do mar, mas os ventos da opinião pública. Eles sopram contra nós e nos tentam a abandonar nossa tarefa teológica, impedindo-nos de levar o povo de Deus à maturidade em Cristo (cf. Ef 4.14). Nadar contra a corrente cultural nunca é fácil, e sei que o pastor fiel sempre será alguém da contracultura. Afinal, como não ser contracultural quando proclamamos Cristo crucificado e chamamos os discípulos a imitarem o Senhor, morrendo para si mesmos? O chamado ao autoesvaziamento nunca será atraente para um mundo que ama carteiras cheias e guarda-roupas abarrotados.

Mas reconheço que nosso chamado se torna ainda mais desafiador porque lidamos com três públicos diferentes, três realidades sociais diante das quais precisamos falar de Deus: (1) a academia, (2) a igreja e (3) a sociedade em geral. Se Deus é o Criador de tudo, visível e invisível, e se o evangelho é para todo o mundo, então não existe sequer um centímetro quadrado do universo nem um único aspecto da vida humana que não estejam debaixo do senhorio de Cristo. O problema é que a maioria de nós vive em mais de um desses mundos ao mesmo tempo, e isso exige de nós uma sabedoria pastoral que só o Espírito pode dar.

Já aconteceu comigo no púlpito: no mesmo culto tenho diante de mim um adolescente cheio de dúvidas, um universitário mergulhado em filosofia, um marceneiro desempregado, uma mãe exausta pelo trabalho, um prefeito da cidade e até um professor de física. Como falar de Deus a todos eles de forma clara e fiel? Esse é o desafio do pastor-teólogo. O contexto principal é, sem dúvida, a igreja. Mas será que isso me exime de falar também à sociedade mais ampla ou até de dialogar com a academia? De jeito nenhum! O evangelho precisa ecoar em todos os cantos.

É por isso que entendo que nós, pastores-teólogos, precisamos ser “trilíngues”. Não no sentido de dominar idiomas, mas de aprender a falar a língua de cada contexto: da igreja, da universidade e da sociedade em geral. Nem sempre vamos falar com perfeição, mas precisamos, ao menos, nos esforçar para compreender e nos fazer compreender. Esse é o nosso chamado: traduzir fielmente a Palavra eterna em meio aos muitos mundos em que nosso povo vive.

E é justamente aqui que quero começar: analisando como a visão pastoral e teológica foi sendo perdida nesses três públicos.

Academia

E aqui está o ponto: se a teologia é, muitas vezes, escrita por acadêmicos para acadêmicos, eu — como pastor — não posso simplesmente me render a essa distância. É verdade que certas discussões acadêmicas parecem áridas ou irrelevantes para a vida de fé, mas a responsabilidade de mostrar a conexão entre doutrina e vida pertence a nós, pastores-teólogos. Quando alguém me pergunta, por exemplo, o que a doutrina da Trindade tem a ver com o desemprego de um pai de família, eu não posso me esquivar. Preciso mostrar que a vida cristã não é sustentada por psicologia de autoajuda, mas pelo fato de que o Deus triúno, eterno em amor e comunhão, nos chama para viver nele e dele participar. A Trindade não é apenas uma fórmula bonita para recitar — é a base da nossa salvação, da nossa comunhão e da nossa esperança.

Esse é um dos maiores dramas da transferência da teologia para a academia: quando deixamos de perceber que toda doutrina é pastoral. O ensino sobre a soberania de Deus, por exemplo, não é uma tese para congressos, mas a rocha firme para aquele irmão que acaba de enterrar sua esposa. A doutrina da encarnação não é apenas um debate cristológico — é a boa notícia para a irmã que se sente abandonada: em Cristo, Deus assumiu nossa carne e conhece, por experiência, nossas dores. Cada artigo de fé é alimento para a vida da igreja.

É por isso que digo: quando me coloco diante da congregação, não posso falar apenas como “gestor de pessoas” ou “especialista em liderança”. Preciso ser pastor-teólogo, alguém capaz de traduzir a profundidade das Escrituras e da fé cristã para a realidade concreta do povo de Deus. Isso não significa transformar o púlpito em sala de aula acadêmica, mas deixar que a Palavra forme mentes e corações para viverem no mundo real, com esperança e santidade.

E aqui está a tensão: como falar, ao mesmo tempo, para o erudito que conhece as discussões acadêmicas e para a irmã simples que nunca leu um livro de teologia, mas que carrega no peito a dor de um filho perdido? A resposta é que só conseguiremos isso se não abrirmos mão da nossa vocação pastoral-teológica. É preciso, de fato, aprender a ser “trilíngue” — falar com clareza bíblica na igreja, com rigor teológico na academia e com testemunho vivo na sociedade.

Se a visão pastoral foi perdida na academia, parte da nossa missão é resgatá-la: não como inimigos da teologia acadêmica, mas como aqueles que lembram ao mundo universitário que a teologia não é mero exercício intelectual. Ela é confissão, é doxologia, é pastoral. O verdadeiro teólogo não é apenas quem escreve livros complexos, mas quem abre a Escritura e mostra à igreja que toda verdade sobre Deus é boa nova para o coração cansado.

E aqui está outro grande desafio: o tal “muro de Berlim” erguido dentro da própria academia, separando estudos bíblicos e teologia. Essa divisão, tão artificial quanto prejudicial, tem produzido consequências sérias para a igreja. Nós, pastores, sabemos bem que a pregação é o coração do nosso ministério. Se nos obrigassem a escolher, a maioria de nós, sem pensar duas vezes, ficaria com os estudos bíblicos. Mas aí vem o problema: grande parte do que encontramos nos comentários acadêmicos modernos é quase impossível de ser pregado.

Explico: a academia, em muitos casos, trata a Bíblia apenas como documento histórico, e isso não é pouca coisa. Claro que contexto histórico, línguas originais e paralelos culturais têm o seu valor, mas quando a ênfase se desloca exclusivamente para o “mundo por trás do texto”, a voz de Deus no texto é silenciada. É como se, no esforço de explicar como Israel viveu no Antigo Oriente Próximo, esquecêssemos que o mesmo Deus que falou a Israel fala hoje à Sua igreja. O resultado? Sermões que parecem mais aulas de arqueologia ou história antiga do que proclamação do evangelho.

E aqui eu preciso dizer: um comentário bíblico que não conduz o pregador a Cristo e ao plano de Deus revelado em Cristo falhou em sua tarefa. Porque, no fim das contas, toda a Escritura aponta para Ele (Lc 24.27) e encontra sua unidade no mistério revelado de que Deus está reconciliando todas as coisas em Cristo (Ef 1.9-10). O que me entristece é ver estudiosos tratando a Escritura como material de pesquisa em vez de Palavra viva, e, consequentemente, muitos pastores se alimentando desse tipo de material para, depois, subir ao púlpito com mensagens que não alimentam ninguém.

Não me entendam mal: eu não sou contra a pesquisa acadêmica, nem contra a seriedade histórica. Mas eu creio que qualquer abordagem que retire a centralidade de Cristo do texto bíblico já deixou de ser teológica, ainda que tenha o rótulo de “estudo bíblico”. Para mim, um verdadeiro comentário bíblico é aquele que ajuda o pastor a proclamar o Cristo das Escrituras ao povo de Deus, e não apenas a demonstrar erudição.

É por isso que insisto: o pastor não pode abrir mão de sua identidade de teólogo. Precisamos ser capazes de discernir quando a academia nos oferece ferramentas úteis e quando ela tenta nos oferecer pedras em vez de pão. A igreja não sobrevive de curiosidades históricas, mas da Palavra que revela Cristo e o faz presente em cada geração.

Igreja

A muito tempo, tenho observado uma confusão crescente sobre o que realmente significa ser pastor e o que se espera que os pastores façam. E digo com franqueza: ainda há muita incerteza. O próprio termo “pastor” é uma metáfora, e essas metáforas podem se tornar prisões invisíveis. Muitas vezes, elas não refletem quem somos de fato, mas as preocupações e tendências da sociedade em que vivemos. A imagem que as pessoas têm de nós geralmente revela mais sobre a cultura do que sobre a nossa vocação.

Hoje, temos uma variedade enorme de imagens sobre o pastor: gestor de programas, terapeuta, líder comunitário, administrador de pessoas, comunicador de mídia, conselheiro emocional, agente de esperança… A lista poderia continuar. Cada uma dessas imagens traz alguma verdade, mas nenhuma pode definir integralmente o que significa ser pastor. A questão central permanece: o que faz da nossa vocação algo único e insubstituível?

E essa confusão não se limita à sociedade; ela alcança a formação de pastores. Muitos seminários estruturam seus cursos e conteúdos baseados em modelos de mercado, técnicas de gestão ou ferramentas de aconselhamento, muitas vezes esquecendo que a essência do ministério pastoral é teológica e bíblica.

Não me entendam mal: organizar programas, cuidar de pessoas e aconselhar são tarefas importantes. Mas não podem substituir o que só o pastor pode fazer: ministrar a Palavra de Deus, ensinar, pregar, aconselhar espiritualmente e moldar o povo de Deus para refletir a nova humanidade em Cristo. Essa é a nossa identidade e nossa vocação.

O perigo que vejo é a tendência de nos tornarmos pastores “profissionais” no sentido cultural: buscando reconhecimento, status, carreira ou técnica, e esquecendo que nossa principal autoridade vem de Deus e da fidelidade à Sua Palavra. Quando isso acontece, o pastor perde sua relevância espiritual, e a igreja se empobrece. Deixamos de aplicar categorias teológicas e espirituais à vida cotidiana, e o resultado é que desaparece o sentido do pecado, da graça e, muitas vezes, a presença viva de Deus.

Portanto, pergunto a mim mesmo e a vocês, colegas de ministério: quem queremos ser? Pastores guiados por modismos e pressões culturais ou pastores-teólogos, firmes na Escritura, moldados pelo Espírito e comprometidos em fazer discípulos, pregando, ensinando e formando o povo de Deus para viver a vida nova em Cristo? Minha convicção é clara: sem essa identidade, o ministério perde sua força, e a igreja deixa de cumprir sua missão.

Sociedade

Era uma vez, e nem faz tanto tempo assim — me refiro ao século XIX — pastores que eram figuras públicas respeitadas, valorizadas e reverenciadas. Não raro, eram as pessoas de maior nível educacional em cidades pequenas ou médias, verdadeiros intelectuais de suas comunidades. Avançando um século, porém, vemos como a situação mudou radicalmente. Hoje, a imagem do pastor muitas vezes se reduz a caricaturas: o moralista reprimido, o megalomaníaco cheio de si ou aquele que parece mais preocupado com a aparência do que com a Palavra de Deus. Infelizmente, há uma boa dose de verdade nesse retrato superficial, e precisamos encará-la.

O brasileiro médio que frequenta igreja confessa sua fé em Cristo, mas vive mergulhado na mesma cultura que todo mundo: novelas, filmes, programas de TV e redes sociais moldam suas expectativas e percepções. A cultura popular tanto reflete quanto molda a forma como as pessoas enxergam os pastores. E, nesse cenário, eu me pergunto: que tipo de figura pública o pastor representa? Que imagem projetamos quando falamos de Deus?

Ser um pastor-teólogo — alguém que fala de Deus para diferentes públicos — é, antes de tudo, ser honesto com os olhos das pessoas. E aqui está a difícil situação: precisamos apresentar verdades sobre Deus de maneira que façam sentido no discurso público, sem nos render às expectativas culturais de reconhecimento ou aprovação. Falar de Deus é paradoxal: somos humanos, limitados, e ainda assim chamados a proclamar o Criador do universo. Quem somos nós, criaturas falíveis, para ousar falar sobre Aquele que é soberano, infinito e santo?

Mas é justamente nesse paradoxo que reside o chamado do pastor. Não estamos aqui para crescer socialmente, para angariar prestígio ou fama, nem para atrair atenção para nós mesmos. Nosso objetivo é apontar para Deus, levando as pessoas a adotarem a forma de pensar, sentir e viver que Ele deseja. É um chamado que exige humildade: muitas vezes precisamos diminuir nossa posição social, reconhecer nossa fragilidade e nossa contínua necessidade da graça de Deus, assim como Paulo fazia (1Tm 1.15).

Além disso, somos chamados a falar em público sobre temas amplos — o sentido da vida, o bem comum, a moralidade, a fé — mesmo sem ter credenciais reconhecidas pela sociedade, ao contrário de especialistas que dominam suas áreas. A situação é ainda mais desafiadora quando consideramos que, na opinião geral, figuras públicas são frequentemente vistas com desconfiança. As pessoas tendem a questionar as motivações de quem representa uma instituição ou organização.

É certo que confiamos em neurocirurgiões para operar cérebros ou em pilotos para voar aviões, porque suas habilidades são reconhecidas e mensuráveis. O pastor, porém, enfrenta outro tipo de desafio: explicar sua contribuição para o bem público exige afirmar um conhecimento especializado que nem sempre é tangível aos olhos da sociedade — um conhecimento que une teologia, ética e a aplicação da Palavra de Deus à vida cotidiana. Precisamos vestir o manto da autoridade intelectual sem nos tornarmos arrogantes, sempre apontando para Cristo e não para nós mesmos.

O paradoxo é grande, mas necessário: o pastor deve ser autoridade sem buscar prestígio, guia sem buscar adulação, e mestre sem se reduzir a mero consultor de bem-estar social. A tarefa é difícil, mas é o que nos distingue. Falar de Deus ao mundo de forma pública e relevante é o que nos mantém fiéis ao chamado, e é isso que garante que nossas comunidades realmente conheçam e experimentem a presença viva de Cristo.

Então, vamos resumir o que venho afirmando até aqui. Primeiro, os pastores são e sempre foram teólogos. Em segundo lugar, cada teólogo é, de certa forma, um teólogo público, um intelectual com uma missão específica, um generalista da fé que fala para pessoas reais, em contextos reais. E quero enfatizar algo que considero central: não é preciso ter uma cadeira acadêmica ou QI elevado para ser um intelectual. Mas é preciso ter QT — quociente de teologia — elevado, uma capacidade de pensar, compreender e aplicar a Palavra de Deus de forma clara, fiel e relevante. Em terceiro lugar, o propósito de o pastor-teólogo atuar como intelectual público é servir ao povo de Deus, edificando-o na fé que nos foi entregue “uma vez por todas” (Jd 3).

Quando falo que pastores são teólogos, não me refiro apenas a títulos acadêmicos ou publicações em revistas especializadas. Falo de algo muito mais profundo: dizer com clareza e fidelidade o que Deus está fazendo em Cristo. Historicamente, esse aspecto de nossa vocação tem sido esquecido, relegado a um grupo restrito de “profissionais da teologia”. Mas essa separação é prejudicial. Ela sugere — ainda que indiretamente — que pastores e leigos não seriam capazes de elaborar teologia, ou que não teriam autoridade para falar de Deus porque não possuem credenciais formais. Essa é uma mentira que precisa ser confrontada.

A teologia é demasiado importante para ser monopolizada. Cada pastor, cada discípulo, cada cristão é responsável diante de Deus por compreender e agir conforme o conhecimento de Deus que lhe é dado — seja por meio da criação, seja pelo coração humano, seja pela própria Escritura (Rm 1.19-21). O que isso significa na prática? Significa que todos nós somos chamados a ler, meditar, refletir e aplicar a Palavra, sempre com amor, obediência e confiança. Não existe cristão “comum” incapaz de pensar teologicamente; existe, sim, uma responsabilidade real de crescer nesse entendimento e de não deixar que outros falem por nós em questões de fé.

E é exatamente aqui que entra a urgência do pastor-teólogo: precisamos resgatar nossa vocação de falar sobre Deus de maneira pública, relevante e fiel. Precisamos ensinar e guiar nossa igreja para que compreenda Cristo, sua obra e a realidade do mundo segundo os olhos de Deus. Ser pastor não é apenas gerir pessoas ou programas; é ser um mestre do povo de Deus, capaz de traduzir a grandeza de Deus para a vida cotidiana das pessoas.

A pergunta que nos move é simples, mas profunda: se não nós, quem falará? Se não com fidelidade e clareza, quem conduzirá nosso povo ao entendimento da Palavra? Pastores que não exercitam sua função de teólogos públicos correm o risco de ver a igreja perder não apenas a direção, mas o próprio sentido da fé em Cristo. E isso, meus irmãos, é inaceitável.

Quando lemos Efésios 4:11, vemos que Cristo “deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres”. Muitos olham para essa passagem e entendem que “pastor” e “mestre” são dons distintos, como se alguém pudesse ser apenas pastor ou apenas mestre. Mas, na prática, não é assim. A Palavra nos mostra que o dom de pastor e o dom de mestre são, na realidade, duas faces da mesma moeda: o mesmo dom se manifestando de maneiras complementares.

O pastor que não é mestre corre o risco de cuidar de pessoas sem levá-las a entender profundamente a Palavra de Deus. Ele se torna apenas um gestor de emoções ou um conselheiro de situações imediatas. Por outro lado, o mestre que não é pastor corre o risco de ser um acadêmico isolado, incapaz de aplicar sua teologia à vida concreta das pessoas. O dom completo se manifesta quando o pastor é também mestre: alguém que cuida do rebanho e, ao mesmo tempo, ensina e edifica o povo na verdade de Deus.

Ser pastor e mestre significa, portanto, guiar vidas com coração e cabeça: com compaixão e com conhecimento. É proclamar Cristo de maneira que as pessoas compreendam o que Ele fez, o que Ele está fazendo e como Ele quer que vivamos em resposta à sua graça. É transformar a igreja não apenas em um lugar de encontros emocionais, mas em uma comunidade de discípulos formados, capazes de entender, aplicar e defender a fé.

Efésios 4:12 reforça essa aplicação: o propósito desse dom é “aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo”. Ou seja, o pastor-teólogo não está a serviço do próprio ego, nem para ocupar um espaço social ou cultural; está a serviço da igreja, preparando o povo de Deus para crescer em maturidade, em santidade e em conhecimento da Palavra.

Portanto, todo pastor que se vê apenas como cuidador de almas precisa se lembrar: o Senhor o chamou para ser também mestre. E todo mestre que se contenta apenas com o estudo e o ensino da Bíblia precisa se lembrar: Cristo o chamou para pastorear, para se relacionar com pessoas, para guiá-las na vida prática da fé. O verdadeiro pastor-teólogo é aquele que une ambos os aspectos: cuidado e ensino, coração e mente, zelo pastoral e profundidade teológica.

De olho no texto

O versículo de Efésios 4:11 diz:

“E ele mesmo deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres” (NVI).

No grego original, a expressão é “καὶ ἑτέρους ποιμένας καὶ διδασκάλους” (kai heterous poimenas kai didaskalous). Aqui está a chave: a conjunção καὶ (kai) geralmente significa “e”, mas o grego permite que ela seja usada de forma distributiva ou inclusiva. Ou seja, não necessariamente indica dois grupos distintos; pode muito bem indicar uma função única com duas dimensões.

Em termos práticos, isso significa que o “pastor” e o “mestre” não são dois dons separados, mas duas facetas de um mesmo dom que se manifesta na liderança espiritual do povo de Deus. O pastor cuida do rebanho, protege, guia e sustenta. O mestre, por sua vez, instrui, explica a Palavra, edifica, corrige e ensina o povo a viver segundo a vontade de Deus. Mas na prática do ministério, essas funções se entrelaçam: um verdadeiro pastor não pode cuidar sem ensinar; um verdadeiro mestre não pode ensinar sem cuidar.

O texto grego reforça isso pelo uso da palavra ἑτέρους (heterous), que significa “outros”, ou “uns outros”, e pelo kai entre “poimenas” e “didaskalous”. Paulo não está dizendo que há alguns pastores e outros mestres isolados; ele está descrevendo uma função pastoral completa: cuidar e ensinar ao mesmo tempo.

Essa leitura é reforçada pelo contexto imediato: Efésios 4:12 explica o propósito desses dons:

“para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo”.

O dom de pastor-mestre existe para preparar o povo de Deus, e para isso é necessário que quem o exerce tenha tanto a capacidade de cuidar com amor quanto a de ensinar com clareza e fidelidade. Não há espaço para separar as duas dimensões, porque a maturidade do corpo de Cristo depende de ambas.

Em resumo: o grego nos mostra que o chamado pastoral é unitário e multifacetado. Pastores e mestres não são grupos distintos; são dois aspectos do mesmo dom que Deus dá à igreja para que sua Palavra seja fielmente proclamada e praticada. Quem entende isso reconhece que exercer o ministério é cuidar do povo enquanto o ensina na verdade, e é exatamente essa visão que precisa ser recuperada em nossas igrejas brasileiras hoje.

A necessidade teológica

Diante de tudo que já analisamos, torna-se evidente que o pastor não pode prescindir de uma base teológica sólida. Não estou falando apenas de decorar versículos ou repetir frases bonitas — falo de entender profundamente o que a Bíblia ensina sobre Deus, sobre o ser humano e sobre a salvação, e de conseguir comunicar isso de forma clara e fiel à congregação. Alguns aspectos são absolutamente centrais: escatologia, soteriologia, e a própria definição teológica do pastor quanto a tradições como arminianismo ou calvinismo, pactualismo ou dispensacionalismo.

Por que isso é tão importante? Porque essas áreas da teologia moldam a maneira como o pastor interpreta a Palavra e aplica a fé na vida das pessoas. A escatologia, por exemplo, nos ajuda a orientar o povo em esperança, em perseverança e em discernimento do que virá; a soteriologia nos permite explicar a obra de Cristo na cruz e a relação do pecador com Deus de maneira sólida e não superficial. Se o pastor não tem clareza sobre esses pontos, sua pregação corre o risco de ser vaga, incoerente ou facilmente distorcida por interpretações populares ou modismos culturais.

Além disso, a definição teológica do próprio pastor é fundamental. Saber se você se alinha mais a uma perspectiva arminiana ou calvinista, pactualista ou dispensacionalista, não é um detalhe acadêmico: isso define como você entende a graça, a eleição, o pacto de Deus com seu povo, e como você orienta a vida e a fé de sua igreja. Um pastor que não tem essa clareza está navegando no escuro, e é terrível para a igreja quando ela não tem um norte teológico. Sem esse ponto de referência, a congregação se torna vulnerável a confusões doutrinárias, a interpretações superficiais da Bíblia e a práticas religiosas que podem até ser emocionantes, mas não edificam na fé nem levam à maturidade cristã.

Quando pastores negligenciam a teologia e não conseguem ensinar com segurança sobre Deus, sobre a salvação ou sobre os desígnios do Senhor, a igreja perde identidade. Ela deixa de ser comunidade de discípulos para se tornar apenas um grupo que compartilha sentimentos e experiências, sem entendimento profundo da Palavra. E, como sabemos, uma igreja sem direção teológica sólida facilmente se afasta da verdade, mesmo sem perceber, abrindo espaço para heresias sutis, distorções do evangelho e uma fé que não transforma de verdade.

Portanto, pastores, não podemos fugir desse desafio: devemos ser capazes de explicar e ensinar a teologia em suas dimensões fundamentais, definindo com clareza nossas convicções à luz das Escrituras. Ser pastor-teólogo não é luxo ou formalidade; é necessidade urgente para o bem da igreja, para a fidelidade ao evangelho e para o crescimento espiritual do povo de Deus.

Do púlpito para a sociedade

Além de dominar os fundamentos teológicos da fé — soteriologia, escatologia, cristologia e definição doutrinária —, o pastor tem a responsabilidade de dar respostas bíblicas a questões que atravessam a sociedade. Temas como feminismo, aborto, ética sexual, política, economia e cultura não são meros debates sociais; eles refletem visões de mundo que moldam comportamentos, valores e decisões. A igreja, e o povo de Deus em particular, precisa de orientação clara, baseada na Palavra de Deus, para discernir o que é certo e verdadeiro à luz do evangelho.

Quando falo em feminismo, por exemplo, não me refiro a debates ideológicos simplistas, mas à necessidade de apresentar a dignidade do homem e da mulher como criados à imagem de Deus, respeitando a diferença e a igualdade de valor diante de Deus. No aborto, o pastor deve declarar, com coragem e mansidão, o valor da vida humana desde a concepção, fundamentado nas Escrituras. Em política e cidadania, o pastor deve ajudar o povo a pensar sobre justiça, autoridade e responsabilidade social à luz de Romanos 13, sem cair no ativismo ou no sectarismo partidário, mas trazendo a perspectiva bíblica sobre como viver como sal e luz no mundo.

O pastor-teólogo não pode se omitir dessas discussões. Negar a necessidade de apresentar a cosmovisão bíblica é deixar a igreja sem bússola, vulnerável a ideologias passageiras e modismos culturais. Ao mesmo tempo, o pastor não fala apenas para a congregação. Efésios 4 nos lembra que o dom do pastor-mestre existe para edificar o corpo de Cristo, mas o ministério do pastor também tem dimensão pública. A sociedade em geral precisa ouvir de alguém que entende e pode explicar como a Palavra de Deus responde a grandes questões humanas e sociais, não de forma sectária, mas com clareza e autoridade.

Em outras palavras, o pastor é chamado a ser voz do evangelho em todos os contextos, apresentando a verdade de Deus tanto para os santos quanto para o mundo. Não é sobre impor uma visão, mas sobre apresentar a cosmovisão bíblica, mostrando que a fé cristã não é um sentimento particular ou privado, mas uma forma coerente e prática de compreender e viver o mundo. Uma igreja sem pastores capazes de falar sobre essas questões com segurança teológica e pastoral corre o risco de se perder em um mar de opiniões, modismos e pressões culturais.

Portanto, pastores, precisamos ser pastores-teólogos que conhecem, aplicam e comunicam a Palavra, capazes de cuidar do povo e ao mesmo tempo instruir a sociedade, sem medo, com amor, clareza e fidelidade à Escritura. Esse é o chamado urgente para a igreja brasileira hoje

Conclusão

Diante de tudo que vimos, fica claro que ser pastor-teólogo não é um detalhe ou luxo acadêmico — é uma exigência do próprio Senhor. Não podemos nos contentar com ministérios superficiais, com respostas prontas ou com posições vagas diante das grandes questões da vida e da sociedade. Somos chamados a ministrar a Palavra de Deus com fidelidade, clareza e autoridade, edificando o povo de Deus e proclamando a verdade ao mundo, mesmo quando isso contraria tendências culturais ou opiniões populares.

E, como nos lembra o apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 4:2: “Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel”. O Senhor não nos cobra sucesso segundo os padrões do mundo, nem prestígio, nem popularidade. Ele espera nos encontrar fieis à Palavra, fiéis à nossa vocação, fiéis em ensinar, pregar, aconselhar e guiar seu povo na verdade. Essa fidelidade é a medida de nosso ministério, e é a fidelidade que produz fruto duradouro na vida da igreja e na sociedade.

Portanto, pastores, nosso desafio é grande, mas nossa recompensa é certa: servir a Cristo com fidelidade, como mestres e pastores, apresentando a Palavra com clareza, coragem e convicção, confiando que o Senhor encontrará cada um de nós sendo fiel ao chamado que Ele confiou. Que possamos abraçar nossa vocação como teólogos públicos, conscientes de que nossa vida e ministério têm impacto eterno, não apenas na igreja, mas em toda a sociedade.


Referências:

O Pastor Como Teólogo Público – Kevin J. Vanhoozer e Owen Strachan – Editora Vida Nova

O Pastor como Mestre e o Mestre como Pastor – John Piper , D. A. Carson – Editora Fiel

toto slot

slot gacor

toto togel

judi bola online

Culto: da Adoração ao Entretenimento

“O culto não é para o homem, mas para Deus; não começa na criatividade humana, mas na revelação divina.”

Vivemos dias de profunda crise litúrgica. O culto cristão, que deveria ser a mais pura expressão de reverência, comunhão e proclamação, está sendo lentamente corroído por tendências pragmáticas, estéticas e mercadológicas. O entretenimento, com suas luzes, sons e dinâmicas cênicas, tem ocupado o espaço da adoração. E como bem observou A. W. Tozer: “O que nos atrai, é o que nos convence; e o que nos convence, é o que nos conquista.”

Esse processo não é novo, mas tem ganhado força em nossos dias com a secularização da espiritualidade. O culto, que deveria ser regido pelas Escrituras, tem se tornado um produto moldado pelos gostos do público. Como evidenciado no artigo A Influência do Entretenimento dentro da Estrutura Litúrgica dos Cultos Cristãos (Salgado & Maximo, 2024), a lógica do espetáculo substituiu a lógica da reverência. O culto virou evento, e o púlpito virou palco.

TEXTO BASE: Levítico 10.1-3

“Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre este, e trouxeram fogo estranho perante o Senhor, o que não lhes ordenara. Então saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor. Disse Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se chegam a mim, e serei glorificado diante de todo o povo. Arão, pois, calou-se.”

Este episódio dramático e solene nos apresenta uma das bases mais firmes para a doutrina conhecida como o Princípio Regulador do Culto. Segundo este princípio, somente aquilo que Deus expressamente ordenou em Sua Palavra deve ser praticado no culto público. Tudo o que Ele não ordenou deve ser excluído. Nadabe e Abiú pecaram não ao fazer algo que Deus proibira explicitamente, mas ao introduzirem no culto algo que Deus não havia ordenado. O resultado foi desastroso: foram consumidos pelo fogo divino.

“A igreja que entretém não é perseguida pelo mundo — ela é aplaudida por ele.”

A Centralidade do Culto na Vida da Igreja

Para os reformadores, o culto era a principal expressão da fé cristã. Lutero afirmava que a verdadeira igreja é aquela em que o evangelho é pregado e os sacramentos corretamente administrados. Calvino ia além, argumentando que o culto deveria ser inteiramente regulado pela Escritura, pois “Deus desaprova qualquer culto inventado pelo homem”. Calvino ainda afirmou:

“Uma vez que Deus não apenas nos prescreve o que devemos fazer, mas também nos ensina como devemos fazê-lo, é necessário que sigamos essa direção com reverência e obediência.” (João Calvino, Institutas, Livro 4, Capítulo 10).

O culto público não é mero encontro fraterno, tampouco um espaço de expressão artística ou entretenimento emocional. É, antes, o comparecimento do povo de Deus diante do seu Senhor, com temor e tremor, para adorá-lo em espírito e em verdade (Jo 4.23-24). A teologia reformada compreende o culto como uma resposta à iniciativa divina da redenção. É Deus quem chama, é Deus quem fala, é Deus quem edifica — e a nós cabe o papel de ouvintes obedientes e adoradores submissos.

“A Palavra preside o culto; a emoção responde, mas não dirige.”

O Princípio Regulador do Culto: Guardando a Pureza da Adoração

A Reforma Protestante do século XVI não foi apenas um movimento doutrinário, mas também uma revolução litúrgica. Um dos pilares dessa revolução foi o Princípio Regulador do Culto (PRC), que afirma que somente os elementos expressamente prescritos ou claramente inferidos nas Escrituras devem ser utilizados no culto público.

Esse princípio é diferente do Princípio Normativo do Culto, adotado pela Igreja Católica Romana e por algumas tradições protestantes, que permite tudo o que não é proibido pela Bíblia. O problema dessa abordagem é que ela abre espaço para inovações humanas, tradições inventadas, e práticas que, embora não condenadas diretamente, desviam o culto de sua finalidade bíblica e o tornam antropocêntrico.

O Princípio Regulador, por outro lado, reconhece que Deus é o único soberano sobre o culto. Como afirma a Confissão de Fé de Westminster (21.1):

“O modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo e, de modo tão limitado por Sua própria vontade revelada, que não se deve adorar a Deus conforme as imaginações e invenções dos homens […], sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Escrituras.”

A aplicação prática desse princípio significa que os elementos do culto devem se restringir à leitura das Escrituras, pregação fiel da Palavra, oração, cânticos bíblicos, administração dos sacramentos, confissão de pecados e bênção. Tudo mais — encenações, coreografias, luzes, fumaça, “palhaços gospel”, apresentações dramatizadas — por mais bem-intencionado que pareça, não possui respaldo escriturístico e, portanto, não deve ocupar o espaço sagrado do culto.

“O Princípio Regulador protege o culto da corrupção humana e preserva a glória de Deus.”

A Deturpação do Culto: Da Igreja Romana ao Evangelicalismo Pós-moderno

Historicamente, um dos grandes desvios contra os quais os reformadores lutaram foi a deturpação do culto cristão promovida pela Igreja Católica Romana. Esta adicionou ao culto elementos como o latim litúrgico (incompreensível ao povo), os sacramentos como meios mecânicos de graça, a adoração aos santos, as imagens, as relíquias, as velas, os sinos, os incensos, e, sobretudo, a centralização da Eucaristia como sacrifício renovado — algo frontalmente contrário à suficiência do sacrifício de Cristo (Hb 10.10-14).

Ao se afastar da Escritura como única regra de fé e prática, o catolicismo fez do culto um espetáculo ritualista, carregado de misticismo e práticas extrabíblicas. Foi por isso que os reformadores clamaram por uma reforma no culto, restabelecendo a simplicidade, inteligibilidade e centralidade da Palavra.

Infelizmente, o que hoje se vê em muitos contextos evangélicos é um retrocesso para formas similares: liturgias cheias de apelos sensoriais, com destaque ao visível e ao emocional, empobrecendo a instrução doutrinária e substituindo a exposição bíblica por “pregações-show”. O perigo atual é ainda mais sutil, pois não se apresenta como heresia dogmática, mas como um apelo à “relevância cultural” e ao “acesso às novas gerações”.

“A forma do culto revela sua teologia. Se formos frívolos na liturgia, seremos fracos na doutrina.”

As Consequências de Mudar o Culto

Ao modificar a forma do culto para torná-lo mais atrativo, corremos sérios riscos:

  1. Descentralização de Deus – O culto passa a ser centrado nas emoções humanas e não na glória divina.
  2. Degradação doutrinária – O tempo de exposição bíblica é encurtado ou eliminado em favor de atividades “mais leves”.
  3. Infantilização espiritual – Crentes são alimentados com leite emocional, não com o alimento sólido da Palavra (Hb 5.12-14).
  4. Perda da reverência – A solenidade e o senso de santidade são substituídos por barulho e descontração.
  5. Sincretismo litúrgico – Elementos mundanos são inseridos no culto sob o pretexto de “alcance cultural”.

O culto que deveria formar o crente, transforma-se em algo que apenas o agrada. A igreja que deveria confrontar o mundo, começa a imitá-lo.

“Quem molda o culto para agradar o homem, deixará de edificar o povo e de glorificar a Deus.”

Perigos contemporâneos

Infelizmente, mesmo em igrejas evangélicas, há um retorno perigoso à criatividade humana no culto: shows, performances, coreografias, teatralizações, fumaça, luzes, líderes que mais se assemelham a apresentadores de TV do que ministros do evangelho. A música, em vez de ser veículo da verdade bíblica, torna-se entretenimento emocional. Há igrejas que justificam tais práticas com a frase: “Se for para atrair as pessoas, vale a pena” — um pensamento pragmático e antibíblico.

Devemos lembrar que o culto não é para agradar os homens, mas a Deus. O apóstolo Paulo escreveu: “Pois, busco eu agora o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo” (Gálatas 1.10).

A música de fundo na pregação

Uma das práticas modernas que deve ser cuidadosamente rejeitada é o uso de música de fundo durante a exposição da Palavra de Deus. A pregação deve ser suficiente em si mesma para comunicar com clareza a verdade do evangelho. O apóstolo Paulo escreve em Romanos 10.17: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo” — e não pela ambientação musical. A música emocionalmente manipuladora pode distrair, distorcer ou diminuir o poder simples e direto da Palavra proclamada.

A Escritura é poderosa porque é inspirada por Deus (2 Timóteo 3.16). Ela não precisa de “ajuda” sensorial para convencer ou converter. Essa prática de fundo musical pode transformar o momento da pregação em uma apresentação teatral, e não em uma proclamação de fé consciente.

A Palavra de Deus não precisa de trilha sonora, precisa de exposição fiel.

A arquitetura voltada para o consumismo

Outro grave perigo está na transformação dos espaços de culto em ambientes voltados ao consumo, espelhando-se na estética de shoppings e centros de entretenimento. Palcos, praças de alimentação, cafés temáticos e decorações extravagantes têm substituído a simplicidade reverente que sempre caracterizou a verdadeira casa de oração.

Essa mudança reflete uma teologia antropocêntrica: a igreja é moldada para agradar ao visitante, não para glorificar a Deus. O templo deixa de ser o lugar da Palavra e da oração (Marcos 11.17) e torna-se um espaço de performance e consumo. As pessoas vêm para “experimentar sensações”, não para “oferecer culto racional” (Romanos 12.1).

Quando a igreja parece um shopping, o culto vira um produto e os adoradores, consumidores.

Um Clamor Pastoral por Reforma

Diante desse cenário, é urgente que as igrejas voltem à simplicidade e fidelidade do culto reformado. O culto deve ser regulado, não pelo gosto da congregação, mas pela voz do Pastor supremo da Igreja: Cristo. O púlpito deve ser o trono da Palavra, e o culto, um altar de entrega e adoração.

Como pastor, clamo por um retorno à reverência, à centralidade das Escrituras, à exposição fiel da Palavra, à doutrina sólida nos hinos e à participação consciente e bíblica dos crentes. Que o culto público seja, como Paulo exorta, “tudo feito com decência e ordem” (1Co 14.40), pois “Deus não é Deus de confusão, mas de paz” (1Co 14.33).

“Se queremos um avivamento verdadeiro, devemos começar reformando o culto.”

Conclusão

A forma como cultuamos revela quem cremos que Deus é. Se o culto for casual, frívolo e centrado no homem, o nosso conceito de Deus estará distorcido. Mas se o culto for reverente, bíblico e centrado em Cristo, mostraremos ao mundo que o nosso Deus é Santo, Justo e digno de toda adoração.

Voltemos ao altar. Saiamos do palco. Voltemos à Palavra. Saiamos das invenções. Voltemos ao Cristo glorificado. Saiamos da banalização. E então, nossos cultos serão, de fato, agradáveis ao Senhor e edificantes ao seu povo.

toto slot

slot gacor

toto togel

judi bola online

A morte de Charles James Kirk e o clamor contra o extremismo

A morte de Charles James Kirk não é apenas um acontecimento isolado, mas um espelho que reflete a doença espiritual e moral de nosso tempo. O extremismo, em suas diversas formas, tem sido combustível para ódio, violência e desumanização. Ele transforma adversários em inimigos, opiniões diferentes em guerras pessoais, e pessoas — criadas à imagem de Deus — em meros alvos a serem eliminados.

É possível — e até necessário — sermos adversários no campo das ideias. O debate saudável e construtivo é parte essencial de qualquer sociedade livre. Mas quando se ultrapassa a linha da civilidade e da ética, quando a discordância intelectual dá lugar ao desejo de morte, revela-se um coração dominado pelo ódio e não pelo amor. Como disse o apóstolo João: “Quem odeia seu irmão já é homicida” (1 João 3:15).

Triste exemplo disso foi ver artistas brasileiros e personalidades públicas celebrarem a morte de Charles James Kirk. O que há de glorioso na morte de alguém? Onde está a humanidade em rir, debochar ou festejar a tragédia alheia? Isso não é liberdade de expressão — é a falência moral de uma sociedade que perdeu a noção do sagrado da vida. A alegria pela morte de um ser humano denuncia o quanto estamos desumanizados e revela a necessidade urgente que temos de Cristo, Aquele que disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6).

Aos cristãos, fica o chamado: abandonem a ideologia como guia da vida. Não é a direita nem a esquerda, nem qualquer bandeira política que nos define, mas a cruz de Cristo. Nossas convicções devem brotar não de slogans partidários, mas das páginas das Sagradas Escrituras. Só nelas encontramos luz para discernir, sabedoria para decidir e graça para amar até mesmo quem discorda de nós. Como disse o apóstolo Paulo: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Romanos 12:2).

O extremismo é incapaz de construir uma sociedade justa, pois se alimenta da destruição do outro. O Evangelho, por sua vez, nos chama a amar até mesmo os inimigos, a orar pelos que nos perseguem e a proclamar que a vida é dom divino, jamais motivo de escárnio.

Diante disso, como pastor e como cristão, expresso minhas mais sinceras condolências à família de Charles James Kirk. Que o Deus de toda consolação (2 Coríntios 1:3-4) seja o refúgio em meio à dor, e que esta tragédia desperte em todos nós a consciência de que o mundo não precisa de mais ódio, mas de mais Cristo.

slot resmi

slot gacor hari ini

situs slot gacor

link gacor hari ini

situs gacor

slot gacor hari ini

toto slot

slot gacor

toto togel

judi bola online

O Brasil: beleza, liberdade e oração

O Brasil é um presente do Senhor. Nossa terra é vasta e cheia de riquezas naturais, mas o maior tesouro está em seu povo. Somos filhos de uma miscigenação que une raças, culturas, sotaques e tradições. Essa diversidade é reflexo da multiforme graça de Deus (1Pe 4:10). Assim como a visão celestial descrita por João em Apocalipse 7:9, onde povos e nações se unem diante do Cordeiro, o Brasil, em sua pluralidade, antecipa algo da beleza da eternidade.

Contudo, não podemos ignorar que a mesma nação que carrega tanta riqueza cultural enfrenta tensões profundas. Muitos que dizem defender a democracia, na prática, rejeitam a voz da maioria — especialmente quando essa maioria expressa valores cristãos. Ora, democracia não é apenas defender minorias, mas também respeitar a vontade coletiva. Se queremos ser fiéis à democracia, precisamos abraçar tanto a pluralidade quanto a escolha majoritária de um povo que, em sua grande parte, tem sua identidade marcada pela fé cristã.

Essa questão nos leva ao ensino bíblico de Romanos 13, onde Paulo nos lembra que “não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele instituídas”. Aqui não se trata de idolatrar governos, mas de reconhecer que Deus, em Sua soberania, dirige a história das nações. E se Ele permite que autoridades sejam constituídas, cabe a nós, como cidadãos do céu e da terra, respeitar as instituições, obedecer às leis justas e interceder pelos que governam (1Tm 2:1-2).

Mas o amor à pátria não é um valor estranho ao cristão. Pelo contrário, a Escritura nos ensina a buscar a paz da cidade onde estamos (Jr 29:7) e a desejar o bem de nossa nação. Nesse sentido, ressoa em nossos corações aquele verso marcante do Hino da Independência, escrito por Evaristo da Veiga:

“Ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil!”

Essas palavras, forjadas no contexto da luta pela independência, exalam a convicção de que a liberdade é preferível à servidão. O povo brasileiro já nasceu com a marca da bravura, desejando viver livre e digno. A verdadeira liberdade, contudo, só é encontrada em Cristo (Jo 8:36). Uma pátria pode ser livre politicamente, mas somente será plenamente livre quando seu povo for transformado pelo Evangelho.


Um chamado à oração pelo Brasil

O Brasil precisa de nossas orações. Devemos clamar para que Deus levante governantes que amem a justiça e não se dobrem à corrupção. Que a liberdade proclamada em nossa história não seja perdida em discursos vazios, mas se traduza em respeito mútuo e dignidade para todos. Que o Senhor mantenha viva em nossa nação a chama da fé cristã, que sempre iluminou nosso povo.

Oremos porque amamos o Brasil. Oremos porque sabemos que “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor” (Sl 33:12). Oremos porque entendemos que a verdadeira democracia se fortalece quando há respeito, liberdade e compromisso com a verdade.

E que, como cristãos, possamos reafirmar: não buscamos apenas uma pátria livre segundo os homens, mas ansiamos pela pátria celestial (Hb 11:16). Enquanto aqui vivemos, oramos e trabalhamos para que o Brasil seja cada vez mais um reflexo da justiça, da liberdade e da graça de Deus

slot resmi

slot gacor hari ini

situs slot gacor

link gacor hari ini

situs gacor

Por que um cristão não pode ser marxista?

Um cristão marxista faz tanto sentido quanto uma luz escura em um quadrado redondo. É mais que um paradoxo, é um absurdo. No entanto, em nossa era relativista, onde se busca conciliar o inconciliável, minha afirmação é que parece absurda. Mas não é. É a pura verdade.

Os que se espantam com essa afirmação provavelmente desconhecem não apenas a história do marxismo. Ignoram completamente seus próprios fundamentos, sua real natureza. Se os conhecessem com certeza saberiam que cristianismo e marxismo são tão incompatíveis quanto a luz e as trevas.

Um tempo atrás a incompatibilidade entre ambos era óbvia e este artigo seria desnecessário. Muitos ficariam chocados ao ver cristãos verdadeiros debruçados sobre textos de pensadores marxistas e tentando absorvê-los. Depois da queda do Muro de Berlim alguns acreditam que o marxismo se tornou inofensivo, como se o veneno não fosse mais mortífero somente porque um frasco se quebrou.

Qualquer teologia ou prática cristã que considere positivamente o marxismo devem ser totalmente desconsideradas. Pode-se fazer um paralelo com a crítica de Emil Brunner à Rudolf Bultmann, ambos teólogos alemães:

Heidegger é ateu confesso; ele não admite nenhuma revelação – não entende nenhuma, não necessita de nenhuma e não deixa margem para a existência de nenhuma. Ele [Heidegger] acha risível que Bultman esteja a ‘fazer teologia da minha filosofia’.
Da mesma forma é irônico um cristão aprovar ou justificar o marxismo, que dirá tentar fazer teologia com ele. Como Heidegger, Marx e Engels achariam essa atitude digna de riso. Ame seus inimigos, mas não os confunda com os amigos.
O próprio Emil Brunner, mesmo não sendo um teólogo conservador, conseguia enxergar a real natureza do marxismo e sua incompatibilidade com o cristianismo.

O comunismo demonstra ser ainda o mais tremendo opositor ideológico do cristianismo. O conceito de verdade não desempenha nenhum papel na ideologia comunista, e um poder totalitário qualquer poderá promover a liquidação da teologia.
Na verdade, os marxistas conscientes bem sabem da impossibilidade de conciliação com o cristianismo. Todavia, na busca pelo poder absoluto é preciso fazer concessões até o momento do bote. Uma vez no poder já não será mais necessário cortesias e contenções. A verdadeira natureza se revelará. Como na história do escorpião que atravessou o rio nas costas do sapo prometendo não feri-lo. O picou assim que chegaram do outro lado. Diante da contestação do sapo pela promessa feita, o escorpião disse que não podia evitar. Fazia parte de sua natureza. Quem conhece a natureza da ideologia marxista sabe muito bem que nenhuma promessa amistosa evitará a manifestação de sua natureza real que é plenamente anticristã.
Pensemos na afirmação de Hitler com relação à Igreja:

O fascismo pode, se quiser, concluir sua paz com a Igreja. Também eu o faria. E por que não? Isto não me impedirá de extirpar o cristianismo da Alemanha.

Nunca foi diferente com o comunismo. Falsas alianças com o cristianismo precederam a perseguição. Faz parte de sua natureza.

Como eu disse, há algumas décadas esse artigo seria totalmente desnecessário. Quem leu Torturado por amor a Cristo, do pastor romeno Richard Wurbrandt ou O contrabandista de Deus, do irmão André, sabia o que era o comunismo. Contra toda esperança, do cubano Armando Valadares, livro que denunciava a tirania do governo Castro deixou de circular, enquanto o mesmo governo, com todo seu totalitarismo marxista continua de pé. Naqueles tempos, o mais simples cristão sabia que o marxismo-socialismo-comunismo era do mal e completo inimigo do cristianismo. Isso foi em outras épocas. Agora tudo mudou. Hoje este artigo tornou-se urgente. Os marxistas já estão quase terminando de atravessar o rio nas costas dos cristãos e muito em breve o bote certeiro virá.

Aqueles que procuram aceitar o marxismo alegando que ele contém “elementos cristãos” (como a crítica à injustiça social, por exemplo) deveriam então abraçar o islamismo uma vez que este confirma certas crenças bíblicas (como a ressurreição, por exemplo). No entanto, é tão impossível conciliar marxismo com o cristianismo quanto igualar um cristão verdadeiro e um muçulmano. Nenhum ecumenismo ingênuo pode fazê-los amigos, nenhum malabarismo teológico ou filosófico pode torná-los semelhantes em qualquer sentido.

Cristão marxista? Tão real quanto um fogo gelado emanando de uma luz escura.


Autor: Eguinaldo Hélio Souza

slot gacor hari ini

slot gacor

kampungbet

kampungbet

O cristão e o voto

É possível alinhar a ideologia de esquerda com a doutrina social da igreja na perspectiva reformada?

Levanto aqui apenas algumas questões para o cristão tentar responder antes de adotar um discurso de defesa das ideologias políticas.

Mercado e sua regulamentação

Todas  as sociedades modernas concordam que precisamos de algumas leis a fim de evitar a fraude e a injustiça nas transações comerciais. Por exemplo, o governo deve impor o cumprimento de contratos e também determinar alguns padrões de higiene e de segurança na venda de medicamentos, alimentos e outros produtos. O governo deve impor normas de saúde e higiene em restaurantes e controlar o uso de pesos e medidas. O governo também têm autoridade genuína para coletar impostos visando o cumprimento de suas funções. Paulo diz que, pelo fato de a autoridade civil ser “serva de Deu para o teu bem” (Rm 13:4), “pagais impostos; porque [os governantes] são servos de Deus, para atenderem a isso. Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo…” (Rm 13:6,7). Os governos têm o direito moral de cobrar impostos para suas funções legítimas: recompensar o bem e punir o mal e estabelecer a ordem na sociedade, pois Pedro diz que os governadores são enviados “para punir os praticantes do mal e honrar os que fazem o bem” (1Pe 2:14).

No entanto o estado têm, com muita frequência ido muito além dessas funções legítimas. Qual é o limite do Estado?

Vamos verificar alguns pontos sobre o limite do estado e suas funções numa perspectiva bíblica.

  1. O ensino bíblico sobre o papel do estado dá apoio ao livre mercado, não se encontra na bíblia nenhuma ideia de o estado ter direito de tomar a propriedade ou o controle de empresas particulares. A função do estado é punir o mal, recompensar os que fazem o bem (1 Pe 2:13-14) e impor ordem na sociedade. Não creio que o propósito de Deus seja que o estado possua os bens ou as empresas de uma nação. O estado não consegue administrar sequer áreas exclusivas a ele, como evitar fraudes, como pode administrar empresas? (no Brasil temos o exemplo recente da Petrobras).
  2. A bíblia adverte contra o governante que usa seu poder para tomar o que pertence legitimamente ao povo, incluindo seus campos e vinhas (1 Sm 8:10-18). Hoje em nosso país há uma ideia da esquerda que o governo pode simplesmente tomar e distribuir terras.
  3. O ensinamento da bíblia sobre a proteção da propriedade privada indica que a propriedade pertence legitimamente a pessoas, e não ao governo, empresas são uma forma de propriedade (Êx 20:15; Lv 25:10; 1Rs 21:1-29; At5:4).
  4. A ênfase da bíblia no valor da liberdade humana (Êx 20:2; Is 61:1; 1Co 7:21; Gl 5:1) também favorece um sistema de livre mercado que permite às pessoas escolher onde trabalhar, o que comprar , como administrar uma empresa e como gastar seu dinheiro. Uma economia controlada pelo governo, o governo toma as decisões pelas pessoas.
  5. A história mostra repetidas vezes que o livre mercado traz melhores resultados do que uma economia controlada pelo estado.

Desigualdade econômica

A bíblia não pressupõe que os ricos conquistaram sua riqueza por algum meio desonesto. Também não há sugestão alguma de que o estado têm o direito de tomar o dinheiro de pessoas ricas simplesmente porque são ricas.

A ênfase das escrituras está em tratar tantos ricos quanto pobres com equidade e justiça (Êx 23:3,6). Se cometerem erros, devem ser punidos, mas se não cometerem, não devem ser punidos (Pv 17:26; 1Rs2:14). No entanto a riqueza ou a pobreza em si só não indica com precisão o caráter da conduta de alguém na sociedade. Rotular todos os ricos como sendo maus ou provavelmente maus ou pressupor que se tornaram ricos de forma desonesta são atitudes injustas e contrárias ao ensino bíblico.

O que dizer da atitude que afirma que o dinheiro dos ricos deve ser tomado, pois não fará falta pra eles ou porque essa ação não vai prejudicá-los? O ensinamento bíblico é: Não roubarás (Êx 20:15). Não é correto roubar dos pobres nem é correto roubar dos ricos.

Mas será que o estado deve tentar equiparar a quantidade de rendimentos ou bens das pessoas ou realizar ações que caminhem na direção da igualdade?

Existe uma real necessidade de programas sociais apoiados pelo estado para ajudar casos de urgente necessidade. Também é necessário que o estado forneça financiamento suficiente para que todos possam obter habilidades e formação adequadas para que obter o que necessitam. Portanto, no que diz respeito a algumas necessidades básicas da vida (alimentação, vestuário, moradia, ensino, saúde e segurança), é correto o estado “tomar de todos e dar aos pobres”. Isso é apoiado pelo ensino bíblico de que a autoridade civil é serva de Deus para o o bem (Rm 13:4). Certamente buscar o “bem” da sociedade inclui cuidar para que ninguém sofra com a ausência de necessidades básicas como alimentação, vestuário, moradia, ensino, saúde e segurança como também não tenha ausência das habilidades necessárias para prover o próprio sustento. Essa ajuda pode ser dada com recursos de receitas fiscais gerais. No entanto, observe que essas convicções se baseiam no objetivo do governo  de promover o bem-estar geral da sociedade e não em ideia vaga sobre o pressuposto de justiça em reduzir as diferenças entre ricos e pobres.

Além dessas exigências básicas, não encontramos qualquer justificativa para pensar que o governo, como parte da política publica, deva tirar dos ricos para dar aos pobres. Alias, quando em uma sociedade, prejuízos significativos  são causados à economia é causado à sociedade.

De fato, há vezes em que as pessoas são pobres em consequência da opressão ou da injustiça que sofrem ou por causa de uma tragédia ou um infortúnio pessoal. Nesses casos tanto a igreja quanto o governo devem auxiliar essas pessoas, e o governo deve punir a injustiça.

No entanto, com exceção da injustiça e das tragédias pessoais, em uma sociedade livre em que não corre nenhum confisco de bens pelo governo, a quantidade de dinheiro que as pessoas ganham ainda varia muito, porque elas têm habilidades diferentes, interesses diferentes e níveis distintos de ambição econômica. Portanto, se as pessoas estivessem livres da intervenção governamental, algumas se tornarão muito ricas, outras terão uma renda satisfatória e alguns permanecerão relativamente pobres. Se o sistema econômico for relativamente livre, isso de fatos acontecerá. Para termos uma ideia de Brasil quando o assunto é liberdade econômica, O Brasil ocupa a posição 153 (o ranking vai até a posição 180) no Ranking de Liberdade Econômica segundo o site www.heritage.org/index/ranking.

Tente imaginar que por meio de algum tipo de experimento social, todas as pessoas de uma sociedade recebessem inicialmente cem mil Reais em dinheiro, depois de poucas semanas alguns teriam gastado tudo, outros teriam poupado a maior parte e alguns teriam investido grande parte em atividades que geram mais renda. Depois de alguns meses haveria novamente desigualdade significativa. Isso é inevitável enquanto as pessoas puderem ser livres.

Então, como um governo pode obrigar as pessoas a ter quantias iguais de bens? Somente por meio da redistribuição constante de dinheiro, tomando daqueles que foram econômicos e produtivos e dando a muitas outras pessoas, incluindo àquelas que têm sido improdutivas ou têm desperdiçado seu dinheiro. Em outras palavras, a suposta redistribuição de bens que os partidos socialistas querem implantar no Brasil, não pode ser mantida se não penalizar continuamente os bons hábitos e ao mesmo tempo recompensar os maus hábitos. Quanto mais tempo essa política fosse mantida, mais a sociedade cairia em uma espiral de pobreza e desespero. Esse tem sido o resultado inevitável das sociedades comunistas e/ou socialistas.

Isso ocorre da mesma forma, mas em grau menor em situações nas quais a intenção do governo não é equipara os bens, mas as diferenças nos níveis de renda de uma população, isso ocorre sempre mediante sérias restrições à liberdade humana e também prende a maior parte da nação na “igualdade” da pobreza.

Nas chamadas sociedade “igualitárias”, mesmo que as pessoas sejam iguais nos bens de valor econômico, inevitavelmente serão desiguais em relação ao poder político e aos privilégios dados pelo governo. Se a desigualdade econômica é removida, é simplesmente substituída pela desigualdade de privilégios e de grandes benefícios que provêm do poder político elevado. O papel do governo não deve ser equiparar a renda ou os bens das pessoas em uma sociedade.

É correto ajudar os pobres, pois vários versículos das Escrituras ordenam que se faça isso (Rm 15:25,26; Gl 2:10; 1Jo 3:17). No entanto, temos de lembrar que o financiamento de programas de bem-estar social que atendam a necessidades de curto prazo nunca serão uma solução de longo prazo para a pobreza. Se o financiamento de programas sociais se torna a única solução para a pobreza, ele simplesmente tem de ser repetido constantemente, e os beneficiários continuam pobres. A única solução em longo prazo para a pobreza vem quando as pessoas têm habilidades suficientes e disciplina para obter e manter empregos economicamente produtivos.

O governo em si não tem condições de oferecer às pessoas empregos economicamente produtivos (com exceção de alguns empregos bancados com recursos públicos, como os serviços públicos). De longe, o maior número de empregos economicamente produtivos (empregos que contribuem de fato com algo novo de valor para a sociedade) é encontrado no setor privado. Todo negócio bem-sucedido dá Às pessoas empregos economicamente produtivos pelos quais são pagas e, dessa forma, agrega valor à sociedade. A pessoa pobre que trabalha nesse emprego é paga de acordo com o valor agregado e assim começa a sair da pobreza.

Isso deve ocorrer porque Deus deseja que as pessoas sejam economicamente produtivas. Antes de existir qualquer pecado ou mal no mundo, Deus colocou Adão no jardim do Éden “para que […] o cultivasse e guardasse” (Gn 2:15) – trabalho produtivo é parte essencial da forma que Deus nos criou como seres humanos. Por isso,  ao menos em parte, fornece um incentivo ao trabalho regular (Pv 16:26).

Portanto, para aqueles que desejam ajudar os pobres e vencer o problema da pobreza, o seu objetivo principal não deve ser aumentar as benesses do governo, mas oferecer incentivos e condições adequadas para que empresas particulares cresçam e prospere e, consequentemente, criem empregos que serão a única solução em longo prazo para a pobreza e a única maneira de os pobres adquirirem a dignidade e o autorrespeito que são resultado de se sustentarem.

Desse modo, os governos devem incentivar o desenvolvimento e o lucro das empresas. Esse incentivo envolveria um livre mercado, com um sistema funcional de preços para orientar a distribuição de recursos, um sistema monetário estável, a punição efetiva de crimes, a a imposição do cumprimento de contratos e leis de patente e de direitos autorais e, também, a proteção da propriedade privada. Também incluiria um sistema judicial justo, níveis de taxação relativamente baixos, um sistema eficaz de ensino e um sistema bancário confiável. Quando governos implementam esses fatores, as empresas podem crescer, prosperar e criar empregos que por si só tirarão permanentemente as pessoas da pobreza.

Soli Deo gloria

slot gacor hari ini

slot gacor

kampungbet

kampungbet

Jesus e os pobres, nenhuma semelhança com o socialismo

Hoje a pobreza é quase tão comum quanto as doenças. Na época do ministério terreno de Jesus, essa realidade era muito mais forte. Nos Evangelhos, Jesus curava com muita frequência, principalmente os pobres. Contudo, mesmo encontrando multidões de pobres diariamente, ele só os alimentou em duas ocasiões específicas, não porque simplesmente eles eram pobres, porém porque nessas ocasiões as multidões vieram ouvir o Evangelho cedo de manhã e permaneceram com ele três dias inteiros ouvindo o Evangelho. As multidões passaram tanto tempo ouvindo a Palavra de Deus dos lábios de Jesus que ficou muito tarde, quase de noite, no terceiro dia para voltarem e se alimentarem, pois o lugar em que estavam era deserto e distante, longe de casas e lugares onde poderiam encontrar alimento.

Não há a menor dúvida de que se os adeptos do Evangelho social estivessem no lugar de Jesus, eles alimentariam os pobres já no primeiro dia e todos os dias, ou então utilizariam a maior parte de seu tempo não para proclamar e demonstrar o Evangelho do Reino de Deus, mas para pressionar as autoridades para cobrarem mais impostos para ajudar os pobres.

O Evangelho social dos evangélicos progressistas (ou esquerdistas, petistas, comunistas, socialistas, adeptos da teologia da libertação ou qualquer outro rótulo que eles utilizem) é tão convidativo quanto a visitação de um anjo de luz trazendo um evangelho cheio de propostas interessantes para os pobres. Mas assim como nem tudo que reluz é ouro, nem tudo o que tem aparência angelical é de Deus.

Tal qual os evangélicos progressistas, a igreja primitiva tinha também uma preocupação obsessiva de ajudar todos os pobres da sociedade? A igreja primitiva tinha como principal missão pressionar o governo para “ajudar” todos os pobres? Não. A igreja primitiva não só não ajudava todos os pobres da sociedade, como também era extremamente seletiva na assistência aos pobres que estavam em seu meio.

Quando a nação de Israel estava passando por uma crise geral de fome, Paulo mobilizou as igrejas de outros países para ajudar — não os pobres em geral da nação de Israel, mas somente as igrejas, que também estavam passando necessidade. E mesmo nas igrejas, a ajuda não era dada a qualquer pessoa.

A ajuda de Paulo era distribuída dentro das igrejas judias. E qual era o padrão que Paulo utilizava para ajudar quem era da igreja? Uma boa pista de como Paulo e as igrejas procediam na assistência aos pobres encontra-se no texto em que Paulo trata da questão das viúvas pobres nas igrejas. De acordo com Paulo, essas viúvas pobres só poderiam receber assistência material da igreja se tivessem demonstrado bom testemunho durante sua vida. Paulo recomenda a Timóteo, um dos pastores sob sua liderança:

“Cuide das viúvas que não tenham ninguém para ajudá-las. Mas, se alguma viúva tem filhos ou netos, são eles que devem primeiro aprender a cumprir os seus deveres religiosos, cuidando da sua própria família. Assim eles pagarão o que receberam dos seus pais e avós, pois Deus gosta disso. A verdadeira viúva, aquela que não tem ninguém para cuidar dela, põe a sua esperança em Deus e ora, de dia e de noite, pedindo a ajuda dele. Porém a viúva que se entrega ao prazer está morta em vida. Timóteo, mande que as viúvas façam o que eu aconselho para que ninguém possa culpá-las de nada. Porém aquele que não cuida dos seus parentes, especialmente dos da sua própria família, negou a fé e é pior do que os que não crêem. Coloque na lista das viúvas somente a que tiver mais de sessenta anos e que tiver casado uma vez só. Ela deve ser conhecida como uma mulher que sempre praticou boas ações, criou bem os filhos, hospedou pessoas na sua casa, prestou serviços humildes aos que pertencem ao povo de Deus, ajudou os necessitados, enfim, fez todo tipo de coisas boas.” (1 Timóteo 5:3-10 NTLH, o destaque é meu.)

Contudo, os evangélicos progressistas têm ambições muito mais elevadas para “ajudar” as viúvas e outros necessitados. Eles não querem simplesmente que as igrejas ajudem todos os pobres. Eles querem que o governo faça isso. Na proposta deles, os nossos recursos, através de impostos, seriam redistribuídos pelo governo para atender às necessidades dos pobres, quer esses necessitados mereçam ou não. Se não é justo quem trabalhou não receber o que merece, também não é justo o imposto do trabalhador se escoar na assistência a pobres que vivem na imoralidade ou outros tipos de perversão. Afinal, ao contrário das pregações “proféticas” dos progressistas, a corrupção, o mal, a imoralidade e a perversão não são qualidades exclusivas dos ricos.

A Bíblia é bem clara que todos são pecadores: ricos e pobres, pretos e brancos, etc. A Bíblia também é bem clara na orientação para a igreja de quem dos necessitados merece a assistência da igreja. A igreja tem o chamado de ajudar, sob a direção da Palavra de Deus, e tem o chamado igual de fazer uma triagem de quem merece e não merece ajuda. Só os pobres moralmente aptos são qualificados. Tal norma não era legalismo, mas medida prudente. Seu autor, o apóstolo Paulo, era um ardente combatente contra o legalismo, sempre condenando-o. Assim, quem tentasse julgar essa triagem necessária como legalismo estaria apenas fazendo julgamento precipitado e cruel da preciosa direção de Paulo à igreja em suas responsabilidades para com os necessitados.

Precisamos então aprender com Jesus a ter como principal preocupação levar os Evangelho aos pobres. E precisamos aprender com Paulo a ajudar os pobres com amor e prudência. É claro que essa tarefa só pode ser melhor realizada pela igreja. Por mais boa vontade que o governo tenha em cumprir tudo o que os progressistas desejam, a fria máquina governamental jamais saberia aplicar os princípios bíblicos, pois não pode substituir nem a Deus nem a igreja, embora lute incansavelmente para ocupar ambas as posições.


Autor: Júlio Severo

Homossexualidade na bíblia

MALAKOI E ARSENOKOITAI

Recentemente levei à igreja um estudo intitulado “O que a bíblia ensina sobre homossexualidade?” e dentro do contexto que estudávamos essas palavras foram e são necessárias para uma compreensão real sobre o assunto.

Malakoi e arsenokoitai, podem ser encontradas em duas passagens diferentes do Novo Testamento.

Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais (μαλακος malakos e αρσενοκοιτης arsenokoites) passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. (1 Coríntios 6:9,10 – NVI)

Sabemos que a lei é boa, se alguém a usa de maneira adequada. Também sabemos que ela não é feita para os justos, mas para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreverentes, para os que matam pai e mãe, para os homicidas, para os que praticam imoralidade sexual e os homossexuais (αρσενοκοιτης arsenokoites), para os seqüestradores, para os mentirosos e os que juram falsamente; e para todo aquele que se opõe à sã doutrina. (1 Timóteo 1:8-10 – NVI)

Quase todas as versões da bíblia ligam explicitamente arsenokoitai ao comportamento homossexual. A outra palavra em questão, malakoi, já não tem a mesma uniformidade, mas ao analisarmos o original grego e as principais traduções , podemos observar que ela se refere a algum tipo de pecado relacionado à homossexualidade.

Antes porem de entrarmos diretamente no assunto em questão, é necessário considerarmos algumas questões relacionadas à definições de palavras bíblicas.

  1. As versões bíblicas estão geralmente certas, em especial quando dizem, em essência, a mesma coisa. Pense nisso: cada versão da bíblia foi elaborada por uma equipe de estudiosos com especialização em erudição bíblica e nas línguas originais. Isso não significa que eles não cometem erros ou que não podem aprender coisas novas, que ignoraram. Mas significa que, depois de ler algum comentários e/ou examinar algum artigo na internet, você não conhecerá o mundo antigo ou o grego koinê melhor que eles conheciam. Nossas traduções da bíblia, por mais imperfeitas que possam ser, são traduções fieis e confiáveis das línguas originais. Não precisamos de decodificação.
  2. As palavras têm um campo semântico. Isto é uma maneira sofisticada de dizer que as palavras nem sempre significam exatamente a mesma coisa. Usando um exemplo da bíblia, pense na palavra mundo. Essa palavra pode se referir ao caminho caído da humanidade que não devemos amar (1 João 2:15-17), ou à raça humana caída que Deus amou tanto (João 3:16). Ao determinar o que as palavras específicas significam na bíblia, pode ser proveitoso ver  a mesma palavra usada em outro texto grego. Mas precisamos ser cuidadosos. Os exemplos que achamos são frequentemente de autores diferentes, que escreveram de lugares e para pessoas diferentes e viveram em séculos diferentes. Ver como uma palavra discutida foi usada no mundo antigo nos coloca no território das definições, mas raramente estudos de palavras serão decisivos, em especial se tivermos de ir muito longe do texto. Então, como saberemos o que as palavras significam?
  3. O contexto é o segredo. O passo mais importante para definir palavras difíceis é ver como elas são usadas no fluxo do texto. Que outras palavras estão ao seu redor? Que argumento o autor está tentando formular? Como ele usa a palavra em outros lugares do mesmo texto? A palavra é usada em outro texto pelo mesmo autor? O significado lexical é melhor determinado por olharmos os círculos concêntricos que começam pequenos e se movem para fora. Platão, um filosofo grego que viveu 400 anos antes de Paulo, não é tão relevante para entendermos Paulo quanto Filo, um filosofo judeu quase contemporâneo de Paulo. E pesquisar a obra de Filo não é quase tão crucial quanto entender a formação cultural de Paulo, examinar as sentenças de Paulo e traçar os argumentos de Paulo.

Mas o que realmente essas duas palavras significam?

Arsenokoitai

Na literatura grega existente, não há exemplos de arsenokoitai anterior ao uso que Paulo fez desse termo em 1 Coríntios e 1 Timóteo. A palavra é composta de homem (arsên) e cama (koitê) e poderia ser traduzida, literalmente, por “deitadores de homens na cama” ou “aqueles que levam machos para a cama“. Muito provavelmente Paulo cunhou a palavra a partir das proibições contra o comportamento homossexual em Levítico 18 e 20. Lembre da formação cultural de Paulo: ele era um judeu, da tribo de Benjamim, instruído pelo famoso Gamaliel e educado de acordo com a forma mais rígida da lei de seus pais (Atos 2:23; Filipenses 3:5-6). Paulo conhecia as Escritura muito melhor do que conhecia quaisquer outros escritos. Se as peças de Shakespeare estão permeadas de alusões e imagens bíblicas, o que dizer dos escritos e pensamentos de  Paulo – um fariseu treinado impecavelmente e o eminente teólogo da igreja primitiva?

Não é necessário que você seja um erudito em grego para ver como Paulo obteve de Levítico a palavra arsenokoitai. Essa palavra é quase certamente extraída do código de santidade de Levítico. É claro que em 1 Timóteo 1:9-10 Paulo, ao falar de arsenokoitai, estava pensando de modo amplo sobre os pecados proibidos pelo decálogo: “parricida e matricida” (quinto mandamento), “homicida” (sexto mandamento), “raptores de homens”  (oitavo mandamento), “mentirosos, perjuros” (nono mandamento). Nenhum judeu pensava que os Dez mandamentos permitiam a intimidade sexual homossexual, por isso nenhum deles ficaria surpreso em ver o comportamento homossexual – ou adultério, ou fornicação, ou prostituição, ou incesto, ou bestialidade, ou qualquer outra atividade sexual fora do casamento – incluído numa lista de pecados escrita pelo apóstolo Paulo.

Se Paulo queria chocar Timóteo, desconcertar seus amigos judeus e destruir a moral prevalecente na igreja primitiva, por admitir relações homossexuais consensuais, ele teria usado uma maneira obscura de introduzir essa mudança radical. Por que não usou a palavra paiderastes (pederastas, homens adultos que fazem sexo com rapazes), se isso era tudo que ele tinha em mente? De modo semelhante, se Paulo queria apenas seus leitores soubessem que ele estava se referindo apenas a formas abusivas de homossexualidade, não teria cunhado um termo a partir de uma porção da lei de Moisés em que todo sexo que envolve homem com homem é proibido. Paulo se opunha apenas a formas abusivas de incestos em 1 Coríntios 5? Na segunda metade de 1 Coríntios 6, ele estava dizendo para fugirem apenas das formas abusivas de adultério, fornicação e prostituição? Devemos supor realmente que Paulo = logo depois de ordenar a excomunhão por causa de pecado sexual (5:4-5,13), de fazer referencia à lei de Moisés (6:9) e antes de amparar a sua ética sexual na história da criação de Gênesis – queria dizer: “Obviamente, não estou falando em dois homens adultos que estão num relacionamento de longa duração”? E, se ele tencionava transmitir essa mensagem aos coríntios ou a Timóteo, como isso teria sido óbvio para eles?

Com base na etimologia da palavra e de suas raízes em Levítico, podemos ficar certos de que arsenokoitai carrega o significado básico “homens que fazem sexo com outros homens”. Sodomitas não é uma boa tradução, porque não há nada em 1 Coríntios ou em 1 Timóteo que ligue arsenokoitai com a história de Sodoma e Gomorra. De modo semelhante, “homossexuais” não deixa suficientemente claro se estamos falando de todos que experimentam atração homossexual ou daqueles que se identificam como gay ou algo mais. As melhores traduções comunicam a noção de atividade; arsenokoitai se refere a homens engajados em comportamento homossexual. É torpeza que  Paulo descreve em Romanos1:27 como sendo cometida arsenes en arsesin (homens em homens). Esta é a razão porque as antigas traduções do Novo Testamento traduzem arsenokoitai como “homens que se deitam com homens” (Latina), “aqueles que se deitam com homens”(Siríaca) e “deitando-se com homens” (Copta).

Malakoi

O léxico padrão do Novo Testamento lista duas definições: “ser maleável ao toque” e “ser passivo em uma relação homossexual”. A palavra pode significar delicado, como em roupas finas ( Mateus 11:8; Lucas 7:25) ou efeminado, como em homens que são penetrados (como uma mulher seria) por outros homens.

Paulo poderia estar usando a palavra de maneira mais ampla para se referir a homens que haviam se tornado imensamente femininos em aparência ou comportamento? É possível que isso seja parte do que Paulo tencionava dizer ao usar malakoi, mas é impossível que seja tudo que Paulo queria dizer. Paulo considerava uma desgraça o homem tem cabelo semelhante ao de mulher (1 Coríntio 11:14), mas nunca sugeriu que estilos de cabelo traziam risco à posição eterna  diante de Deus. Seria estranho – e intolerável para a maioria dos cristãos do lado revisionista – pensar que Paulo estava excluindo do reino de Deus homens que tinham anseio por roupas finas e comédias romântica; malakoi deve se referir a algo muito mais sério.

A lista de pecados, em 1 Coríntios 6, foi elaborada especificamente para os coríntios. Nos capítulos 5 e 6, há uma série de erros (“nem impuros [sexualmente imorais], nem idólatras [que podem incluir noções de pecados sexuais], nem adúlteros, nem malakoi, nem arsenokoitai ” [6:9]) relacionado aos problemas de pecado sexual na igreja. Depois, há mais cinco pecados (“nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores” [6:10]) relacionados aos problemas da igreja referente à Ceia do Senhor, no capítulo 11. Espremida entre adúlteros (moichoi) e homens que praticam a homossexualidade (arsenokoitai), malakoi deve se referir a algum tipo de intimidade sexual imoral, não apenas a um padrão efeminado de maneira de falar, de comportamento ou de paixões.

Este entendimento de malakoi e arsenokoitai se harmoniza com o consenso das traduções modernas da bíblia, se harmoniza com a ética vétero-testamentario, se harmoniza com o treinamento que Paulo teria recebido de um erudito judeu e, acima de tudo, se harmoniza com contexto do argumento de  Paulo. É como se 1 Coríntios 6 estivesse dizendo: “Não vos enganeis: os sexualmente imorais não herdarão o reino de Deus, e isto inclui aqueles que fazem sexo como parte de um ritual pagão, aqueles que fazem sexo com alguém que não seja sua esposa, homens que fazem papel passivo na atividade homossexual e – em concordância com a proibição geral que se acha na Torá – qualquer macho que faz sexo com outro macho”. As palavras debatidas não são tão amplas que chegam a incluir comportamento heterossexual efeminado ou tão restritas que excluem tudo, exceto comportamento homossexual abusivo. Ambos os termos se referem a homens que fazem sexo com outros homens, os parceiros ativos e os passivos. Paulo está dizendo o que achamos difícil de ouvir, mas que o resto da bíblia apoia e a maior parte da história da igreja tem admitido: a atividade homossexual não é uma bênção a ser celebrada a solenizada, e sim um pecado que precisa de arrependimento, perdão e abandono.

Glória somente a Deus

Porque não sou de esquerda!

Em 1989 eu ainda um “menino“, cursava a 6ª série do ensino fundamental, inocentemente fiz um comentário sobre o então candidato a presidência da republica, Lula, iniciou ali uma “conversa” com a professora Eg. (chamarei apenas pelas iniciais) que durou longos dias, ela foi dizendo-me como era a ideia da esquerda e como essa ideia era superior as demais e como terrível era não pensar e ser de esquerda. Não sei se meus amigos Daniel, Marilza, Ronaldo, entre outros, também foram “conversar” com essa professora, mas eu, antes da eleição eu havia tornando-me de esquerda, lá se vão 30 anos, hoje alguns desse amigos e até meu primo me pergunta porque não sou de esquerda, como se não sê-lo fosse algum tipo de aberração.

Por que não sou de esquerda? 

Antes de mais nada, lembro-me de Olavo de Carvalho que diz que: “Eles não são capazes de ler outra coisa além de escritos Marxista“, por isso nunca mudam o pensamento. Quando no seminário me deparei com ensinos de Calvino sobre política comecei a levantar dúvidas sobre a supremacia intelectual da esquerda, foi a partir de outras leituras que me libertei do pensamento marxista.

Aqui não pretendo falar sobre a esquerda, pois já o fiz em outros posts, aqui apenas expresso os motivos porque não sou de esquerda, embora duvide que os esquerdistas entendam.

Direto o ponto

Diante do problema do mal, experimentamos a urgência de uma solução. Para quem crê, Jesus satisfez essa urgência: inocente, sacrificou-se por nós. Assim, o cristão fiel declara com tranquilidade que o mal está em si, confiando em Cristo para a redenção. Porém, para quem não crê, o problema do mal resta irresolvido e a solução será sempre externa. Este é o “mecanismo do bode expiatório”, segundo René Girard: fazer com que alguém encarne o mal e eliminá-lo, gerando sacrifícios sem fim (enquanto a Bíblia enfatiza: o sacrifício de Jesus é eterno).

Isso se verifica facilmente entre nós, ocidentais, quando lembramos os assassinatos em massa do século 20. Judeus, ciganos, cristãos dissidentes e povos não alemães foram os bodes expiatórios da Alemanha hitlerista: quarenta milhões de mortos. Da mesma forma, nos países comunistas o vago conceito de “classe dominante” tem justificado a condenação à morte de mais de cem milhões. Trata-se um ciclo diabólico, pois não há sacrifícios que cheguem para a sanha dos que pensam combater o mal dessa maneira. Assim, a violência aumenta na mesma proporção do secularismo.

A equiparação entre comunismo e nazismo não é novidade. No entanto, de certo modo o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães era melhor nisso: mentia menos. Seus membros não escondiam o desejo de conquistar o mundo; já o socialismo oculta seu projeto de poder total sob a compaixão pelos pobres e a promessa de um futuro glorioso. O autointitulado “protetor dos oprimidos”, ao tornar-se chefe da nação, passa a valer-se de sua anterior (e farsesca) posição de “oprimido” para solapar resistências e positivar desmandos. E o povo, além de mais empobrecido, fica definitivamente sem voz. Na Rússia, na China e no Camboja a arbitrariedade apenas mudou de mãos, tornando-se voraz como nunca; em Cuba, uma favela carioca pareceria condomínio de luxo na parte não turística da ilha; na Venezuela, Chávez diz “eu sou o povo” para justificar a progressiva supressão da democracia.

Hoje não há cristãos nazistas (espero!), mas há uma miríade de cristãos socialistas ou comunistas. É algo difícil de compreender. Em primeiro lugar, por que um seguidor de Jesus aderiria a um arremedo de plano da redenção? Para confessar esse endosso, precisaria necessariamente subverter todo o pensamento bíblico, substituindo a criação divina pela matéria autônoma, o pecado original pela propriedade privada, a salvação em Cristo pela revolução socialista. Se não o fez, é porque ainda oscila entre os dois mundos, sem perceber que são díspares — a cultura marxista mimetizando a cristã.

Em segundo lugar, por que um cristão se posicionaria a favor de um Estado forte que pune seus dissidentes? O processo de centralização do poder empurra a igreja ou para o servilismo ou para a clandestinidade onde quer que o socialismo seja implementado. De fato, Hannah Arendt estudou o totalitarismo e concluiu que o isolamento torna o ser humano muito mais vulnerável ao controle estatal. Por isso, esse regime ataca prioritariamente as livres associações (a família, a igreja, a escola, o comércio), buscando atomizar a sociedade no melhor estilo romano “dividir para conquistar”.

Ser socialista e cristão é tomar o partido de César, não de Cristo. Sobretudo, ser socialista e cristão no Brasil de hoje é assumir uma postura perigosíssima para a igreja. De várias maneiras, o governo atual, honrando suas influências teóricas e suas alianças internacionais, busca cada vez mais controle sobre a sociedade. É quando precisamos recorrer aos ensinamentos de Calvino e Kuyper: por causa do pecado, Deus instituiu os magistrados para punir os maus e garantir a ordem; porém, o Estado “jamais” pode ferir a soberania das esferas individuais, familiares e corporativas, pois a autoridade de cada esfera descende igualmente de Deus. Caso o faça, devemos orar para que retorne ao ideal divino, opondo-nos a cada atentado à liberdade e amparando os perseguidos. Mas isso só será possível se substituirmos a cosmovisão esquerdista por uma genuína cosmovisão cristã. Que Deus ajude a igreja brasileira nessa empreitada.

Porque não sou de esquerda

  1. Porque não creio e nem defendo um Estado que interfere na vida comum e privada do cidadão. Na minha opinião o Estado deve ser mínimo evitando assim o domínio exagerado por parte dos governantes sobre a vida e família dos contribuintes. Ademais, acredito que o Estado jamais deva interferir na soberania das esferas individuais, familiares e corporativas, visto que a autoridade de cada esfera descende igualmente de Deus.
  2. Porque não defendo e nem tampouco comungo dos conceitos marxistas e comunistas que ensinam e incentivam a luta de classes afirmando assim que ela é indispensável àqueles que desejam uma nação justa.
  3. Porque eu sou contra as políticas públicas que incentivam o aborto, a ideologia de gênero, a desconstrução dos valores judaicos/cristãos relacionados a família, o feminismo, descriminalização das drogas, o incentivo a sexualidade precoce em crianças e adolescentes, bem como a intervenção estatal na educação de nossas crianças.
  4. Porque as politicas de esquerda nivelam o povo por baixo, empobrecendo-o cada vez mais, deixando-os sem voz e sem opção de progresso e crescimento.
  5. Porque creio numa economia liberal que por si só, promove emprego, geração de renda, saída da pobreza através do trabalho, proporcionando assim dignidade ao trabalhador.

A Soberania do Estado Contrapõe-se à de Deus 

Assim todo direito transcendente em Deus, para o qual o oprimido erguia sua face, morreu. Não há outro direito exceto o direito imanente que está anotado na lei. A lei está certa, não porque seu conteúdo está em harmonia com os princípios eternos do direito, mas porque ela é a lei. Se no período seguinte ela fixa o próprio oposto, isto também deve estar certo. E o fruto desta teoria enfraquecedora é, naturalmente, que a consciência do direito está embotada, que toda estabilidade do direito afasta-se de nossa mente, e que todo entusiasmo mais alto pelo direito é extinguido. Aquilo que existe é bom porque ele existe; e não é mais a vontade de Deus, daquele que nos criou e nos conhece, mas torna-se a sempre mutável vontade do Estado, que, não tendo ninguém acima dela, realmente torna-se Deus, e deve decidir como será nossa vida e nossa existência. E quando, além disso, vocês consideram que este Estado místico
expressa e aplica sua vontade somente através de homens – que prova a mais é exigida de que esta soberania do Estado, exatamente como a soberania popular, não excede a humilhante sujeição do homem a seu semelhante e nunca eleva-se ao dever de submissão que encontra sua força na consciência?

O Calvinismo Aponta para a Fonte do Direito Eterno

Entretanto, em oposição tanto à soberania popular ateísta dos enciclopedistas, como a soberania do estado panteísta dos filósofos alemães, o calvinista mantém a soberania de Deus, como a fonte de toda autoridade entre os homens. E defende nossas mais altas e melhores aspirações colocando cada homem e cada povo diante da face de nosso Pai celeste. Toma conhecimento do fato do pecado, que outrora foi jogado fora em 1789, e que agora, em extravagância pessimista, é considerando a essência de nosso ser. O Calvinismo aponta para a diferença entre a concatenação natural de nossa sociedade orgânica e o laço mecânico que a autoridade do magistrado impõe. Ele torna fácil para nós obedecer a autoridade, porque, com toda autoridade, nos motiva a honrar a exigência da soberania divina. Ergue-nos de uma obediência nascida do medo do exército forte, para uma obediência por causa da consciência. Ensina-nos a olhar por cima da lei existente para a fonte do Direito eterno de Deus, e cria em nós a coragem indomável para protestar incessantemente contra a injustiça da lei em nome deste Direito superior. E embora o Estado possa poderosamente afirmar-se e oprimir o livre desenvolvimento individual, acima deste Estado poderoso há sempre brilhando diante dos olhos de nossa alma, como infinitamente mais poderosa, a majestade do Rei dos reis. Cujo tribunal justo sempre mantém o direito de apelação para todos os oprimidos, e para quem a oração do povo sempre sobe, para abençoar nossa nação e, nesta nação, nós e nossa casa!

Num sentido calvinista nós entendemos que a família, os negócios, a ciência, a arte e assim por diante, todas são esferas sociais que não devem sua existência ao Estado, e que não derivam a lei de sua vida da superioridade do Estado, mas obedecem uma alta autoridade dentro de seu próprio seio; uma autoridade que governa pela graça de Deus, do mesmo modo como faz a soberania do Estado. Isto envolve a antítese entre o Estado e a Sociedade, mas com a condição de não concebermos esta sociedade como um conglomerado, porém, como analisada em suas partes orgânicas, para honrar, em cada uma destas partes, o caráter independente que pertence a elas. Esferas Independentes, mas sob Deus Neste caráter independente está necessariamente envolvido uma autoridade superior especial e intencionalmente chamamos esta autoridade superior de – soberania nas esferas sociais individuais, a fim
de que possa estar claro e decididamente expresso que estes diferentes desenvolvimentos da vida social nada tem acima deles exceto Deus, e que o Estado não pode intrometer-se aqui, e nada tem a ordenar em seu campo.


Nota:

Norma Braga  no site: ultimato.com.br/revista/artigos/323/por-que-nao-sou-de-esquerda
Renato Vargens no site: renatovargens.blogspot.com.br/2016/04/razoes-porque-eu-nao-sou-esquerdista_10.html
CALVINISMO de Abraham Kuyper – Editora Cultura Cristã

Soli Deo gloria

O legado do cristianismo

Faz algum tempo que vi a imagem ao lado no Facebook e quem a postou fazia insinuações sobre o fato do Brasil ser cristão (embora a imagem fale de ser religioso), e ser ignorante. O autor do post dizia: Será por isso?

Antes de mais nada, devo salientar que não é o fato de alguém ter religião ou não, acreditar em Deus ou ser ateu que distingue seu intelecto.

O Prêmio Nobel é o reconhecimento de maior prestígio dado a homens ou mulheres que, com seu trabalho, contribuíram para o bem e o progresso da humanidade. É, sem dúvida o prêmio mais cobiçado; entre seus laureados estão homens e mulheres, religiosos e ateus. Entre outros estão: Marie Curie, Albert Einstein, Madre Teresa e o Dalai Lama, só para citar alguns.

Uma rápida análise da lista dos agraciados com o Prêmio Nobel desde sua criação, em 1901, até hoje revela uma destacada participação judaica.  Entre as 850 personalidades , 180 são judeus; e a grande maioria deles, 157, atuam nas áreas científicas.

Não há dúvidas que uma das razões para essa significativa participação judaica é a importância que os judeus sempre atribuíram ao estudo e à erudição. O nível de reflexão e análise necessários para estudar o Talmud, que, em hebraico, significa literalmente “estudo” ou “aprendizado”. Gerações após gerações inteiramente dedicadas ao estudo dos textos judaicos resultaram em incontáveis êxitos nos estudos laicos, pois é preciso uma mente inquisitiva para fazer descobertas e ter sucesso em novas áreas do conhecimento. [1]

Nas últimas décadas, tem se tornado comum no mundo ocidental “malhar” o cristianismo. Intelectuais, acadêmicos, escritores e articulistas de renome costumam se referir à fé cristã de forma desairosa e depreciativa. Infelizmente, com frequência muitos críticos estão dentro das fileiras do próprio cristianismo. É considerado politicamente incorreto falar mal de outras religiões, como o islamismo, o budismo e o hinduísmo, que estão muito em voga na Europa e nas Américas, mas não se vê nenhum problema em condenar o movimento cristão. Alguns pensadores ateus, autores de livros campeões de vendas, têm defendido explicitamente a extinção pura e simples do cristianismo. Segundo afirmam, seria desejável que todas as religiões deixassem de existir, mas na realidade eles têm em mente antes de tudo a fé cristã, a tradição religiosa predominante no Ocidente.

Além de preconceituosa, essa atitude é profundamente injusta do ponto de vista histórico. Os próprios cristãos reconhecem que sua trajetória ao longo dos séculos não está isenta de dolorosos problemas. As cruzadas, o antissemitismo, a Inquisição, as guerras religiosas e a escravidão nas Américas são manchas tristes na experiência da igreja, falhas que os cristãos conscienciosos lamentam profundamente. É preciso lembrar esses fatos continuamente para que eles não voltem a se repetir. Todavia, as contribuições e os benefícios que o cristianismo legou ao mundo são muito mais marcantes e numerosos que os seus erros, como o estudo desapaixonado da história demonstra de maneira conclusiva. Alguns desses benefícios não foram generalizados nem contínuos, tendo ocorrido mais em algumas épocas e lugares do que em outras. [2]

Sei que o termo civilização ocidental é uma generalização, há inúmeras diferenças entre a cultura característica do sul e do norte da Itália, mais ainda entre as da Itália e a da Holanda.

Três pontos em comum unem as culturas que englobarei aqui como constituintes da civilização ocidental: situam-se na Europa, foram parte do Império Romano e adotaram em algum momento o catolicismo como religião oficial – sendo todas elas ainda hoje predominantemente ligadas à alguma corrente cristã.

Romênia, Iugoslávia, Bulgária, também fizeram parte do Império Romano, mas não entram neste grupo. Nenhum país que após o grande cisma do século XI ficou sob a influência da Igreja Ortodoxa teve importância no processo de construção deste legado –  a Grécia entra por sua contribuição antiga, é o berço da civilização europeia com seus filósofos, poetas e dramaturgos; mas já bem antes de seu período cristão tinha perdido irremediavelmente o bonde da história.

Outros cristãos Ortodoxos como Ucrânia e Rússia também não. Os protestantes Dinamarca e os escandinavos também; nenhum deles faz realmente parte do grupo que pretendo abordar.

A Polônia é um caso aberrante, uma nação católica que deu ao mundo Copérnico, uma importante contribuição cultural – mas também não lembro de outra.

Basicamente, ao me referir à civilização ocidental, estou falando da que permeou o território geográfico que cobre da Itália à Inglaterra, toda a faixa ocidental entre elas,  mais Áustria e uma parte da Alemanha. O cristianismo é um elemento comum a todas estas culturas – a despeito dos setecentos anos de invasão moura da península ibérica.

Comparada a uma civilização ideal – e este ideal é fluido, varia de um indivíduo pra outro – , a ocidental, com seu histórico de guerras, massacres e perseguições a minorias, sempre perderá feio. Mas comparemos esta civilização a outras que tiveram existências concreta e cronologicamente simultâneas, a civilização hindu ou a chinesa –  ambas também são termos genéricos para designar várias culturas heterogêneas e idiomas diversos que de alguma forma se conciliaram numa mesma área (na Índia se fala centenas de dialetos diferentes).

Estas outras civilizações, ao longo de toda a História, abarcaram populações numericamente superiores à englobada pela ocidental. Comparando a ocidental a elas, veremos que esta não sai mal na foto. As outras produziram massacres, guerras, déspotas da mesma forma. Mas, barbaridades a parte,  a ocidental produziu Tomás de Aquino, Dante, Michelângelo, Ticiano, Shakespeare, Rembrandt, Bach, Mozart, Leibniz… Que nomes as outras civilizações têm para comparar a estes?

Além do fato de não produzirem nomes de tal vulto como a ocidental, outras civilizações com outros enfoques religiosos também não se expandiram com a mesma habilidade. Por exemplo, a América está a meio caminho da Europa e da Ásia (aliás, pelo Estreito de Bering é bem mais próxima da Ásia). Mas quem chegou e colonizou o novo mundo foram os europeus. Nós brasileiros, assim como argentinos, norte-americanos, somos produto desta civilização. Assim também foi com a Austrália, muito mais próxima da Índia que da Inglaterra.

Não temos como saber o que teria sido do mundo ocidental sem o avanço do cristianismo, quanto tempo a Europa levaria para se reorganizar após a queda do Império romano se não houvesse a mão-de-obra qualificada da Igreja para assumir os cargos burocráticos. Mas esta é outra discussão.

Esta ênfase no cristianismo mostra que a Bíblia é uma das bases da nossa civilização ocidental. Para muitos ela é a palavra de Deus exposta, para outros um depósito de sabedoria compilada através de várias gerações. Para outros ainda, uma elaboração mitológica sem maior relevância que a mitologia grega ou egípcia – dos que compartilham esta visão falarei mais ao final.

Como todos sabem, os cristãos baseiam sua fé especificamente na dissidência judaica representada por Jesus, o Cristo. O calendário do mundo ocidental é dividido em antes e depois do seu nascimento. A História que conhecemos não divide a cronologia em antes/depois de Moisés; Sócrates; Alexandre, o Grande; Julio César. A História tomou como parâmetro Jesus, logo, seu nascimento é, sem dúvida, um fato altamente significante dentro dela.

Obs. Tanto Julio César quanto seu sobrinho-neto Otaviano Augusto conseguiram, em atos de auto-glorificação, inserir seus nomes no calendário ocidental, rebatizando em sua própria homenagem o sétimo e o oitavo mês do ano, nomes estes que usamos até hoje. Mas ainda assim, não se tornaram “o” parâmetro de medida.

Nos dias de hoje, não estamos num patamar de ideias e debates particularmente bom, mas temos este passado digno de nota. E este momento atual ruim se dá pela predominância de ideias alheias ao cristianismo, muitas antagônicas a ele – marxismo, positivismo, materialismo científico, o ideário politicamente correto – as quais passaram a predominar e moldar a mente da intelectualidade, algumas já há mais de um século.

Esta mesma sociedade que abraçou ideias muitas vezes perversas, está sempre pronta a apedrejar a Igreja quando um de seus representantes, em algum pronunciamento, não abraça as causas que certos segmentos desta sociedade acham que a Igreja deveria aceitar. Algumas destas posições reivindicadas até são dignas de um debate, outras são diametralmente opostas à doutrina cristã e, portanto, inconciliáveis com ela.[3]

A influência histórica
O cristianismo é a principal tradição cultural do mundo ocidental, o mais importante fator na formação histórica da Europa e das Américas. Assim sendo, a influência cristã permeia todos os aspectos da vida desses continentes e suas nações. Caso prevalecesse a tese dos autores que defendem a extinção do cristianismo, por uma questão de coerência vastas mudanças teriam de ser feitas na vida social desses povos. Por exemplo, o calendário teria de ser trocado por outro — a semana de sete dias, os termos “sábado” e “domingo” (“dia do Senhor”) e a contagem dos anos (como 2008) não mais fariam sentido, porque todos têm origem cristã ou judaico-cristã. Algumas das celebrações e festividades mais apreciadas pelas pessoas (Natal, Páscoa, Dia de Ação de Graças) teriam de ser eliminadas. Milhões de pessoas teriam de mudar seus nomes de origem cristã, inclusive muitos ateus. O mesmo aconteceria com um imenso número de designações de cidades, logradouros e pontos geográficos. Os idiomas, a música, o folclore, as tradições e outros elementos seriam profundamente afetados.

Mas existem questões mais importantes. Olhando-se para a história antiga e recente, percebe-se o enorme impacto humanizador e civilizador do cristianismo. Desde o início da era cristã, houve uma grande preocupação com a dignidade da vida humana, que se traduziu no combate a práticas degradantes como o aborto, o infanticídio e as lutas de gladiadores. O cristianismo valorizou a criança, a mulher, o idoso, o casamento e a vida familiar. Embora no início os cristãos tenham mantido a escravidão que existia no Império Romano, a fé cristã continha valores que levaram à gradual extinção desse mal. Tem sido imenso, ao longo do tempo, o esforço dos cristãos em socorrer os pobres, doentes e desamparados de toda espécie, através de um sem-número de iniciativas e instituições humanitárias. Até hoje, tanto em tribos indígenas e populações carentes como entre povos adiantados, a contribuição cristã nessas áreas se faz notar de modo saliente. No Brasil pode ser visto através das duas maiores correntes cristãs, a igreja católica através da teologia da libertação, e a igreja protestante (evangélica) através da teologia da missão integral.

O legado cultural
Sem desprezar as magníficas contribuições das antigas civilizações grega e romana, foi principalmente o cristianismo que moldou a vida dos povos ocidentais como os conhecemos hoje, além de exercer grande influência positiva na África e na Ásia. À medida que a fé cristã se expandia, ela elevou o padrão de vida dos povos que deram origem às nações europeias. A contribuição cristã na área da educação tem sido das mais destacadas. Durante séculos, as únicas escolas que existiam estavam ligadas à igreja. Muitos povos, ao serem evangelizados, receberam simultaneamente a escrita e a alfabetização, como ocorreu entre os eslavos, na Europa oriental, e em muitas nações africanas. A Bíblia, traduzida para as línguas desses povos, se tornou importante nesse processo. As primeiras universidades (Paris, Bolonha, Oxford) e muitas outras surgidas mais tarde (Harvard, Yale, Princeton etc.) foram criadas por cristãos.

O cristianismo deu uma contribuição inigualável em outras áreas significativas, notadamente em séculos recentes. Alguns exemplos no âmbito político são o governo representativo, a separação dos poderes, a expansão da democracia e a ampliação dos direitos e liberdades civis. As convicções cristãs permitiram a ascensão econômica do homem comum, gerando prosperidade para famílias e povos. Outra área de atuação foi a ciência, não só pelo fato de que a maior parte dos cientistas ao longo da história têm sido cristãos, mas de que o cristianismo, com sua visão de um mundo ordenado e sujeito a leis fixas, porque criado por Deus, possibilitou o próprio surgimento da ciência. E que dizer das contribuições nos campos da literatura e da arte? Se não fosse o cristianismo, não teríamos obras como as “Confissões”, de Agostinho, a “Divina Comédia”, de Dante, o “Paraíso Perdido”, de Milton, e tantas outras. Não contemplaríamos as magníficas catedrais góticas, a Capela Sistina, bem como as esculturas e pinturas de Michelangelo, Leonardo da Vinci, Rembrandt e outros mais. Não poderíamos ouvir “O Messias” de Haendel nem as inspiradoras composições de Johann Sebastian Bach.

Valores religiosos e éticos
Os legados mais valiosos do cristianismo ao mundo são a vida e os ensinos de seu fundador, registrados no Livro dos Livros. Jesus Cristo, o carpinteiro de Nazaré que os cristãos consideram o próprio Filho de Deus encarnado, proferiu algumas das palavras mais belas, sublimes e cativantes que se conhecem na história humana. Ele falou das coisas transcendentes e eternas de modo simples e acessível a qualquer indivíduo. Os valores que ensinou, como o amor, a compaixão, o altruísmo, a integridade, a veracidade e a justiça, têm trazido benefícios incalculáveis ao mundo. Todavia, ele não se limitou às palavras e conceitos, mas exemplificou em suas ações as verdades que buscava transmitir. Por fim, deu sua vida na cruz para cumprir cabalmente a missão de que estava incumbido. Desde então, seu ensino e exemplo têm inspirado e transformado milhões de pessoas em todos os recantos do mundo, além de ter induzido mudanças radicais nos mais diferentes aspectos da sociedade.

Sem Cristo e seu grandioso legado, o mundo certamente seria um lugar muito mais sombrio, triste e desesperançado. Essa é a tese de D. James Kennedy em seu livro “E se Jesus não Tivesse Nascido?” (Editora Vida, 2003). Não se pode negar que muitos não-cristãos têm dado contribuições relevantes à sociedade. Os cristãos não têm dificuldade com isso, porque entendem que Deus atua em toda a criação e que sua imagem, ainda que desfigurada, está presente em todos os seres humanos. Todavia, as alternativas de um mundo sem fé e sem cristianismo podem se tornar aterrorizantes. Basta lembrar que os homens mais cruéis, desumanos e sanguinários do século 20 — indivíduos como Josef Stálin, Adolf Hitler, Mao Tsé Tung e Pol Pot — além de não serem cristãos, eram inimigos do cristianismo. Mesmo sem apelar para casos extremos como esses, está claro que o crescente secularismo que avassala o mundo, com sua relativização do significado e da importância da vida, representa uma grande ameaça para o futuro da humanidade.[2]

 

Soli Deo gloria

 

[1] Morashá:  http://www.morasha.com.br/judaismo-no-mundo/judeus-e-premio-nobel.html
[2] Ultimato: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/314/em-defesa-do-cristianismo
[3] https://comoeueratrouxaaos18anos.wordpress.com/duas-palavrinhas-sobre-o-legado-cristao/