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Pastores-Mestre: O Dom de Cristo à sua igreja

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres

Efésios 4:11

As sociedades não se tornam seculares simplesmente quando abandonam totalmente a religião, mas quando já não se sentem incomodadas por ela. Esse é o sinal mais perigoso: quando a fé já não mexe, já não confronta, já não incomoda. E, ironicamente, esse mesmo risco ronda também a própria igreja de Cristo, justamente no lugar em que menos esperaríamos — na compreensão do seu clero. Não porque estejamos descartando o ministério pastoral, mas porque já não enxergamos sua natureza teológica como algo estimulante ou central. A figura do pastor como teólogo — aquele que abre as Escrituras para ajudar o povo a conhecer a Deus, a si mesmo e ao mundo — já não faz mais os corações arderem, como os discípulos a caminho de Emaús (Lc 24.32).

Em nossos dias, muitos pastores, como Esaú, têm trocado sua herança vocacional por um prato de lentilhas (Gn 25.29-34; Hb 12.16). Em vez de mergulharem na Palavra, tornam-se especialistas em gestão, estrategistas de marketing, coachs de liderança e terapeutas improvisados. E o pior: muitas congregações passaram a exigir exatamente isso deles — preferindo títulos de MBA a homens de oração. Não é de se estranhar que tantos recém-formados saiam do seminário reclamando que não foram preparados para o “verdadeiro trabalho” do ministério. Enquanto isso, os próprios seminários, pressionados pelas demandas do mercado eclesiástico, reformulam seus currículos e acabam contribuindo ainda mais para a perda da teologia na vida da igreja.

A história, é claro, é longa e complexa. Já foi contada em muitos livros. Mas a ideia central é clara: a teologia foi banida de Jerusalém e posta em exílio. O resultado é que o conhecimento de Deus se torna cada vez mais raso entre nós. E a comunidade da aliança, chamada a ser jardim frutífero, passa a parecer um deserto — uma terra seca, cheia de oportunidades desperdiçadas, que já não cultiva discípulos como outrora.

Por isso, mais do que nunca, precisamos resgatar a identidade do pastor como teólogo. Não como um acadêmico de gabinete, mas como um servo que conduz o rebanho às verdes pastagens da Palavra. O povo de Deus não precisa de mais “gestores” — precisa de homens que façam os corações arderem novamente com as Escrituras abertas diante deles.

Escrevo a vocês, meus colegas de ministério — e aqui não me refiro apenas aos pastores titulares! — porque percebo o quanto precisamos resgatar a essência teológica da nossa vocação. Não importa se o ministério que você exerce é definido como “pastor de jovens”, “educador cristão”, “pastor de vida congregacional”, “líder de louvor” ou qualquer outra função. A verdade é que todos nós fomos chamados para algo maior do que um cargo: fomos chamados para falar de Deus e, ao mesmo tempo, lidar com as pessoas. E vamos ser honestos: nenhuma dessas duas tarefas é simples… mas ambas são inevitáveis. Cabe a nós, em qualquer área de atuação, comunicar Cristo e ministrar a Palavra em todo tempo, de várias formas e a todas as pessoas. Esse é o coração do nosso chamado: ministrar a Palavra de Deus ao povo de Deus.

Escrevo também a vocês, igrejas, porque sei que precisam ser lembradas da seriedade dessa vocação. É urgente repensar a natureza, a função e até mesmo as credenciais que vocês exigem de seus pastores. Mais do que diplomas bonitos na parede, seus pastores precisam de condições para servir e crescer como teólogos públicos — homens que falam de Deus para o mundo e do mundo diante de Deus. Além disso, lembro a vocês que a igreja não é apenas uma comunidade social, mas uma comunidade teológica, criada pela Palavra e sustentada pelo Espírito. Vocês não escrevem a própria história com Deus como coadjuvante; é o contrário: estão inseridos na grande história de Deus. E é exatamente aí que entra a nossa vocação pastoral. Um pastor-teólogo existe para ajudá-los a enxergar isso, a viver isso e a ensinar outros a crer nisso.

Problema: uma visão perdida

Eu tenho aprendido que, sem visão teológica, nós, pastores, perecemos. A visão é aquilo que nos permite enxergar onde estamos e para onde devemos ir. Muitas vezes, o que vemos assusta e intimida. Pedro andou sobre as águas com os olhos fixos em Jesus, mas quando olhou para o vento e as ondas, começou a afundar (Mt 14.28-31). O que o fez tropeçar não foi a tempestade em si, mas o deslocamento do olhar. E confesso: muitas vezes acontece o mesmo conosco. Quando nossa visão é dominada pela realidade aparente, sufocamos a fé; mas, quando a fé em Cristo guia nosso olhar, somos capazes de ver o mundo como ele realmente é — criado, redimido e amado por Deus. Essa sempre foi a mensagem dos profetas: anunciar o que viam, testemunhando que Deus está renovando todas as coisas por meio de Seu Servo e de Seu povo da aliança. Se essa é a visão que nos foi dada, eu pergunto: por que tantos pastores estão se afogando em pleno mar?

A tempestade não é o problema. O que nos faz afundar, muitas vezes, não são as ondas do mar, mas as ondas do sentimento popular; não é o vento do mar, mas os ventos da opinião pública. Eles sopram contra nós e nos tentam a abandonar nossa tarefa teológica, impedindo-nos de levar o povo de Deus à maturidade em Cristo (cf. Ef 4.14). Nadar contra a corrente cultural nunca é fácil, e sei que o pastor fiel sempre será alguém da contracultura. Afinal, como não ser contracultural quando proclamamos Cristo crucificado e chamamos os discípulos a imitarem o Senhor, morrendo para si mesmos? O chamado ao autoesvaziamento nunca será atraente para um mundo que ama carteiras cheias e guarda-roupas abarrotados.

Mas reconheço que nosso chamado se torna ainda mais desafiador porque lidamos com três públicos diferentes, três realidades sociais diante das quais precisamos falar de Deus: (1) a academia, (2) a igreja e (3) a sociedade em geral. Se Deus é o Criador de tudo, visível e invisível, e se o evangelho é para todo o mundo, então não existe sequer um centímetro quadrado do universo nem um único aspecto da vida humana que não estejam debaixo do senhorio de Cristo. O problema é que a maioria de nós vive em mais de um desses mundos ao mesmo tempo, e isso exige de nós uma sabedoria pastoral que só o Espírito pode dar.

Já aconteceu comigo no púlpito: no mesmo culto tenho diante de mim um adolescente cheio de dúvidas, um universitário mergulhado em filosofia, um marceneiro desempregado, uma mãe exausta pelo trabalho, um prefeito da cidade e até um professor de física. Como falar de Deus a todos eles de forma clara e fiel? Esse é o desafio do pastor-teólogo. O contexto principal é, sem dúvida, a igreja. Mas será que isso me exime de falar também à sociedade mais ampla ou até de dialogar com a academia? De jeito nenhum! O evangelho precisa ecoar em todos os cantos.

É por isso que entendo que nós, pastores-teólogos, precisamos ser “trilíngues”. Não no sentido de dominar idiomas, mas de aprender a falar a língua de cada contexto: da igreja, da universidade e da sociedade em geral. Nem sempre vamos falar com perfeição, mas precisamos, ao menos, nos esforçar para compreender e nos fazer compreender. Esse é o nosso chamado: traduzir fielmente a Palavra eterna em meio aos muitos mundos em que nosso povo vive.

E é justamente aqui que quero começar: analisando como a visão pastoral e teológica foi sendo perdida nesses três públicos.

Academia

E aqui está o ponto: se a teologia é, muitas vezes, escrita por acadêmicos para acadêmicos, eu — como pastor — não posso simplesmente me render a essa distância. É verdade que certas discussões acadêmicas parecem áridas ou irrelevantes para a vida de fé, mas a responsabilidade de mostrar a conexão entre doutrina e vida pertence a nós, pastores-teólogos. Quando alguém me pergunta, por exemplo, o que a doutrina da Trindade tem a ver com o desemprego de um pai de família, eu não posso me esquivar. Preciso mostrar que a vida cristã não é sustentada por psicologia de autoajuda, mas pelo fato de que o Deus triúno, eterno em amor e comunhão, nos chama para viver nele e dele participar. A Trindade não é apenas uma fórmula bonita para recitar — é a base da nossa salvação, da nossa comunhão e da nossa esperança.

Esse é um dos maiores dramas da transferência da teologia para a academia: quando deixamos de perceber que toda doutrina é pastoral. O ensino sobre a soberania de Deus, por exemplo, não é uma tese para congressos, mas a rocha firme para aquele irmão que acaba de enterrar sua esposa. A doutrina da encarnação não é apenas um debate cristológico — é a boa notícia para a irmã que se sente abandonada: em Cristo, Deus assumiu nossa carne e conhece, por experiência, nossas dores. Cada artigo de fé é alimento para a vida da igreja.

É por isso que digo: quando me coloco diante da congregação, não posso falar apenas como “gestor de pessoas” ou “especialista em liderança”. Preciso ser pastor-teólogo, alguém capaz de traduzir a profundidade das Escrituras e da fé cristã para a realidade concreta do povo de Deus. Isso não significa transformar o púlpito em sala de aula acadêmica, mas deixar que a Palavra forme mentes e corações para viverem no mundo real, com esperança e santidade.

E aqui está a tensão: como falar, ao mesmo tempo, para o erudito que conhece as discussões acadêmicas e para a irmã simples que nunca leu um livro de teologia, mas que carrega no peito a dor de um filho perdido? A resposta é que só conseguiremos isso se não abrirmos mão da nossa vocação pastoral-teológica. É preciso, de fato, aprender a ser “trilíngue” — falar com clareza bíblica na igreja, com rigor teológico na academia e com testemunho vivo na sociedade.

Se a visão pastoral foi perdida na academia, parte da nossa missão é resgatá-la: não como inimigos da teologia acadêmica, mas como aqueles que lembram ao mundo universitário que a teologia não é mero exercício intelectual. Ela é confissão, é doxologia, é pastoral. O verdadeiro teólogo não é apenas quem escreve livros complexos, mas quem abre a Escritura e mostra à igreja que toda verdade sobre Deus é boa nova para o coração cansado.

E aqui está outro grande desafio: o tal “muro de Berlim” erguido dentro da própria academia, separando estudos bíblicos e teologia. Essa divisão, tão artificial quanto prejudicial, tem produzido consequências sérias para a igreja. Nós, pastores, sabemos bem que a pregação é o coração do nosso ministério. Se nos obrigassem a escolher, a maioria de nós, sem pensar duas vezes, ficaria com os estudos bíblicos. Mas aí vem o problema: grande parte do que encontramos nos comentários acadêmicos modernos é quase impossível de ser pregado.

Explico: a academia, em muitos casos, trata a Bíblia apenas como documento histórico, e isso não é pouca coisa. Claro que contexto histórico, línguas originais e paralelos culturais têm o seu valor, mas quando a ênfase se desloca exclusivamente para o “mundo por trás do texto”, a voz de Deus no texto é silenciada. É como se, no esforço de explicar como Israel viveu no Antigo Oriente Próximo, esquecêssemos que o mesmo Deus que falou a Israel fala hoje à Sua igreja. O resultado? Sermões que parecem mais aulas de arqueologia ou história antiga do que proclamação do evangelho.

E aqui eu preciso dizer: um comentário bíblico que não conduz o pregador a Cristo e ao plano de Deus revelado em Cristo falhou em sua tarefa. Porque, no fim das contas, toda a Escritura aponta para Ele (Lc 24.27) e encontra sua unidade no mistério revelado de que Deus está reconciliando todas as coisas em Cristo (Ef 1.9-10). O que me entristece é ver estudiosos tratando a Escritura como material de pesquisa em vez de Palavra viva, e, consequentemente, muitos pastores se alimentando desse tipo de material para, depois, subir ao púlpito com mensagens que não alimentam ninguém.

Não me entendam mal: eu não sou contra a pesquisa acadêmica, nem contra a seriedade histórica. Mas eu creio que qualquer abordagem que retire a centralidade de Cristo do texto bíblico já deixou de ser teológica, ainda que tenha o rótulo de “estudo bíblico”. Para mim, um verdadeiro comentário bíblico é aquele que ajuda o pastor a proclamar o Cristo das Escrituras ao povo de Deus, e não apenas a demonstrar erudição.

É por isso que insisto: o pastor não pode abrir mão de sua identidade de teólogo. Precisamos ser capazes de discernir quando a academia nos oferece ferramentas úteis e quando ela tenta nos oferecer pedras em vez de pão. A igreja não sobrevive de curiosidades históricas, mas da Palavra que revela Cristo e o faz presente em cada geração.

Igreja

A muito tempo, tenho observado uma confusão crescente sobre o que realmente significa ser pastor e o que se espera que os pastores façam. E digo com franqueza: ainda há muita incerteza. O próprio termo “pastor” é uma metáfora, e essas metáforas podem se tornar prisões invisíveis. Muitas vezes, elas não refletem quem somos de fato, mas as preocupações e tendências da sociedade em que vivemos. A imagem que as pessoas têm de nós geralmente revela mais sobre a cultura do que sobre a nossa vocação.

Hoje, temos uma variedade enorme de imagens sobre o pastor: gestor de programas, terapeuta, líder comunitário, administrador de pessoas, comunicador de mídia, conselheiro emocional, agente de esperança… A lista poderia continuar. Cada uma dessas imagens traz alguma verdade, mas nenhuma pode definir integralmente o que significa ser pastor. A questão central permanece: o que faz da nossa vocação algo único e insubstituível?

E essa confusão não se limita à sociedade; ela alcança a formação de pastores. Muitos seminários estruturam seus cursos e conteúdos baseados em modelos de mercado, técnicas de gestão ou ferramentas de aconselhamento, muitas vezes esquecendo que a essência do ministério pastoral é teológica e bíblica.

Não me entendam mal: organizar programas, cuidar de pessoas e aconselhar são tarefas importantes. Mas não podem substituir o que só o pastor pode fazer: ministrar a Palavra de Deus, ensinar, pregar, aconselhar espiritualmente e moldar o povo de Deus para refletir a nova humanidade em Cristo. Essa é a nossa identidade e nossa vocação.

O perigo que vejo é a tendência de nos tornarmos pastores “profissionais” no sentido cultural: buscando reconhecimento, status, carreira ou técnica, e esquecendo que nossa principal autoridade vem de Deus e da fidelidade à Sua Palavra. Quando isso acontece, o pastor perde sua relevância espiritual, e a igreja se empobrece. Deixamos de aplicar categorias teológicas e espirituais à vida cotidiana, e o resultado é que desaparece o sentido do pecado, da graça e, muitas vezes, a presença viva de Deus.

Portanto, pergunto a mim mesmo e a vocês, colegas de ministério: quem queremos ser? Pastores guiados por modismos e pressões culturais ou pastores-teólogos, firmes na Escritura, moldados pelo Espírito e comprometidos em fazer discípulos, pregando, ensinando e formando o povo de Deus para viver a vida nova em Cristo? Minha convicção é clara: sem essa identidade, o ministério perde sua força, e a igreja deixa de cumprir sua missão.

Sociedade

Era uma vez, e nem faz tanto tempo assim — me refiro ao século XIX — pastores que eram figuras públicas respeitadas, valorizadas e reverenciadas. Não raro, eram as pessoas de maior nível educacional em cidades pequenas ou médias, verdadeiros intelectuais de suas comunidades. Avançando um século, porém, vemos como a situação mudou radicalmente. Hoje, a imagem do pastor muitas vezes se reduz a caricaturas: o moralista reprimido, o megalomaníaco cheio de si ou aquele que parece mais preocupado com a aparência do que com a Palavra de Deus. Infelizmente, há uma boa dose de verdade nesse retrato superficial, e precisamos encará-la.

O brasileiro médio que frequenta igreja confessa sua fé em Cristo, mas vive mergulhado na mesma cultura que todo mundo: novelas, filmes, programas de TV e redes sociais moldam suas expectativas e percepções. A cultura popular tanto reflete quanto molda a forma como as pessoas enxergam os pastores. E, nesse cenário, eu me pergunto: que tipo de figura pública o pastor representa? Que imagem projetamos quando falamos de Deus?

Ser um pastor-teólogo — alguém que fala de Deus para diferentes públicos — é, antes de tudo, ser honesto com os olhos das pessoas. E aqui está a difícil situação: precisamos apresentar verdades sobre Deus de maneira que façam sentido no discurso público, sem nos render às expectativas culturais de reconhecimento ou aprovação. Falar de Deus é paradoxal: somos humanos, limitados, e ainda assim chamados a proclamar o Criador do universo. Quem somos nós, criaturas falíveis, para ousar falar sobre Aquele que é soberano, infinito e santo?

Mas é justamente nesse paradoxo que reside o chamado do pastor. Não estamos aqui para crescer socialmente, para angariar prestígio ou fama, nem para atrair atenção para nós mesmos. Nosso objetivo é apontar para Deus, levando as pessoas a adotarem a forma de pensar, sentir e viver que Ele deseja. É um chamado que exige humildade: muitas vezes precisamos diminuir nossa posição social, reconhecer nossa fragilidade e nossa contínua necessidade da graça de Deus, assim como Paulo fazia (1Tm 1.15).

Além disso, somos chamados a falar em público sobre temas amplos — o sentido da vida, o bem comum, a moralidade, a fé — mesmo sem ter credenciais reconhecidas pela sociedade, ao contrário de especialistas que dominam suas áreas. A situação é ainda mais desafiadora quando consideramos que, na opinião geral, figuras públicas são frequentemente vistas com desconfiança. As pessoas tendem a questionar as motivações de quem representa uma instituição ou organização.

É certo que confiamos em neurocirurgiões para operar cérebros ou em pilotos para voar aviões, porque suas habilidades são reconhecidas e mensuráveis. O pastor, porém, enfrenta outro tipo de desafio: explicar sua contribuição para o bem público exige afirmar um conhecimento especializado que nem sempre é tangível aos olhos da sociedade — um conhecimento que une teologia, ética e a aplicação da Palavra de Deus à vida cotidiana. Precisamos vestir o manto da autoridade intelectual sem nos tornarmos arrogantes, sempre apontando para Cristo e não para nós mesmos.

O paradoxo é grande, mas necessário: o pastor deve ser autoridade sem buscar prestígio, guia sem buscar adulação, e mestre sem se reduzir a mero consultor de bem-estar social. A tarefa é difícil, mas é o que nos distingue. Falar de Deus ao mundo de forma pública e relevante é o que nos mantém fiéis ao chamado, e é isso que garante que nossas comunidades realmente conheçam e experimentem a presença viva de Cristo.

Então, vamos resumir o que venho afirmando até aqui. Primeiro, os pastores são e sempre foram teólogos. Em segundo lugar, cada teólogo é, de certa forma, um teólogo público, um intelectual com uma missão específica, um generalista da fé que fala para pessoas reais, em contextos reais. E quero enfatizar algo que considero central: não é preciso ter uma cadeira acadêmica ou QI elevado para ser um intelectual. Mas é preciso ter QT — quociente de teologia — elevado, uma capacidade de pensar, compreender e aplicar a Palavra de Deus de forma clara, fiel e relevante. Em terceiro lugar, o propósito de o pastor-teólogo atuar como intelectual público é servir ao povo de Deus, edificando-o na fé que nos foi entregue “uma vez por todas” (Jd 3).

Quando falo que pastores são teólogos, não me refiro apenas a títulos acadêmicos ou publicações em revistas especializadas. Falo de algo muito mais profundo: dizer com clareza e fidelidade o que Deus está fazendo em Cristo. Historicamente, esse aspecto de nossa vocação tem sido esquecido, relegado a um grupo restrito de “profissionais da teologia”. Mas essa separação é prejudicial. Ela sugere — ainda que indiretamente — que pastores e leigos não seriam capazes de elaborar teologia, ou que não teriam autoridade para falar de Deus porque não possuem credenciais formais. Essa é uma mentira que precisa ser confrontada.

A teologia é demasiado importante para ser monopolizada. Cada pastor, cada discípulo, cada cristão é responsável diante de Deus por compreender e agir conforme o conhecimento de Deus que lhe é dado — seja por meio da criação, seja pelo coração humano, seja pela própria Escritura (Rm 1.19-21). O que isso significa na prática? Significa que todos nós somos chamados a ler, meditar, refletir e aplicar a Palavra, sempre com amor, obediência e confiança. Não existe cristão “comum” incapaz de pensar teologicamente; existe, sim, uma responsabilidade real de crescer nesse entendimento e de não deixar que outros falem por nós em questões de fé.

E é exatamente aqui que entra a urgência do pastor-teólogo: precisamos resgatar nossa vocação de falar sobre Deus de maneira pública, relevante e fiel. Precisamos ensinar e guiar nossa igreja para que compreenda Cristo, sua obra e a realidade do mundo segundo os olhos de Deus. Ser pastor não é apenas gerir pessoas ou programas; é ser um mestre do povo de Deus, capaz de traduzir a grandeza de Deus para a vida cotidiana das pessoas.

A pergunta que nos move é simples, mas profunda: se não nós, quem falará? Se não com fidelidade e clareza, quem conduzirá nosso povo ao entendimento da Palavra? Pastores que não exercitam sua função de teólogos públicos correm o risco de ver a igreja perder não apenas a direção, mas o próprio sentido da fé em Cristo. E isso, meus irmãos, é inaceitável.

Quando lemos Efésios 4:11, vemos que Cristo “deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres”. Muitos olham para essa passagem e entendem que “pastor” e “mestre” são dons distintos, como se alguém pudesse ser apenas pastor ou apenas mestre. Mas, na prática, não é assim. A Palavra nos mostra que o dom de pastor e o dom de mestre são, na realidade, duas faces da mesma moeda: o mesmo dom se manifestando de maneiras complementares.

O pastor que não é mestre corre o risco de cuidar de pessoas sem levá-las a entender profundamente a Palavra de Deus. Ele se torna apenas um gestor de emoções ou um conselheiro de situações imediatas. Por outro lado, o mestre que não é pastor corre o risco de ser um acadêmico isolado, incapaz de aplicar sua teologia à vida concreta das pessoas. O dom completo se manifesta quando o pastor é também mestre: alguém que cuida do rebanho e, ao mesmo tempo, ensina e edifica o povo na verdade de Deus.

Ser pastor e mestre significa, portanto, guiar vidas com coração e cabeça: com compaixão e com conhecimento. É proclamar Cristo de maneira que as pessoas compreendam o que Ele fez, o que Ele está fazendo e como Ele quer que vivamos em resposta à sua graça. É transformar a igreja não apenas em um lugar de encontros emocionais, mas em uma comunidade de discípulos formados, capazes de entender, aplicar e defender a fé.

Efésios 4:12 reforça essa aplicação: o propósito desse dom é “aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo”. Ou seja, o pastor-teólogo não está a serviço do próprio ego, nem para ocupar um espaço social ou cultural; está a serviço da igreja, preparando o povo de Deus para crescer em maturidade, em santidade e em conhecimento da Palavra.

Portanto, todo pastor que se vê apenas como cuidador de almas precisa se lembrar: o Senhor o chamou para ser também mestre. E todo mestre que se contenta apenas com o estudo e o ensino da Bíblia precisa se lembrar: Cristo o chamou para pastorear, para se relacionar com pessoas, para guiá-las na vida prática da fé. O verdadeiro pastor-teólogo é aquele que une ambos os aspectos: cuidado e ensino, coração e mente, zelo pastoral e profundidade teológica.

De olho no texto

O versículo de Efésios 4:11 diz:

“E ele mesmo deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres” (NVI).

No grego original, a expressão é “καὶ ἑτέρους ποιμένας καὶ διδασκάλους” (kai heterous poimenas kai didaskalous). Aqui está a chave: a conjunção καὶ (kai) geralmente significa “e”, mas o grego permite que ela seja usada de forma distributiva ou inclusiva. Ou seja, não necessariamente indica dois grupos distintos; pode muito bem indicar uma função única com duas dimensões.

Em termos práticos, isso significa que o “pastor” e o “mestre” não são dois dons separados, mas duas facetas de um mesmo dom que se manifesta na liderança espiritual do povo de Deus. O pastor cuida do rebanho, protege, guia e sustenta. O mestre, por sua vez, instrui, explica a Palavra, edifica, corrige e ensina o povo a viver segundo a vontade de Deus. Mas na prática do ministério, essas funções se entrelaçam: um verdadeiro pastor não pode cuidar sem ensinar; um verdadeiro mestre não pode ensinar sem cuidar.

O texto grego reforça isso pelo uso da palavra ἑτέρους (heterous), que significa “outros”, ou “uns outros”, e pelo kai entre “poimenas” e “didaskalous”. Paulo não está dizendo que há alguns pastores e outros mestres isolados; ele está descrevendo uma função pastoral completa: cuidar e ensinar ao mesmo tempo.

Essa leitura é reforçada pelo contexto imediato: Efésios 4:12 explica o propósito desses dons:

“para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo”.

O dom de pastor-mestre existe para preparar o povo de Deus, e para isso é necessário que quem o exerce tenha tanto a capacidade de cuidar com amor quanto a de ensinar com clareza e fidelidade. Não há espaço para separar as duas dimensões, porque a maturidade do corpo de Cristo depende de ambas.

Em resumo: o grego nos mostra que o chamado pastoral é unitário e multifacetado. Pastores e mestres não são grupos distintos; são dois aspectos do mesmo dom que Deus dá à igreja para que sua Palavra seja fielmente proclamada e praticada. Quem entende isso reconhece que exercer o ministério é cuidar do povo enquanto o ensina na verdade, e é exatamente essa visão que precisa ser recuperada em nossas igrejas brasileiras hoje.

A necessidade teológica

Diante de tudo que já analisamos, torna-se evidente que o pastor não pode prescindir de uma base teológica sólida. Não estou falando apenas de decorar versículos ou repetir frases bonitas — falo de entender profundamente o que a Bíblia ensina sobre Deus, sobre o ser humano e sobre a salvação, e de conseguir comunicar isso de forma clara e fiel à congregação. Alguns aspectos são absolutamente centrais: escatologia, soteriologia, e a própria definição teológica do pastor quanto a tradições como arminianismo ou calvinismo, pactualismo ou dispensacionalismo.

Por que isso é tão importante? Porque essas áreas da teologia moldam a maneira como o pastor interpreta a Palavra e aplica a fé na vida das pessoas. A escatologia, por exemplo, nos ajuda a orientar o povo em esperança, em perseverança e em discernimento do que virá; a soteriologia nos permite explicar a obra de Cristo na cruz e a relação do pecador com Deus de maneira sólida e não superficial. Se o pastor não tem clareza sobre esses pontos, sua pregação corre o risco de ser vaga, incoerente ou facilmente distorcida por interpretações populares ou modismos culturais.

Além disso, a definição teológica do próprio pastor é fundamental. Saber se você se alinha mais a uma perspectiva arminiana ou calvinista, pactualista ou dispensacionalista, não é um detalhe acadêmico: isso define como você entende a graça, a eleição, o pacto de Deus com seu povo, e como você orienta a vida e a fé de sua igreja. Um pastor que não tem essa clareza está navegando no escuro, e é terrível para a igreja quando ela não tem um norte teológico. Sem esse ponto de referência, a congregação se torna vulnerável a confusões doutrinárias, a interpretações superficiais da Bíblia e a práticas religiosas que podem até ser emocionantes, mas não edificam na fé nem levam à maturidade cristã.

Quando pastores negligenciam a teologia e não conseguem ensinar com segurança sobre Deus, sobre a salvação ou sobre os desígnios do Senhor, a igreja perde identidade. Ela deixa de ser comunidade de discípulos para se tornar apenas um grupo que compartilha sentimentos e experiências, sem entendimento profundo da Palavra. E, como sabemos, uma igreja sem direção teológica sólida facilmente se afasta da verdade, mesmo sem perceber, abrindo espaço para heresias sutis, distorções do evangelho e uma fé que não transforma de verdade.

Portanto, pastores, não podemos fugir desse desafio: devemos ser capazes de explicar e ensinar a teologia em suas dimensões fundamentais, definindo com clareza nossas convicções à luz das Escrituras. Ser pastor-teólogo não é luxo ou formalidade; é necessidade urgente para o bem da igreja, para a fidelidade ao evangelho e para o crescimento espiritual do povo de Deus.

Do púlpito para a sociedade

Além de dominar os fundamentos teológicos da fé — soteriologia, escatologia, cristologia e definição doutrinária —, o pastor tem a responsabilidade de dar respostas bíblicas a questões que atravessam a sociedade. Temas como feminismo, aborto, ética sexual, política, economia e cultura não são meros debates sociais; eles refletem visões de mundo que moldam comportamentos, valores e decisões. A igreja, e o povo de Deus em particular, precisa de orientação clara, baseada na Palavra de Deus, para discernir o que é certo e verdadeiro à luz do evangelho.

Quando falo em feminismo, por exemplo, não me refiro a debates ideológicos simplistas, mas à necessidade de apresentar a dignidade do homem e da mulher como criados à imagem de Deus, respeitando a diferença e a igualdade de valor diante de Deus. No aborto, o pastor deve declarar, com coragem e mansidão, o valor da vida humana desde a concepção, fundamentado nas Escrituras. Em política e cidadania, o pastor deve ajudar o povo a pensar sobre justiça, autoridade e responsabilidade social à luz de Romanos 13, sem cair no ativismo ou no sectarismo partidário, mas trazendo a perspectiva bíblica sobre como viver como sal e luz no mundo.

O pastor-teólogo não pode se omitir dessas discussões. Negar a necessidade de apresentar a cosmovisão bíblica é deixar a igreja sem bússola, vulnerável a ideologias passageiras e modismos culturais. Ao mesmo tempo, o pastor não fala apenas para a congregação. Efésios 4 nos lembra que o dom do pastor-mestre existe para edificar o corpo de Cristo, mas o ministério do pastor também tem dimensão pública. A sociedade em geral precisa ouvir de alguém que entende e pode explicar como a Palavra de Deus responde a grandes questões humanas e sociais, não de forma sectária, mas com clareza e autoridade.

Em outras palavras, o pastor é chamado a ser voz do evangelho em todos os contextos, apresentando a verdade de Deus tanto para os santos quanto para o mundo. Não é sobre impor uma visão, mas sobre apresentar a cosmovisão bíblica, mostrando que a fé cristã não é um sentimento particular ou privado, mas uma forma coerente e prática de compreender e viver o mundo. Uma igreja sem pastores capazes de falar sobre essas questões com segurança teológica e pastoral corre o risco de se perder em um mar de opiniões, modismos e pressões culturais.

Portanto, pastores, precisamos ser pastores-teólogos que conhecem, aplicam e comunicam a Palavra, capazes de cuidar do povo e ao mesmo tempo instruir a sociedade, sem medo, com amor, clareza e fidelidade à Escritura. Esse é o chamado urgente para a igreja brasileira hoje

Conclusão

Diante de tudo que vimos, fica claro que ser pastor-teólogo não é um detalhe ou luxo acadêmico — é uma exigência do próprio Senhor. Não podemos nos contentar com ministérios superficiais, com respostas prontas ou com posições vagas diante das grandes questões da vida e da sociedade. Somos chamados a ministrar a Palavra de Deus com fidelidade, clareza e autoridade, edificando o povo de Deus e proclamando a verdade ao mundo, mesmo quando isso contraria tendências culturais ou opiniões populares.

E, como nos lembra o apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 4:2: “Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel”. O Senhor não nos cobra sucesso segundo os padrões do mundo, nem prestígio, nem popularidade. Ele espera nos encontrar fieis à Palavra, fiéis à nossa vocação, fiéis em ensinar, pregar, aconselhar e guiar seu povo na verdade. Essa fidelidade é a medida de nosso ministério, e é a fidelidade que produz fruto duradouro na vida da igreja e na sociedade.

Portanto, pastores, nosso desafio é grande, mas nossa recompensa é certa: servir a Cristo com fidelidade, como mestres e pastores, apresentando a Palavra com clareza, coragem e convicção, confiando que o Senhor encontrará cada um de nós sendo fiel ao chamado que Ele confiou. Que possamos abraçar nossa vocação como teólogos públicos, conscientes de que nossa vida e ministério têm impacto eterno, não apenas na igreja, mas em toda a sociedade.


Referências:

O Pastor Como Teólogo Público – Kevin J. Vanhoozer e Owen Strachan – Editora Vida Nova

O Pastor como Mestre e o Mestre como Pastor – John Piper , D. A. Carson – Editora Fiel

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Corpo, Alma e/ou Espírito

A compreensão da natureza humana é central na teologia cristã. Estudar o homem implica examinar sua constituição física e espiritual, explorando corpo, alma e/ou espírito. A Escritura apresenta uma perspectiva clara sobre essa composição, distinguindo-se das abordagens filosóficas e científicas que surgiram ao longo da história. Compreender essa doutrina é essencial para interpretar corretamente a Bíblia, pois fundamenta conceitos cruciais como pecado, graça e redenção.


1. Antropologia Teológica: Corpo e Alma/Espírito

A antropologia teológica foca na natureza do homem à luz das Escrituras, destacando sua relação com Deus. Diferente da antropologia geral, não se limita à fisiologia ou cultura, mas à dimensão espiritual e moral do ser humano.

Gênesis 2:7 revela que Deus formou o homem do pó da terra e insuflou nele o fôlego de vida, tornando-o uma “alma vivente” (nephesh hayyah). Essa passagem enfatiza a unidade orgânica do homem, mostrando que corpo e alma não são partes isoladas, mas aspectos integrados de um ser criado por Deus. Desde a criação, o homem existe como um todo: físico e espiritual simultaneamente.


2. Dicotomia e Tricotomia: Debates Históricos

Historicamente, duas concepções buscaram explicar a constituição humana:

  1. Dicotomia – O homem é composto de corpo e alma/espírito, sendo a alma e o espírito uma única realidade imaterial. Essa perspectiva se consolidou na tradição reformada, especialmente com Agostinho e a Reforma Protestante, pois enfatiza a unidade do ser humano e a obra completa da redenção.

    • Base bíblica: Gênesis 2:7; Tiago 2:26; Mateus 10:28.

    • Alma e espírito são frequentemente usados como sinônimos (nephesh/ruah; psyque/pneuma).

  2. Tricotomia – Defende que o homem possui corpo, alma e espírito como três dimensões distintas. A tricotomia teve raízes na filosofia grega, influenciando alguns pais da Igreja como Orígenes e Clemente de Alexandria.

    • Corpo: dimensão física.

    • Alma: emoções, mente, vontade.

    • Espírito: capacidade de comunhão com Deus.

    • Uso de passagens como 1 Tessalonicenses 5:23 e Hebreus 4:12 fundamenta essa posição.

No entanto, uma análise cuidadosa revela que tais textos não indicam separação substantiva, mas enfatizam a totalidade do homem. Por exemplo:

  • 1 Ts 5:23 utiliza “espírito, alma e corpo” como recurso retórico para expressar santificação completa, não tripartição.

  • Hb 4:12 descreve a Palavra de Deus penetrando nas profundezas do ser, sem sugerir divisões ontológicas.

A tricotomia, portanto, possui base histórica e filosófica, mas não encontra respaldo sólido na Bíblia. A dicotomia permanece como a visão mais coerente e bíblica da natureza humana.


3. Unidade Orgânica do Homem

A dicotomia bíblica entende o homem como um ser integral, corpo e alma/espírito agindo de forma unificada. Cada decisão, emoção ou ação envolve a pessoa inteira. A redenção em Cristo, portanto, não é fragmentária, mas abrange o ser humano completo.

Teorias sobre Corpo e Alma

  • Monismo: corpo e alma como manifestações de uma mesma substância.

  • Dualismo realista: corpo e alma distintos, mas interagindo organicamente.

  • Ocasionalismo e paralelismo: ações correspondentes permitidas por harmonia divina, sem interação direta.

A Escritura apoia a ideia de unidade orgânica, onde a alma utiliza o corpo como instrumento e o corpo responde às decisões da alma. O ser humano é, assim, completo, consciente e responsável por suas ações.


4. A Origem da Alma: Criacionismo, Traducianismo e Preexistencialismo

O debate sobre a origem da alma possui três principais correntes:

  1. Criacionismo – Deus cria uma alma nova para cada pessoa. Essa visão harmoniza-se com a Escritura e preserva a pureza da alma.

  2. Traducianismo – A alma se transmite junto com o corpo pelos pais, enfrentando desafios filosóficos e cristológicos.

  3. Preexistencialismo – As almas existiriam antes do corpo, mas carece de suporte bíblico consistente.

O criacionismo é preferido dentro da tradição reformada por sua clareza bíblica, coerência ética e compatibilidade com a doutrina da redenção.


5. Implicações Teológicas

Entender a natureza humana é crucial para a teologia:

  • Pecado: a queda afetou corpo e alma/espírito.

  • Graça e redenção: Cristo redime o homem integral.

  • Encarnação de Cristo: afirma a plena humanidade e divindade do Salvador.

Essa compreensão fortalece a fé e a prática cristã, promovendo uma vida espiritual equilibrada e integral.


6. Conclusão

A Bíblia apresenta o homem como uma unidade composta de corpo e alma/espírito, criada diretamente por Deus. A dicotomia oferece a interpretação mais fiel às Escrituras, enquanto a tricotomia, apesar de histórica, permanece filosófica e retórica. Reconhecer a natureza integral do ser humano nos ajuda a entender pecado, santificação e redenção, e nos conduz a uma vida espiritual completa e consciente diante de Deus.

Soli Deo gloria
Franco Júnior

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E se John Wesley estivesse certo?

William H. Williamon escreveu um artigo intitulado “What if Wesley was right?” (E se Wesley estava certo?), dentro do livro “Our Calling to Fulfill” (Nosso Chamado para Cumprir), abordando os conceitos de John Wesley e suas implicações práticas para os dias atuais. Ele dialogou com a teologia de Wesley acerca de Deus e a Graça transformadora, afirmando que “se Wesley estava certo, então conferências sobre Wesley podem ser perigosas”, pois quando nos confrontamos com seus pensamentos teremos que rever nossas ações.

Tendo como inspiração o tema que Williamon levantou, parei para meditar em outras áreas que, se Wesley estava certo biblicamente e teologicamente, então, teremos sérios problemas com as nossas ações e pensamentos, pois não são somente as suas convicções, mas, em realidade, as convicções que o próprio Deus quer de nós. Em vista disso, enumerei cinco pontos que John Wesley pode nos instruir.

ECLESIOLOGIA: o mundo é minha paróquia

O modo que Wesley enxergava a igreja é muito diferente do que normalmente temos visto. Para ele, a Igreja não é o templo que usamos para cultuar a Deus e os membros não são aqueles que entram no prédio. Vai muito além disso! Seu campo de atuação é o mundo inteiro e seu público para a pregação são todos aqueles que não conhecem a Cristo. Se Wesley estava certo, não devemos focar nossos esforços demasiadamente nos templos e prédios apainelados, mas investir nossos esforços e recursos humanos nos campos brancos que estão à espera dos trabalhadores.

POBREZA: preferência aos desprovidos financeiramente

Uma das marcas mais nítidas na vida e ministério de Wesley é seu envolvimento com os pobres e os necessitados. De acordo com Mckenna “ter o espírito de compaixão pelo pobre” foi à forma como eram “conhecidos os wesleyanos”. A santidade de Deus é acompanhada pela justiça social, ela é a santidade de Deus em ação. Devemos ressaltar que o amor de Cristo vai além de simplesmente querer uma troca ou de um proselitismo camuflado de ação social; o amor dEle é verdadeiro e real. Se Wesley estava certo, nossas igrejas devem amar, ajudar e resgatar os desprovidos financeiramente.

EVANGELIZAÇÃO: pregação ao ar livre e em todos lugares

A história mostra que Wesley teve muitas dificuldades no início para aceitar a ideia de pregar ao ar livre, sendo somente depois de muita insistência do seu amigo George Whitefield que ele começou a ir para as ruas, fábricas, praças e aonde o aceitarem. Porém, depois de convencido dedicou-se a finco à sua responsabilidade missionária, que de acordo com Lelièvre: “Calcula-se que nos nove últimos meses do ano de 1739 ele pregou cerca de 500 vezes, das quais somente umas oito ou dez foram nas igrejas (…) [Wesley] Viajava em média 5.000 quilômetros por ano, a maior parte deles a cavalo. (…) [ele] aceitou a vida missionária como um dever, e sabia transformar a sua obrigação em trabalho verdadeiramente agradável”. Se Wesley estava certo, cada nação será nosso campo missionário, cada igreja será uma sociedade que envia missionários e cada membro aceitará sua responsabilidade missionária.

ECONOMIA: ganhe tudo o que puder, poupe tudo que puder e doe tudo o que puder

Uma das maiores dificuldades da sociedade moderna é se desfazer do apego financeiro. Na época de Wesley essa realidade não era diferente, e ele foi de encontro com qualquer tipo de pensamento e atitude gananciosa. Não foi por acaso que Wesley e seus companheiros foram apelidados pejorativamente de metodistas, pois seu estilo de vida era extremamente rigoroso, especialmente a parte financeira. Se Wesley estava certo, não ganhamos para ostentar, tão pouco poupamos para nos enriquecermos, mas utilizamos os recursos que Deus nos deu para investirmos no Reino dEle e para dividir o pão nosso com o nosso irmão desprovido.

JUSTIÇA: a luta contra a escravidão

Uma das contribuições mais significativas de Wesley para a sociedade é sua influência política contra a escravatura. O até então jovem William Wilberforce estava iniciando seus longos anos na carreira política e recebeu uma carta do respeitado pastor da Inglaterra, John Wesley, dizendo a ele que “Não se canse de fazer o bem. Eu sigo em frente em nome de Deus e no poder de Sua força, até que a escravidão americana (a mais vil que alguma vez viu o sol) possa ser banida diante dele”. Wesley tinha convicção que o cristão deve lutar pelos seus direitos e dos outros, para que haja justiça no mundo. Se Wesley estava certo, nós cristãos nos envolveremos com a política não para obtermos poder, mas para que a retidão, a justiça e a equidade, sejam garantidas (Pv 2:9).

Soli Deo gloria

Paternidade bíblica

Vivemos uma época em que os valores bíblicos são cada vez mais desafiados e distorcidos. O que antes era considerado bom agora é visto como mau, a luz é confundida com trevas, e conceitos fundamentais, especialmente os relacionados à família e à paternidade, estão sendo desconstruídos de forma alarmante. Este cenário nos leva a refletir sobre a urgência de reafirmar os princípios bíblicos em um mundo que constantemente os rejeita.

O movimento feminista moderno, por exemplo, levanta críticas severas ao patriarcado, frequentemente apontando o cristianismo como um dos pilares dessa estrutura que consideram opressora. Em muitos círculos, a visão bíblica de Deus como Pai é vista como arcaica e precisa ser desconstruída. No entanto, essa perspectiva ignora o verdadeiro significado do patriarcado nas Escrituras. Longe de ser uma forma de opressão, o patriarcado bíblico é um sistema onde o homem, como marido e pai, é chamado a cuidar, prover e proteger sua família, refletindo o amor e a provisão de Deus.

Ao rejeitar essa visão, o feminismo moderno muitas vezes promove um ódio contra a estrutura patriarcal sem entender seu propósito original. Essa ideologia, ao invés de buscar a verdadeira igualdade, acaba por criar uma competição entre os gêneros que desvirtua a harmonia que Deus projetou para homens e mulheres. O empoderamento feminino, que deveria ser uma celebração da dignidade e do valor inerente das mulheres, frequentemente se traduz em uma negação da feminilidade e em uma rejeição dos papéis complementares que Deus designou.

Além disso, a ausência paterna tem se tornado um problema cada vez mais comum. Com a crescente ênfase na autonomia feminina, muitos homens têm se afastado de seus papéis de liderança espiritual e moral dentro da família. Isso resulta em lares onde a figura paterna é desvalorizada ou mesmo ausente, deixando um vácuo que afeta profundamente a estrutura familiar.

Outro fator preocupante é a crescente intervenção do Estado na educação e na vida familiar. Historicamente, a responsabilidade de educar e guiar os filhos sempre pertenceu à família, com a escola e a igreja desempenhando papéis complementares. No entanto, hoje vemos uma tendência crescente de o Estado tentar assumir esse papel, promovendo ideologias que muitas vezes se opõem aos valores cristãos. Essa intervenção não é acidental, mas parte de uma agenda mais ampla que visa desconstruir a família tradicional e os valores judaico-cristãos que sustentam a sociedade ocidental.

O marxismo cultural, por sua vez, tem desempenhado um papel significativo nessa desconstrução. Ao relativizar princípios absolutos e promover ideologias como a ideologia de gênero, o feminismo radical e o politicamente correto, esse movimento visa desestabilizar a família, corroendo os valores que a mantêm unida. Karl Marx e Friedrich Engels, em suas obras, defenderam a abolição da família como uma estrutura opressora, e vemos hoje essa visão sendo colocada em prática de maneiras sutis, mas eficazes.

Diante de tudo isso, é essencial que os cristãos voltem à Palavra de Deus como sua referência principal. A Bíblia é clara ao ensinar que a responsabilidade de liderar e educar os filhos recai sobre os pais, e que essa liderança deve ser exercida com amor, sacrifício e respeito. A inversão desses papéis, promovida por ideologias modernas, tem causado confusão e disfunção em muitas famílias.

Precisamos lembrar que os princípios bíblicos não são apenas valores antigos que podem ser descartados ou adaptados conforme a conveniência cultural. Eles são fundamentos eternos, dados por Deus para o bem da humanidade. Em tempos de tanta incerteza e mudança, é mais importante do que nunca que os cristãos se mantenham firmes na fé, resistindo às pressões culturais e reafirmando o papel vital que a família desempenha no plano de Deus.

A Epidemia Silenciosa do Abandono Paterno

Vivemos em uma era onde o trabalho é altamente valorizado, mas, por vezes, essa dedicação excessiva ao trabalho pode gerar sérias consequências para as famílias. Um estudo realizado em 1999 revelou que divórcios são duas vezes mais comuns em casais onde um dos parceiros é considerado “workaholic”. Além disso, os filhos de pessoas viciadas em trabalho tendem a sofrer níveis maiores de depressão e ansiedade, até mais do que os filhos de alcoólatras. Isso demonstra que o excesso de trabalho pode ser tão prejudicial quanto vícios mais conhecidos.

No contexto familiar, o impacto de um pai ou mãe ausente pode ser devastador, mesmo que fisicamente presente em casa. Atualmente, não é necessário sair de casa para se ausentar dos filhos; muitos pais permanecem no lar, mas estão emocionalmente distantes. Essa ausência emocional gera filhos que, embora tenham pais vivos, crescem como órfãos. A desculpa mais comum é a falta de tempo, motivada pela necessidade de trabalhar para prover para a família. No entanto, o que muitas vezes ocorre é uma troca equivocada: a presença, o amor e os conselhos são substituídos por bens materiais, perpetuando um ciclo de trabalho compulsivo.

A presença paterna é tão crucial que o próprio Deus não permitiu que José, o pai terreno de Jesus, abandonasse Maria e o Filho que ela carregava. A Bíblia nos conta que José, ao considerar deixar Maria, foi instruído por um anjo a permanecer ao lado dela, reconhecendo que a criança em seu ventre era obra do Espírito Santo (Mt 1.20). José foi um pai presente e protetor, levando Jesus ao Egito para protegê-lo de Herodes e, depois, de volta a Nazaré, demonstrando a importância da presença paterna na vida do Filho de Deus.

Se até Jesus teve um pai presente, o que dizer de nós? A ausência paterna é uma epidemia silenciosa que tem destruído famílias dentro e fora das igrejas. Muitas crianças sentem a ausência de seus pais, e as consequências desse abandono são profundas. Especialistas em comportamento infantil identificam que a falta de uma figura paterna presente afeta as crianças desde cedo, resultando em baixo desempenho escolar, instabilidade emocional, baixa autoestima e comportamentos agressivos.

Pais que não cumprem seu papel e se ausentam de suas responsabilidades dentro do lar, transferindo a tarefa de educar, corrigir e amar seus filhos, contribuem para o desenvolvimento de traumas emocionais que podem durar uma vida inteira. Como igreja, precisamos estar atentos a essa realidade, incentivando pais a priorizarem sua presença e envolvimento na vida de seus filhos, seguindo o exemplo de José, que esteve ao lado de Jesus em todos os momentos cruciais de sua vida.

A paternidade bíblica

Segundo as Escrituras, a função dos pais e principalmente do PAI, vai muito mais além que ser o provedor das necessidades dos filhos, vai além de ser o super-herói, vai além da proteção, embora tudo isso seja função do pai, diante de Deus proteger e cuidar dos filhos não a função primordial.

Efésios 6:1-4

Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo. “Honra teu pai e tua mãe”, este é o primeiro mandamento com promessa: “para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra”. Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor.

O contexto que Paulo fala aqui da relação entre pais e filhos, indica que se trata de filhos pequenos, algo como crianças ou no máximo adolescentes, e traz importantes lições:

Em primeiro lugar: Os filhos devem obedecer aos pais (pai e mãe), ou seja, os pais têm autoridade sobre os filhos. Paulo entende que a relação entre pais e filhos é uma relação também espiritual, conforme ele mesmo ensina a partir de 5:18, e que, portanto, deve existir autoridade e submissão, exercer autoridade ou submetermos, é uma demonstração de que somos cheios do Espírito Santo.

Se os filhos devem obedecer aos pais, isso significa que os pais devem exercer autoridade sobre os filhos. Por tanto, ao educar os filhos, os pais não podem igualar-se aos filhos no sentido hierárquico, os pais não podem agir na educação dos filhos como “amigos”, que não tem autoridade sobre suas vidas, mas como pais, com autoridade de corrigir (com amor) quando necessário.

Os pais precisam transmitir valores de obediência aos filhos, isso acontece quando os pais ensinam que:

  • As ordens ou pedidos devem ser obedecidos;
  • Devem ser obedecidas de imediato;
  • Obedecer de forma respeitosa.

Fuja do modelo de pai que o mundo criou, o PAI AMIGO sem autoridade, essa não é a função bíblica do pai, pois antes de ser amigo (embora essa também seja a função do pai), precisa ser o pai educador e discipulador, aquele que ensina a criança o caminho que ela deve andar, o amigo não ensina, apenas acompanha, o pai ensina, encoraja, acompanha e corrige, e só se faz isso com autoridade.

O pai deve ser o grande companheiro de aventura, mas na condição sempre de autoridade.

Tudo isso porque a criação de filhos não é apenas sobre comportamento, mas principalmente sobre o coração, não é apenas levar o filha à igreja, mas ensinar quem é Jesus Cristo. A preocupação dos pais deve ser o coração do filho, a Palavra de Deus nos diz:

  • Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida. (Pv 4:23);
  • O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. (Jr 17:9);
  • Pois do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos… (Mc 7:21).

Se você não alcançar o coração do seu filho (pequeno), você fracassou como pai ou mãe. Toda a educação dos filhos deve ser direcionada ao coração.

Em segundo lugar: Os filhos aprendem a honrar os pais observando os próprios pais.

Há um texto atribuído a William Shakespeare que diz:

Há muito mais dos nossos pais em nós do que podemos imaginar…

Não sei se o texto é realmente de Shakespeare, mas está correto. Os filhos precisam do exemplo, os filhos precisam observar os pais orando, lendo a bíblia, obedecendo à Palavra de Deus, se submetendo ao Senhor, indo com alegria à igreja, visitando os pais (os avós da criança) e cuidando deles.

Muitos dos pensamentos e atitudes dos nossos filhos são repetições aprendidas conosco. Seja o exemplo para seu filho.

Em terceiro lugar: No versículo 1 Paulo se refere aos pais (pai e mãe) mas no versículo 4 ele se volta ao pai somente.

Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor

A responsabilidade de provisão da família está sobre o homem. Aqui Paulo diz o que fazer e o que não fazer na educação dos filhos.

O que não fazer: Não irretem seus filhos

Não use de sua autoridade para ser opressor, carrasco, legalista, autoritário. Essas atitudes levam ira ao coração dos filhos. Concordo com João Calvino que disse em seu comentário sobre o livro de Efésios:

Tal atitude excitaria o ódio e os levaria a lançar de si o jugo [paterno] de uma vez para sempre. Conseqüentemente, em Colossenses [3.21] ele adiciona: “para que não fiquem desanimados.” O tratamento bondoso e liberal conserva a reverência dos filhos para com seus pais, e aumenta a prontidão e a alegria de sua obediência; enquanto que uma severidade austera e inclemente suscita sua obstinação e destrói seu senso de dever.

O que fazer: criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor

Não podemos abandonar a disciplina, mas exercer a disciplina do Senhor, ensinado e o que Deus ensina e tratando nossos filhos como Deus nos trata.

Soli Deo gloria


Esse artigo foi baseado no livro Paternidade em Crise do Pastor Renato Vargens.
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Culto ou show?

Faz algum tempo que ao chegar na igreja para celebrar o culto ao Senhor me deparei com algo que me chocou muito, vi um palco iluminado com muitas luzes e até uma máquina de fumaça, lembrei do meu tempo de DJ, parecia uma “discoteca”. Fiquei chocado ao ver aquilo dentro da igreja que pastoreio, além das luzes, entristeceu-me o fato que alguns irmãos simplesmente achavam tudo aquilo não apenas normal, ou pior, gostavam, e creditavam que aquilo pudesse cooperar para atrair pessoas à igreja. Claro que não permiti que o culto ao Senhor se tornasse um show.

Infelizmente hoje em muitas igrejas, o culto ao Senhor tem se transformado em show. Em muitos casos não é possível identificar se o que há em algumas igrejas é culto ou show. Várias igrejas estão perdendo sua identidade. Nós temos adotado a esse termo (show) em nosso meio. Uma certa igreja (que se diz evangélica) utiliza o tremo “Show da Fé” para suas celebrações. As missas celebradas por um determinado padre são usualmente denominadas de “showmissas”.

As palavras culto e show não combinam, a não ser que lhes demos significados modernos. O dicionário Aurélio define show como “um espetáculo de teatro, rádio, televisão etc., geralmente de grande montagem, que se destina à diversão, e com a atuação de vários artistas de larga popularidade, ou às vezes de um só”. Ora, nessa definição, nada combina com o significado de culto, que o mesmo dicionário diz ser “adoração ou homenagem à divindade em qualquer de suas formas, e em qualquer religião”. “A igreja existe, não para oferecer entretenimento, encorajar vulnerabilidade, melhorar auto-estima ou facilitar amizades, mas para adorar a Deus. Se falharmos nisso”, conclui Philip Yancey, “a igreja fracassa”.

É fato, em muitas igrejas, o tempo destinado à exposição da Palavra é cada vez menor e o tempo reservado aos cânticos é cada vez maior. Em alguns cultos já não há lugar para o antigo sermão, nem para algum substituto dele. Embora a música de adoração seja de suma importância e de fundamento bíblico, o papel da música religiosa hoje em dia não implica, obrigatoriamente, uma elevação da qualidade dos adoradores e do culto. A decadência do culto transformado em show leva obrigatoriamente a outros absurdos.

Duas perguntas são necessárias antes de avançarmos:

1 – Tudo que vai ao altar é recebido por Deus?

2 – Deus aceita qualquer oferta?

Vivemos em uma sociedade centrada no homem (Antropocentrismo) o pensamento antropocêntrico é o que quero do jeito ou da forma ou da maneira que quero, na hora que quero com que eu quero e na quantidade que eu quero. Antropocentrismo é a filosofia que procura agradar ao homem. O homem é o centro de tudo, do universo, da sociedade, é o governo humano. Seus olhos buscam no outro aquilo que falta em você. No antropocentrismo nós buscamos possuir coisas que estão na moda e que servem de “chamativo visual” para sermos “notados” por outros.

Meu pedido é que você abra seu coração por um momento e julgue sinceramente aquilo que digo. Ore e peça sabedoria ao Senhor. Precisamos voltar ao verdadeiro culto a Deus. Precisamos voltar ao verdadeiro estilo de vida cristão.

Em 1887 Charles Spurgeon escreveu seguinte:

O fato é que muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, dança e ordenanças. Se nos encontramos incapazes de refrear essa enxurrada, podemos ao menos, prevenir os homens quanto à sua existência e suplicar que fujam dela. Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor seguem avidamente o caminho da tolice.

PRINCÍPIOS DO CULTO A DEUS

O profeta Malaquias aborda vários temas. Ele fala a respeito da eleição, da necessidade da consagração total do seu povo a Deus, do ministério dos líderes e sacerdotes, do casamento misto, divórcio, da vinda de Cristo no dia do juízo, dos dízimos e ofertas, do problema do mal, da prosperidade dos perversos e da aliança de Deus com o seu povo, incluindo a aliança de Deus com os sacerdotes e com o casamento. O livro é bastante variado, com temas muito importantes. E uma pena que Malaquias seja conhecido apenas como o profeta do dízimo, uma vez que a única passagem que fala acerca do dízimo constitui uma parte relativamente pequena de toda a profecia. Muito embora Malaquias tenha falado de tantos temas diferentes, todos estão relacionados com a principal preocupação do profeta: o culto a Deus. Essa era sua inquietação maior, porque ele viveu numa época em que o culto a Deus estava corrompido. Os sacerdotes tinham se corrompido: eram ineptos, descuidados, enfadados com o serviço prestado a Deus e não cumpriam corretamente sua função. O povo, por sua vez, não ficava atrás: questionava a justiça de Deus, sua bondade, seu amor, sua lealdade, trazia ofertas defeituosas para serem oferecidas em sacrifício, sonegava os dízimos e as ofertas, levava uma vida irregular no casamento, tanto que se casava com mulheres estrangeiras, assim contribuindo para corromper o povo de Deus, bem como se divorciava sem justa causa, quebrando a aliança com a mulher da sua mocidade, a esposa com a qual contraíra matrimônio.

Malaquias aparece nesse contexto do culto corrompido e traz uma mensagem da parte de Deus para uma renovação da aliança, arrependimento, conversão e restauração do culto a Deus. Portanto, trata-se de um livro em que podemos aprender vários princípios a respeito do culto que devemos tributar a Deus. Mas quais são esses princípios, essas lições que aprendemos em Malaquias para o culto?

O culto é a celebração pública e visível da aliança que temos com Deus

Essa é uma das grandes ênfases de Malaquias. Ele fala do Deus da aliança por diversas vezes. Essa aliança foi feita com o seu povo. Por meio dela, Deus se comprometeu a abençoar o povo, ser o Deus deles, cuidar da sua descendência e lhes dar vida eterna; e, da parte do povo, havia o compromisso de servir a Deus e andar nos seus caminhos. Os termos dessa aliança estão expressos no decálogo, em toda aquela legislação que Deus deu ao povo de Israel no Antigo Testamento. Porém, havia também a espada da aliança, que era o castigo de Deus para quem não a cumprisse. Esta era a dinâmica da aliança: “Se vocês guardarem a minha aliança e me obedecerem, serão abençoados; se me desobedecerem, serão castigados”. A aliança com o povo era selada pelos sacrifícios de animais no templo e pela circuncisão, que era seu selo externo.

Na época de Malaquias, essa aliança estava sendo quebrada pelos sacerdotes e pelo povo, quando profanavam o culto a Deus, trazendo a ele o que não deveriam, sonegando o que era de Deus, quebrando a aliança que tinham feito com a mulher da sua mocidade, da qual Deus era testemunha. Em consequência disso, Deus estava cumprindo o que havia prometido: estava deixando de abençoar o povo, não aceitava o seu culto, as colheitas eram minguadas, havia pragas e falta de chuva. E nesse contexto que Malaquias chama o povo a voltar ao contexto da aliança. “Voltem-se para mim, e eu voltarei para vocês, diz o Senhor; façam prova de mim e vejam se eu não vou abençoá-los”. Assim, o culto a Deus voltaria a ser aceitável. O mesmo ocorre conosco. Essa mesma aliança está em vigor ainda hoje, só que agora ela é chamada de nova aliança, a nova aliança em Cristo Jesus. É uma aliança superior, pois temos um mediador, Jesus Cristo, cujo sangue derramado é superior ao sangue dos animais. O culto que prestamos a Deus expressa exatamente isso. Os sacramentos que celebramos no culto, o batismo e a ceia do Senhor, são selos dessa aliança. A Palavra que é pregada no culto nos ensina os termos da aliança, mostra qual é a parte que cabe a Deus, o seu amor e a sua fidelidade, e qual a parte que cabe a nós, que é viver em seus caminhos.

Nossas orações são feitas com base nas grandes promessas do Deus da aliança. Os louvores que entoamos são os do Deus da aliança, o Deus gracioso. As ofertas que trazemos são expressões da nossa gratidão a esse Deus. Por isso, essa questão é extremamente sensível e precisa ser resgatada. O culto hoje é a celebração pública e visível da aliança que temos com Deus. Tudo que fazemos no culto tem a ver com essa aliança.

Quando temos essa visão aliancista do culto, as várias aberrações idolátricas ficam do lado de fora. O culto passa a ter mais sentido, pois entendemos por que estamos reunidos como povo para louvar a Deus.

Devemos cultuar a Deus da forma que ele revelou

Não podemos alterar nem acrescentar nada ao culto a Deus. Ele revelou com clareza na sua Lei o culto que desejava. Encontramos isso com muita clareza no Antigo Testamento. Ele revelou que tipo de ofertas deveriam ser trazidas e de que maneira deveriam ser apresentadas, os animais que poderiam ser sacrificados e a maneira de fazê-lo. Ele falou a respeito de quem poderia oferecer o sacrifício — os sacerdotes e levitas — , determinou a tarefa de cada um deles e instituiu leis e normas para que seu culto expressasse a sua vontade em relação a como Ele deveria ser adorado.

Na época de Malaquias, o povo e os sacerdotes estavam oferecendo a Deus um culto fora do padrão que Ele havia determinado. Traziam animais defeituosos, traziam apenas uma parte do dízimo, ofertas do que sobrava, e cometiam várias outras irregularidades, a ponto de Deus dizer: “Era melhor que um sacerdote dentre vocês fechasse a porta do templo e apagasse o fogo do altar, porque não aceito o culto que me oferecem; ele está fora do padrão que estabeleci”. A mesma coisa acontece hoje. E claro que todas aquelas normas e leis do Antigo Testamento, detalhadas com relação aos sacrifícios e ministérios dos sacerdotes, eram provisórias, temporárias, pois apontavam para o grande sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário. O Novo Testamento não prescreve normas detalhadas para o culto, não apresenta uma ordem litúrgica como havia no Antigo Testamento. Contudo, os elementos do culto a Deus são muito claros: as orações, os cânticos, a pregação da Palavra, os sacramentos e outros, os quais o Novo Testamento diz com clareza que fazem parte do culto a Deus. Não podemos inventar elementos de culto. Não nos cabe introduzir no culto invenções humanas, ainda que a pretexto de ser algo prático, de boa intenção, ligado à tradição, à antiguidade ou mesmo algo que todo mundo faz. Isso seria corromper o culto a Deus. Deus zela por seu culto e quer que o adoremos no Espírito e em verdade, com simplicidade e singeleza de coração, sem invenções humanas, sem essas coisas que hoje impregnam e contaminam o culto a Deus, como infelizmente vemos em certas igrejas no meio evangélico: desde objetos supostamente capazes de transferir a graça de Deus, todo tipo de aberrações vindas até mesmo do candomblé e do baixo espiritismo, até a introdução de antigos rituais judaicos no culto. Há segmentos evangélicos que querem trazer de volta ao culto as antigas práticas da comunidade de Israel, quando todas elas já passaram. Devemos adorar a Deus de acordo com sua Palavra, sem inventar partes ou elementos do culto para chegarmos diante do Senhor.

A tendência do homem de deturpar a palavra de Deus (e consequentemente o culto), mediante adição ou subtração, é a razão de Deus ter advertido Israel de nada acrescentar ou retirar de sua Palavra:

Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os juízos que eu vos ensino, para os cumprirdes; para que vivais, e entreis, e possuais a terra que o Senhor Deus de vossos pais vos dá. Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando (Dt 4.1,2).

Esta passagem da Escritura — além de outras semelhantes a ela — forma a base da doutrina chamada sola Scriptura [só a Escritura] dos reformadores protestantes. Isto é, somente a Bíblia é a autoridade final em todas as questões de fé e prática.

Portanto, tudo o que o homem faz deve ter por base mandamentos explícitos da Escritura, deve ser deduzido de forma lógica ou clara ou, caso seja circunstancial, ser ordenado pela luz da natureza e da prudência cristã, de acordo com as regras gerais da Palavra.

O Princípio Regulador do Culto

A Bíblia é nossa única regra infalível concernente à fé e prática. Não há área da vida na qual essa verdade seja mais aplicável que ao culto. Antes de entrar na terra prometida, Deus advertiu os israelitas da idolatria e do sincretismo com os cultos pagãos:

Guarda-te, que não te enlaces seguindo-as, depois que forem destruídas diante de ti; e que não perguntes acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram estas nações os seus deuses, do mesmo modo também farei eu. Assim não farás ao Senhor teu Deus; porque tudo o que é abominável ao Senhor, e que ele odeia, fizeram eles a seus deuses; pois até seus filhos e suas filhas queimaram no fogo aos seus deuses. Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem
diminuirás (Dt 12.30-32).

Tudo o que não é ordenado pela Escritura no culto a Deus é proibido. Tudo o que a igreja realiza no culto deve ter base em um mandamento divino explícito, ser lógica e claramente deduzido dele, ou derivar-se de um exemplo histórico aprovado. Da mesma forma que na Antiga Aliança nenhum aspecto do culto ou da disciplina da Igreja de Deus foi confiado à sabedoria ou ponderação humana — todas as coisas foram prescritas de modo objetivo pela autoridade divina —, também sob a Nova Aliança, nenhuma outra voz é ouvida na casa da fé, a não ser a do Filho de Deus. O poder da igreja é apenas ministerial e informativo. Ela deve apenas manter a doutrina, fazer cumprir as leis e executar o governo outorgado por Cristo. Nada do que o Senhor estabeleceu deve ser adicionado ou subtraído por ela. A igreja não possui poder deliberativo.

O conceito corrente entre algumas igrejas do movimento “gospel” e de algumas outras igrejas evangélicas é o da permissibilidade de tudo o que não é explicitamente proibido na Bíblia. Embora as igrejas reformadas e protestantes rejeitem esse conceito por não ser bíblico. A Confissão de fé de Westminster diz:

… o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens […] ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.

O que hoje designamos Princípio Regulador do Culto não é algo inventado por Calvino ou Armínio, mas se trata de um imperativo divino. É um aspecto crucial da lei divina. Dizemos que o mandamento de nada acrescentar é parte orgânica da lei toda, como lei e, portanto, toda adição humana ao culto divino, ainda que não contrarie nenhum mandamento de forma particular, é contrária ao mandamento geral de que nada deve ser adicionado.

As circunstâncias do culto

A fim de entender o Princípio Regulador do Culto de forma adequada, devemos perceber a diferença entre ordenanças referentes ao culto e suas circunstâncias, ou aspectos secundários. As ordenanças do culto são recebidas por orientação divina. Toda ordenança do culto é prescrita por Deus. Qualquer coisa relacionada a ele, com significado religioso e moral, deve se basear em ordenanças divinas (explícitas ou implícitas) ou em exemplos históricos aprovados. A igreja recebe todas as ordenanças do culto da parte de Deus, como foram reveladas na Bíblia. Ela deve obedecer a todas as ordenanças divinas e não possui autoridade para adicionar ou subtrair algo ordenado por Deus.

As circunstâncias do culto não dizem respeito ao conteúdo ou à cerimônia, mas referem-se ao que é “comum às ações e sociedades humanas”. A única forma de alguém aprender uma ordenança relativa à adoração é estudar a Bíblia e ver o que Deus ordena. No entanto, as circunstâncias do culto independem de instruções bíblicas explícitas; elas dizem respeito exclusivamente à revelação geral e ao bom senso (“prudência cristã”). Crentes e incrédulos sabem, indistintamente, que proteção e cuidado com temperatura ambiente são úteis para conduzir uma reunião. Também entendem a necessidade de acomodação, iluminação, vestuário etc. Além disso, depreende-se a escolha prévia de um horário para a realização da reunião.
Existem muitos aspectos comuns entre reuniões civis (ou seculares) e religiosas independentes de instruções bíblicas específicas. Essas são as circunstâncias, ou aspectos secundários, do culto.

O Princípio Regulador do Culto é ensinado por toda a Bíblia. Segue abaixo o exame de diversas passagens bíblicas que comprovam a proibição de tudo o que não é ordenado na Escritura a respeito do culto a Deus. As ordenanças do culto devem basear-se especificamente nas afirmações divinas, não em opiniões ou tradições humanas.

A oferta inaceitável

E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiulhe o semblante (Gn 4.3,5).

O que havia na oferta de Caim para torná-la inaceitável aos olhos de Deus? A preferência pela oferta de Abel e a rejeição da de Caim não foi arbitrária; ela se baseou na revelação apresentada a Adão e sua família. É óbvio que Deus revelou essa informação a Adão ao matar animais para cobrir o homem e sua mulher (Gn 3.21). Gerações mais tarde, Noé sabia que Deus aceitaria apenas animais e aves puros como holocausto (Gn 8.20). Caim, diferentemente do irmão Abel, decidiu, à parte da Palavra de Deus, que a oferta de frutos da terra seria aceitável ao Senhor. Deus, porém, rejeitou a oferta de Caim por ser uma invenção de sua mente. Ele não a ordenara; portanto, ainda que Caim fosse sincero no desejo de agradar a Deus, ele a rejeitaria da mesma forma. Deus espera fé e obediência à sua Palavra. Se o povo de Deus pode cultuar o Senhor segundo sua vontade, pelo fato de ordenanças humanas não serem expressamente proibidas, então não poderiam Caim, Noé ou os levitas oferecer a Deus uma salada de frutas ou uma cesta de nabos, por não haver proibição? E se Deus desejasse uma regulamentação estrita de seu culto à parte do Princípio Regulador, não seriam necessárias centenas de volumes (ou talvez milhares deles) para nos informar das proibições? No entanto, Deus, em sua infinita sabedoria, diz: “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (Dt 12.32).

Fogo estranho

E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o Senhor, o que não lhes ordenara. Então saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor (Lv 10.1,2).

Qual foi o pecado deles? Seu pecado foi o oferecimento de fogo estranho, portanto o texto diz que eles ofereceram fogo estranho, o que Deus não lhes ordenara… Contudo, onde Deus o proibira? Onde encontramos que Deus lhes proibiu o oferecimento de fogo estranho, ou a designação do oferecimento de apenas um tipo de fogo? Não existe texto na Escritura que se possa achar, do começo de Gênesis até esse ponto, onde Deus tenha dito terminantemente, de maneira expressa: Oferecerás apenas um tipo de fogo. No entanto, aqui, eles foram consumidos por Deus com fogo, por terem oferecido “fogo estranho”.

Quem rejeita o Princípio Regulador do culto divino enfrenta um problema real para explicar esse texto. Alguns afirmam que Nadabe e Abiú foram condenados por terem oferecido “incenso estranho”, por sua condenação expressa em Êxodo 30.9. Porém o texto não diz “incenso estranho”, mas “fogo estranho”. Outros declaram que lhes faltava sinceridade ou que estavam embriagados. Entretanto, qual razão nos apresenta o Espírito Santo para o juízo deles? Eles ofereceram fogo estranho “o que não lhes ordenara”. Quando se trata do culto a Deus, deve haver apoio da Palavra divina. Todos os elementos do culto a Deus devem basear-se na Palavra de Deus [e] serem ordenados. É insuficiente sua não-proibição […] Quando o ser humano concede respeito religioso a um objeto, por virtude de sua instituição, mesmo sem apoio da parte de Deus, eis uma superstição! Todos
devemos ser adoradores voluntários, mas não pessoas de devoção voluntariosa.

O erro de Davi e de seus homens

E puseram a arca de Deus em um carro novo, e a levaram da casa de Abinadabe, que está em Gibeá; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo. E levando-o da casa de Abinadabe, que está em Gibeá, com a arca de Deus, Aiô ia adiante da arca. E Davi, e toda a casa de Israel, festejavam perante o Senhor, com toda a sorte de instrumentos de pau de faia, como
também com harpas, e com saltérios, e com tamboris, e com pandeiros, e com címbalos. E, chegando à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus, e pegou nela; porque os bois a deixavam pender. Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus. (2Sm 6.3-7).

Davi e os homens envolvidos no transporte da arca eram inquestionavelmente sinceros no desejo de agradar a Deus com o intuito de levar a arca a Jerusalém. Todavia, o resultado desse esforço sincero foi o juízo divino: Uzá tentou evitar a queda da arca com sua mão por amar a Deus e se preocupar com sua arca. Porém, a despeito de toda a sua sinceridade e boas
intenções, acendeu-se a ira de Deus, e ele matou Uzá. Por quê? Porque a questão toda era muito ofensiva a Deus. O fato de Uzá ter tocado na arca foi o ponto culminante das ofensas desse dia. Os objetores do Princípio Regulador apostam no fato de Uzá ter sidomorto por algo claramente proibido na lei de Deus (i.e., tocar na arca). Sim, é verdade que Uzá morreu pela violação de uma proibição explícita da lei (Nm 4.15). No entanto, a análise do rei Davi a respeito do que aconteceu de errado naquele dia inclui todos os envolvidos, não apenas Uzá:

Porquanto vós [os levitas] não a levastes na primeira vez, o Senhor nosso Deus fez rotura em nós, porque não o buscamos segundo a ordenança. Santificaram-se, pois, os sacerdotes e os levitas, para fazerem subir a arca do Senhor Deus de Israel. E os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus sobre os seus ombros, pelas varas que nela havia, como Moisés tinha ordenado conforme a palavra do Senhor (1Cr 15.13-15).

Pelo fato de Deus ter ordenado aos levitas para carregar a arca com varas (Nm 4.6,15), era desnecessário proibir os homens de Judá de usar um carro de boi para transportá-la. O rei Davi e seus homens deveriam ter consultado a lei de Moisés e obedecido à sua prescrição. Em vez disso, eles agiram de forma pragmática. Imitaram os filisteus, que haviam usado um carro para levar a arca de volta a Bete-Semes. Quando se trata do culto a Deus, não nos é permitido improvisar, por melhores que sejam as intenções. A sinceridade é importante, mas ela deve estar de acordo com a revelação divina. Mesmo em relação às questões religiosas que nos pareçam pequenas ou  triviais, Deus ordena nossa ação segundo sua vontade revelada, e não inovações concordes com a nossa vontade: “A grande lição para todos os tempos é precaver-se de seguir as próprias sugestões no culto a Deus quando possuímos instruções claras de sua Palavra sobre o modo de cultuá-lo”.

Condenação do culto autônomo

E edificaram os altos de Tofete, que está no Vale do Filho de Hinom, para queimarem no fogo a seus filhos e a suas filhas, o que nunca ordenei, nem me subiu ao coração (Jr 7.31; v. tb. 19.5).

O Senhor condena a idolatria e o culto pagão dos filhos de Judá com a declaração: “o que nunca ordenei, nem me subiu ao coração”. Idolatria, assassinato e sacrifício infantil são explicitamente condenados na lei e nos profetas. Entretanto, Jeremias revela a essência do culto idólatra. Judá cultuava de forma improcedente do coração divino. O culto de Judá não se baseava no mandamento divino. Em vez de cultuar Deus segundo seu mandamento, eles “andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante” (Jr 7.24). Se os habitantes de Judá tivessem consultado a Palavra de Deus e lhe fossem obedientes, teriam sido poupados da fúria divina.

Lidamos com o Deus muito zeloso que deseja ser cultuado segundo sua estipulação, ou então ele não é cultuado. E não
podemos reclamar. Se Deus é o ser descrito pela Sagrada Escritura, é seu direito inalienável determinar e prescrever como
será servido.

Adoração vã

Então chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis
vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição? (Mt 15.1-3).

Os fariseus eram líderes religiosos respeitados do povo judeu. Eles criam ter a liberdade de fazer adições aos mandamentos divinos. A lei de Deus continha diversas lavagens cerimoniais para representar a purificação dos impuros. Os fariseus adicionaram outras lavagens para destacar e “aperfeiçoar” a lei de Moisés. Não existe mandamento expresso proibindo
essas adições cerimoniais, exceto o Princípio Regulador (e.g., Dt 4.2; 12.31). Elas não tinham fundamentação na Palavra de Deus. Jesus Cristo é o principal defensor do Princípio Regulador. Ele repreendeu fortemente os escribas e fariseus por fazerem adições à lei divina. O que acontece quando homens pecadores acrescentam regras e regulamentos à lei de Deus? Com o passar do tempo, a tradição humana substitui e corrompe a lei divina: “E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus” (Mt 15.6). A igreja cristã antiga acrescentou regras e cerimônias próprias ao culto a Deus e degenerou na Igreja Católica Romana pagã e idólatra. Se não mantivermos a linha divisória onde Deus a traçou, então, prova a história, a igreja degenerará posteriormente em algo um pouco mais bizarro que uma seita pagã. A repreensão de Cristo referente aos escribas e fariseus aplica-se hoje a quase todos (os chamados) ramos da igreja cristã: “Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mt 15.8,9).

Outros exemplos

O conceito de que apenas o que Deus ordena em sua Palavra é permitido no culto encontra-se na Bíblia toda. O rei Saul ofereceu um sacrifício ao Senhor sem autorização divina. Deus ordenou aos sacerdotes, e não aos reis, o oferecimento de holocaustos. O reinado foi retirado de Saul e de sua família para sempre (1Sm 13.8-14). Considere o rei Jeroboão que
estabeleceu um dia próprio de festa, bem como lugares sagrados e ofertas no “mês que ele tinha imaginado no seu coração” (1Rs 12.32,33). O rei Jeroboão era pragmático. Ele não percebia a necessidade de seguir as ordens expressas do culto a Deus. 
O livro de Reis apresenta seu culto autônomo e não autorizado — além da idolatria associada a ele —, como o paradigma do falso culto. Se o rei Jeroboão foi considerado ímpio por estabelecer seu dia de festa (dia santo), certamente a mesma designação é aplicável aos papas, bispos, e ao povo que estabeleceram o natal, a sexta-feira santa etc.

Paulo, na epístola aos Colossenses, concorda com o ensino do Antigo Testamento referente ao culto. Ele condena quem impõe leis dietéticas judaicas e dias santos à igreja (Cl 2.16). Pelo fato de as leis cerimônias terem sido “sombras” que apontavam para o “corpo” — Jesus Cristo —, elas foram abolidas; e dada a falta de autorização para elas, tornaram-se proibidas. A advertência paulina a respeito da filosofia humana é o pano de fundo da condenação do falso culto e das leis humanas (legalismo): “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Cl 2.8).

Paulo condena as doutrinas e os mandamentos humanos:

“Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade,
alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Cl 2.20-23).

Ele afirma que a adição à Palavra de Deus é apenas uma exibição de “devoção voluntária [e] humildade”. Trata-se de devoção
“voluntária” em lugar do culto segundo a vontade de Deus. As leis estabelecidas pelos homens suprimem a liberdade que temos . A lei moral de Deus é perfeita; adições são desnecessárias. Regras e regulamentos humanos não “concedem honra” ao crente. Deus concedeu à sua igreja um livro de salmos e um dia santo (o dia do Senhor). Pode o homem aperfeiçoar o culto instituído por Deus? Claro que não. É o ápice da arrogância e estupidez imaginar que homens pecaminosos possam melhorar as ordenanças de Deus. Isso é provocar a Deus, porque reflete sobre sua honra, como se ele não fosse sábio o suficiente para designar a forma do próprio culto. Ele odeia todo fogo estranho oferecido em seu templo (Lv 10.11). Uma simples cerimônia pode, com o passar do tempo, conduzir ao crucifixo. Quem contende pela cruz no batismo, não pode obter também o óleo, o sal e o unguento?

A necessidade do Princípio Regulador

A história da igreja tem demonstrado que o povo pactual de Deus tem sido desviado, não raro, da simplicidade do puro culto evangélico para todos os tipos de inovações humanas. Dada a natureza humana decaída e sua inclinação ao pecado, era inevitável que a autonomia humana relativa ao culto pervertesse e suplantasse o culto verdadeiro:

“E as franjas vos serão para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do Senhor, e os cumprais; e não seguireis o vosso coração, nem após os vossos olhos, pelos quais andais vos prostituindo. Para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sejais a vosso Deus” (Nm 15.39,40).

Muitas pessoas afirmam que o Princípio Regulador divino é bastante restritivo. Declaram que ele confina o espírito humano e reprime a criatividade humana. Dizem tratar-se de uma reação exagerada aos abusos cometidos pelo catolicismo romano. Todavia, examinemos as implicações lógicas da permissão de qualquer coisa não proibida pela Palavra de Deus no culto divino.
A primeira consequência é a substituição da simplicidade e da natureza transcultural do culto puramente evangélico por uma variedade quase infinita de inovações humanas. Pelo fato de Deus não estabelecer mais a linha divisória entre o conteúdo do culto e suas cerimônias, o homem poderia traçar e retraçar essa divisão como lhe agradasse. A igreja desobediente ao Princípio
Regulador divino considera impossível impedir o fluxo de novos conceitos e inovações no culto. As igrejas que abandonaram o Princípio Regulador no final do século XIX e início do século XX provam a veracidade deste ponto. Por não atentar ao Princípio Regulador  é que em muitas igrejas encontramos 
celebração de dias santos (Natal, Páscoa etc.), festa religiosas pagãs, utensílios judaicos, luzes e fumaça no púlpito, etc. Caso se dê ao homem pecador autonomia para escolher como cultuar, o padrão histórico é claro. O ser humano preferirá o culto centrado no homem. O homem pecador é sempre atraído pelo entretenimento (daí a popularidade dos “grito”, e o “pisar forte”, grupos de rock ou forró no louvor durante o culto de celebração, e cantores populares, etc.) e pelo ritual e pompa (catedrais, incensos, velas, sinos, dias santos, vestimentas papistas, liturgias etc.). Quando as inovações humanas terão fim? Elas não cessarão até que a igreja obedeça ao Princípio Regulador do Culto. Deus ordenou um mandamento que o homem não pode ignorar:

“[O] modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens […] nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”. O falso culto tem origem na mente humana, de acordo
com sua imaginação. O culto verdadeiro origina-se na mente de Deus e é revelado na Bíblia:

“Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o
caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem. Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos, mas andaram nos seus
próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante” (Jr 7.23,24).

Calvino, no comentário sobre Jeremias, usou este versículo para condenar todas as inovações perversas do culto papal:

Além do mais, caso se considere a origem de todo o culto papal, perceber-se-á que os primeiros a conceber superstições tão estranhas, foram impelidos apenas por sua audácia e presunção, a fim de poder calcar sob os pés a Palavra de Deus. Portanto, todas as coisas foram corrompidas; porque eles colocaram em operação todas as invenções de seu cérebro. Vemos que os papistas são tão apegados a seus erros até o dia de hoje que preferem a si mesmos e às suas quinquilharias que a Deus. E o mesmo acontece com todos os hereges. O que se pode fazer? Como disse, a obediência deve ser mantida como base da verdadeira religião. Caso desejemos render o culto aprovado por Deus, aprendamos a lançar fora tudo o que é nosso, para que a autoridade divina prevaleça sobre todas as nossas razões. – João Calvino.


Pr. Franco Júnior
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Pragmatismo religioso

“Sabe, porém isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão egoístas, avarentos jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes. Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé; eles, todavia, não irão avante: porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu com a daqueles” (II Tim. 3:1-9).

A Inglaterra, que uma vez já foi conhecida pela sua vitalidade espiritual, agora está mergulhada numa letargia espiritual e a visão missionária dos Estados Unidos está substituindo aquilo que a Inglaterra deixou de lado. Além disso, muita coisa do que Deus está fazendo hoje está acontecendo fora desses dois países. Eu espero que a Igreja no Brasil esteja em constante oração para que, a partir do Brasil, uma outra reforma e um grande despertamento venha e tome conta do mundo.

Não sabemos o que Deus vai fazer no mundo, mas seria muito emocionante se pudéssemos fazer parte daquilo que Ele deseja fazer no Brasil. É maravilhoso ser um cristão e saber que Deus tem todas as coisas debaixo do Seu controle. Todos nós sabemos da necessidade de um grande avivamento, mas ao mesmo tempo existe uma grande polêmica nesses dias sobre a questão. Sem sombra de dúvidas, se convidássemos as pessoas para uma reunião de avivamento, muitas delas viriam com conceitos diferentes do que é avivamento. Assim sendo, faz-se necessário ter uma definição clara em nossa mente do significado desse termo. Qual a diferença entre avivamento e avivalismo, se assim podemos chamar?

Avivalismo e Pragmatismo

Avivalismo, especialmente na tradição deixada por Charles Finney, é, na realidade, um fenômeno americano e queremos tratar de parte desse fenômeno. Não somente porque é um produto feito na América, mas porque muitos dos movimentos que estão vindo dos Estados Unidos para outras partes do mundo têm essa visão característica de entender avivamento segundo o modelo de Charles Finney.

Esse modelo tem como base o que nós chamamos de pragmatismo. Se você for abrir um negócio você tem que ser pragmático e se você vai criar uma família, existe uma série de considerações práticas que você precisa sempre ter em mente; e, certamente, o mesmo se aplica quando nós estamos fundando uma Igreja e queremos desenvolvê-la.

Todos sabemos que há preocupações práticas que devemos considerar, mas o pragmatismo é uma filosofia que empurra para a periferia uma série de princípios fundamentais e elege, como único fator relevante, a questão: “Isso funciona?”

Quais os perigos do pragmatismo? Voltando para o texto de II Tim. 3:1-9, consideraremos primeiramente os aspectos relativos à nossa chamada para o ministério. Vejamos, então, o contexto do nosso ministério. Paulo se refere a esse contexto como sendo o dos “últimos dias”. Sabemos que os “últimos dias” começaram com o tempo dos apóstolos, e terminarão com a segunda vinda do nosso Senhor. Portanto, estamos vivendo nos “últimos dias”, como, também, Timóteo estava vivendo nos “últimos dias”. Qual é o contexto, então, do ministério nesse período entre as duas vindas de Cristo? Paulo diz, em primeiro lugar, que nos últimos dias os homens serão amantes de si mesmos.

Narcisimo e Auto-Estima

Christen Lash, um sociólogo americano bastante conhecido, escreveu um livro sobre a cultura americana cujo título é: “O culto do Narcisismo”. Essa é uma acusação difícil de se fazer, porque o que ela implica é que a cultura americana é uma cultura onde as pessoas se endeusam. E como vocês se lembram “Narciso” é o nome daquele jovem da lenda grega que costumava admirar o seu próprio reflexo no espelho das águas. Mas isso não somente é parte da nossa cultura, como também se tornou parte das nossas igrejas. Muitos dos movimentos que se entitulam “avivados”, em nossos dias, simplesmente estão reavivando o narcisismo, ou seja: a adoração do “eu”. Isso pode ser visto na declaração de um desses pastores que afirmou: “A Reforma errou porque foi centralizada em Deus e não no homem, como devia ser”. Esse pastor escreveu um livro cujo título é: “Crendo no Deus Que Crê em Você”. Uma certa ocasião, trouxemos esse cidadão para falar no nosso programa de rádio. Então eu li essa passagem, onde Paulo diz que as pessoas serão amantes de si mesmas, e perguntei-lhe: “Como você pode dizer às pessoas que a salvação começa com o amor próprio, quando Paulo diz que nos últimos dias as pessoas serão amantes de si mesmas? Não estaria ele dizendo que isso é uma coisa errada, e que nós não devíamos ser amantes de nós mesmos? E como Deus vai nos fazer felizes com esse falso evangelho narcisista?”

O que está acontecendo é que a piedade e a santidade deixaram de ser os referenciais pelos quais julgamos se um movimento é ou não é do Espírito. Assim, o critério que tem sido adotado é: “Funciona? Vai me fazer feliz? Vai me ajudar a criar minha família? Vai consertar o meu casamento?”. Todas essas questões são importantes, à luz das Escrituras, mas não são as mais importantes.

Em segundo lugar, Paulo diz que eles serão amantes do dinheiro. Porque as pessoas amam excessivamente a si mesmas, elas criam o evangelho da auto-estima; e porque as pessoas amam excessivamente o dinheiro, elas criam o evangelho da prosperidade.

Rebeldia, desprezo pelo passado e busca do prazer

Paulo diz ainda que haverá muito orgulho e revolta contra as autoridades. Haverá pessoas desobedientes aos pais. Uma geração não se preocupará com a geração anterior. O cantor Bob Marley escreveu uma música sobre a cultura americana dizendo: “Povo do futuro, onde está o teu passado? Povo do futuro, quanto tempo vocês vão durar?” O povo que não tem passado também não tem futuro. Não sei se Bob Marley era crente, mas com certeza esses versos refletem um ponto de vista bíblico ao tentar se segurar naquilo que pede o seu passado.

Eu quero lhes garantir que se levarem a doutrina bíblica a sério, muitos irmãos e irmãs vão lhes dizer que vocês não estão andando nos passos do Espírito; vão lhes dizer que o Espírito Santo hoje quer fazer uma coisa inteiramente nova, tal como nunca fez no passado. E o que vocês vão falar? Vão falar sobre os grandes avivamentos do passado, sobre a Reforma? Qual o valor disso para os amantes de si mesmos e materialistas? Eles responderão que Deus está fazendo algo completamente diferente nos dias de hoje. Mais uma vez eu quero lembrar que isso faz parte do narcisismo que diz o seguinte: – “eu é que sou importante e aqueles da minha geração é que são importantes e não os que vieram antes de nós”.

E ele diz também que as pessoas serão hedonistas, amantes do prazer, nos últimos dias; como ele diz no verso 4, serão mais “amigos dos prazeres que amigos de Deus”. Mais uma vez queremos enfatizar: Se você perguntar em uma Igreja: “Vocês concordam com o hedonismo?” Creio que ninguém vai responder sim a essa pergunta. Mas se você entrar numa livraria evangélica, se ouvir uma emissora de rádio evangélica, se prestar atenção a muitos sermões evangélicos, você ouvirá mensagens afirmando que o Cristianismo é a melhor maneira para você se auto-realizar. Quantos testemunhos temos visto que funcionam como comerciais de televisão? Nos Estados Unidos, temos aquelas propagandas de dieta que mostram uma pessoa antes e depois da dieta. Muitas vezes, os testemunhos dos crentes são assim: “Antes eu era triste, agora sou feliz; antes eu era deprimido, mas agora eu estou extremamente motivado para viver”. Esses são benefícios maravilhosos, mas, por vezes, a verdade é que nós, como cristãos, nos tornamos tristes. Algumas vezes, o caminho da cruz é o caminho do sofrimento, e nem sempre estamos tão entusiasmados a respeito disso. Apesar de tudo isso, a perspectiva que predomina nos nossos dias é que temos que viver para satisfazer a nós mesmos.

Moralidade sem piedade

No verso 5 do texto destacado, Paulo diz: “tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”. Veja bem! O que Paulo está dizendo é que pode haver uma moralidade sem Deus. Existem pagãos que tem uma vida moral excelente, e há ímpios que acreditam ser errado você trair sua esposa. Há pessoas não cristãs que têm famílias muito boas. Mas será que este é o propósito do cristianismo? Consertar tudo aquilo que está moralmente errado no mundo, ou será que o foco está em Deus, nos Seus mandamentos justos, e no Evangelho pelo qual nós devemos viver?

É esse o contexto do nosso ministério. Então respondamos à pergunta: Qual o nosso chamado para o ministério? O exemplo de Paulo é alguma coisa que temos de imitar nesse sentido. Mas agora perguntamos: Como, historicamente, essa filosofia do pragmatismo dominou o pensamento moderno? A figura mais destacada no cenário evangélico, neste sentido, é a de Carlos Finney. Quantos de vocês já ouviram falar de Charles Finney? Quase todo mundo. Isso é significante porque Finney é uma pessoa muito importante para aqueles que são proponentes do movimento de crescimento da Igreja e do movimento de sinais e prodígios.

Evangelho ou Pragmatismo?

Charles Finney era presbiteriano, mas atacou a Confissão de Fé de Westminster que ele próprio subscrevera. Ele a chamou de: “um papa de papel”. Ele dizia, no século XIX em que viveu: “Nós já somos pessoas muito ilustradas e racionais para acreditar em todas essas coisas aí que a Confissão de Fé está dizendo”. Vejam algumas das coisas que Charles Finney escreveu:

Quando o homem se torna religioso – disse Finney – ele não recebe um poder que não tinha antes, ele simplesmente muda a sua vontade, e resolve seguir, agora, numa direção moral. Religião é obra do homem, não é um milagre e nem depende de um milagre em qualquer sentido; é simplesmente um resultado filosófico do uso correto de técnicas. O homem já possui, por natureza, toda a habilidade necessária para prestar perfeita obediência a Deus, portanto o objetivo do ministro é emocionar as pessoas até que se disponham a tomar essas decisões.

Foi dessa filosofia que nasceu o que ficou chamado naquela época de “novas medidas introduzidas por Finney”. Por exemplo: O sistema de apelo para que as pessoas se manifestem fisicamente e caminhem até à frente em resposta à pregação nasceu com Charles Finney, nesse período. Em sua Teologia Sistemática, Finney nega explicitamente a doutrina do pecado original. Ele diz ainda que a doutrina da substituição vicária de Cristo é uma ficção, e que a justificação pela graça, por meio da fé somente, é “outro evangelho”. Com certeza, é um evangelho diferente daquele que Finney estava pregando.

É isso que Paulo diz a Timóteo, quando fala de pessoas que têm forma de piedade mas negam, entretanto, o seu poder. Afinal de contas, onde reside o poder da piedade? É o poder de Deus para a salvação! E que poder é esse? É o evangelho de Jesus Cristo! Somente o Evangelho pode nos capacitar a viver a vida cristã. Portanto, é possível ter moralidade sem piedade; e esse é o resultado do pragmatismo.

Mais tarde, tornou-se conhecida a idéia de D.L. Moody. Ele disse no século XIX que não faz nenhuma diferença como você leva alguém a Deus; se você conseguir fazer isso, não importa o meio. O importante é levar, de qualquer maneira, a Deus.

Uma vez perguntaram a Moody: Qual é a sua teologia? Ele disse: “Minha teologia? nem sei se eu tenho uma!”. Vejam bem! Moody era um vendedor de sapatos, e um dia ele disse que ao se tornar evangelista não mudou de profissão, o que ele havia feito era trocado de produto.

Como abordamos o pragmatismo corporativo da nossa cultura? Alguns dizem que a contribuição distinta da América para a história da filosofia foi a criação do pragmatismo. Um dos grandes pais do pragmatismo e quem o transferiu da esfera religiosa para a esfera secular foi William James. Ele era filho de pastor; pastor, ele próprio, e também professor da Universidade de Harward. Ele disse: “Faça a seguinte pergunta: Como é que você define que determinada verdade é o que você deve crer?” E acrescentou: “A resposta é que você tem que determinar o seu valor em termos de experiência e resultado”. Então, com princípios pragmáticos, analisou a doutrina de Deus dizendo o seguinte: “Se a doutrina de Deus funciona, então é verdade. O pragmatismo tem que adiar questões dogmáticas porque no começo nós não sabemos qual reivindicação doutrinária vai produzir resultado”.

Acredito que quase ninguém iria marcar essas coisas num exame tipo teste dizendo que acredita nelas, mas, na prática, o que acontece é que esse é o credo do evangelicalismo mundial hoje. Um evangelista americano famoso disse: “Não tente entender, simplesmente comece a desfrutar, porque funciona; eu já tentei”. Ele estava falando a respeito da meditação transcendental da Nova Era. Na década de 50 do nosso século, esse pragmatismo se desenvolveu em termos de pensamento positivo. Foi então publicado um livro chamado “A Mágica do Crer”. Esse livro propõe que há uma certa qualidade mágica no simples ato de crer. Porém, a verdade é outra. No cristianismo, o que salva não é o ato da fé, mas sim o objeto da fé. Nós não somos salvos pela fé, não somos justificados pela fé; nós somos justificados pela justiça de Cristo que nos é imputada. Mas hoje em dia, desenvolveram essa equação de que fé é igual a pensamento positivo. Na realidade, essa última frase que mencionei foi uma citação de Peter Wagner.

Deus como objeto de consumo

Muito bem! Esses conceitos funcionam numa sociedade materialista, que está satisfeita e centralizada no ego; pode funcionar muito bem na América do final do século XX, pode ser até que funcione em São Paulo também, e pode funcionar em Londres. Mas imagine o seguinte quadro: Você vai a um cristão do século I e diz a ele que a razão principal pela qual ele está indo para a boca dos leões é porque o Cristianismo funcionou melhor do que as outras religiões!

Os testemunhos que temos no Novo Testamento são muito diferentes dos testemunhos que nós vemos hoje em dia. No Novo Testamento temos a palavra de testemunhas oculares, que é muito mais importante que o nosso próprio testemunho. O que é que Paulo disse em I Cor. 15? Ele disse: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e é vã a vossa fé… Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”. Ele não diz “pelo menos vocês têm uma vida feliz e saudável!”. E ele também não está dizendo “Bem! o que é que você pode perder?” Por que Paulo não fez isso? porque ele não era um pragmático. Paulo fundamentava todas as reivindicações da fé cristã no Evangelho verdadeiro.

Temos que nos perguntar: “Será que não estamos usando a Deus? Será que, finalmente, não embarcamos nesse consumismo da nossa sociedade? Será que não estamos tratando a Deus como tratamos um produto?” São perguntas muito importantes que devem ser feitas a nós mesmos. “Será que Deus está nos usando ou nós estamos usando a Deus?”

Reavivamento e Reforma não virão à Igreja até que a mentalidade dos crentes seja desviada desse egoísmo humano, da centralização no homem que Paulo descreve, para o verdadeiro Evangelho e para Deus.

Nos Estados Unidos, temos um adesivo que diz: “Jesus é a resposta”. Os incrédulos fizeram um outro adesivo para retrucar a esse: “Qual é a pergunta?” Considere, agora, o que diz o pragmatismo: “Eu não sei qual é o seu problema, mas qualquer que seja, Deus pode resolver. O seu carro está enguiçado? A sua vida familiar não está progredindo como devia? Deus pode consertar em um piscar de olhos!”. Assim, passamos a consumir a Deus. Nós usamos a Deus, ao invés de amá-Lo, servi-Lo e honrá-Lo.

Muito bem! Então qual é o propósito do nosso ministério? Vejamos o que diz Paulo:

“Tu, porém, tens seguido de perto o meu ensino, procedimento, propósito, fé longanimidade, amor, perseverança, as minhas perseguições e os meus sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, – que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor. Ora todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que desde a infância sabes as sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção para a educação na justiça. a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, que não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as cousas, suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” (II Tim. 3:10-4:5).

O modelo apostólico

Em primeiro lugar, o propósito do nosso ministério é seguir o modelo apostólico. Paulo menciona aqui o seu ensino, a sua maneira de viver, o seu propósito, a sua fé, a sua paciência, o seu amor, e a sua perseverança diante das tribulações. Perseguições? Sim! É o que ele diz no verso 12. Todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Será que é isso o que estamos ouvindo hoje? Ou será que estamos ouvindo outra mensagem? Algumas vezes você vai pensar que não está dando certo, que as coisas não estão funcionando como deveriam, como lemos em Romanos, capítulo 7. Nós sofreremos como cristãos, e ainda vamos sofrer com os nossos pecados.

A proclamação da Lei e do Evangelho

Além de seguir o seu exemplo, Paulo quer que Timóteo também se firme naquelas verdades que aprendeu quando era jovem. Veja que Paulo, ao invés de nos levar à questão do pragmatismo: “Será que funciona?”, ele nos conduz para as Escrituras. Ele diz: “’prega a Palavra’, com muita paciência instruindo as pessoas. Porque haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina. Ao contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como quem sente coceira nos ouvidos” (4:3).

Vejam! sempre temos coceira nos ouvidos. Pragmatismo não é uma coisa nova. Na realidade já foi praticado desde o jardim do Éden. Quando Eva viu que a árvore era agradável para se ver, para descobrir o conhecimento e desejável para trazer entendimento; então ela tomou do fruto e comeu. O que significa para nós “pregar a Palavra”? O que Paulo quer dizer no verso 5 “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista”?. O que ele quer dizer com isso, “pregar a Palavra”? Vez após vez, Paulo e os demais escritores bíblicos nos dizem que isso é a proclamação da lei. Na verdade, é pela proclamação da lei santa de Deus que nós somos tocados e feridos. A lei de Deus vem até nós e ela não vem dizendo assim: “Eu vou transformar a tua vida numa vida feliz!”, ela não vem dizendo: “Vou te dar prosperidade!”. Na realidade, a lei vem para nos dizer exatamente aquilo que Deus tem dito que requer de nós. A lei nos confronta com a glória de Deus e a nossa pecaminosidade torna isso aterrorizante!

Finalmente, o Evangelho vem e causa também impressão em nós. Há uma Igreja no Estado do Arizona, cujo pastor, numa entrevista que foi publicada na revista Newsweek, disse: “As pessoas hoje em dia não estão preocupadas com doutrinas como justificação, salvação ou expiação. Nos dias de hoje, ninguém entende esses termos. O que nós precisamos fazer é atender as necessidades das pessoas!”

Imaginem um professor! Vocês não acham que seria muito estranho se o professor chegasse dizendo assim: “Não posso ensinar o alfabeto para esta criança porque ela ainda não sabe português”. Esse é o tipo de argumento que esse pastor estava apresentando. Tanto que o que hoje se passa com o nome de pregação, na realidade, não é pregação da Palavra. Porque não apresenta nem a Lei nem o Evangelho. Esses pastores começam decidindo o que é que as pessoas de sua igreja desejam ouvir. Quais são os pontos que estão em moda hoje? Quais são as necessidades das pessoas dos dias de hoje? E aí, então, eles vão às Escrituras e procuram e acham passagens que podem ser usadas para apoiar essa necessidade, ao invés de, indo ao texto, perguntarem primeiro como a santidade de Deus nos convence do nosso pecado e como o Evangelho de Cristo pode ser tão claro que até pecadores como nós podem se arrepender e crer.

Mas vocês, irmãos e irmãs, ouçam o que Paulo diz, sejam sóbrios em todas essas coisas, preguem a palavra, suportem as aflições, façam o trabalho de evangelista, e cumpram cabalmente o ministério.


Michael Horton

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Princípios de Deus para o casamento

Meu espanto ainda é grande quando vejo que poucos “crentes” conhecem o princípio de Deus para o casamento, quase sempre deparo-me com pensamento de casais desejando a separação ou jovens me perguntando por que não podem praticar sexo antes do casamento de eles se “amam”.

Como seria salutar a todos se ao invés de perder tanto tempo nas rede sociais, investíssemos nosso tempo no conhecer ao Senhor.

Paulo responde algumas perguntas que ainda hoje são feitas pela igreja. O capitulo 7 de I Coríntios é a mais longa discussão sobre sexualidade e assuntos correlatados em todas as cartas de Paulo. As instruções ali mencionadas, não se encontram em nenhuma outra parte de seus escritos.

Neste capitulo, Paulo começa a responder as perguntas da igreja local, não é um tratado teológico sobre celibato e casamento, mas respostas diretas à algumas perguntas específicas.

Quanto aos assuntos sobre os quais vocês escreveram, é bom que o homem não toque em mulher, – 1 Coríntios 7:1

É preciso ressaltar que Paulo não esgota seu ensino sobre casamento aqui.

Antes de iniciarmos assunto, é necessário entendermos algumas expressões paulinas neste capitulo.

Digo isso como concessão, e não como mandamento. – 1 Coríntios 7:6

Aos casados dou este mandamento, não eu, mas o Senhor: que a esposa não se separe do seu marido. – 1 Coríntios 7:10

Aos outros eu mesmo digo isto, e não o Senhor: se um irmão tem mulher descrente, e ela se dispõe a viver com ele, não se divorcie dela.
1 Coríntios 7:12

Quanto às pessoas virgens, não tenho mandamento do Senhor, mas dou meu parecer como alguém que, pela misericórdia de Deus, é digno de confiança. – 1 Coríntios 7:25

Em meu parecer, ela será mais feliz se permanecer como está; e penso que também tenho o Espírito de Deus. – 1 Coríntios 7:40

Paulo faz uma distinção entre o que Cristo ensinou e o que ele está ensinando. O que Cristo ensinou ele não vai tratar novamente, pois o assunto já está decidido. Porém, aquilo que Jesus não ensinou, Paulo vai tratar dando orientação apostólica e inspirada para a igreja. Portanto não existe qualquer divergência entre Cristo e Paulo.

Paulo precisa lidar com algumas perguntas que Jesus não havia tratado. Quando uma questão levantada pela igreja de Corinto já havia sido tratada por Cristo, Paulo se referia as suas Palavras, mas quando a pergunta dos coríntios não houvesse sido tratada por Cristo, Paulo respondia à igreja com autoridade apostólica.

Os assunto que Jesus tratou sobre casamento e divórcio estão registrado em:

“Foi dito: ‘Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio’.
Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério”. – Mateus 5:31,32

Tendo acabado de dizer essas coisas, Jesus saiu da Galiléia e foi para a região da Judéia, no outro lado do Jordão.
Grandes multidões o seguiam, e ele as curou ali. Alguns fariseus aproximaram-se dele para pô-lo à prova. E perguntaram-lhe: “É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher por qualquer motivo? ” Ele respondeu: “Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ e disse: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém o separe”. Perguntaram eles: “Então, por que Moisés mandou dar uma certidão de divórcio à mulher e mandá-la embora? ” Jesus respondeu: “Moisés lhes permitiu divorciar-se de suas mulheres por causa da dureza de coração de vocês. Mas não foi assim desde o princípio. Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério”.
Os discípulos lhe disseram: “Se esta é a situação entre o homem e sua mulher, é melhor não casar”. Jesus respondeu: “Nem todos têm condições de aceitar esta palavra; somente aqueles a quem isso é dado. Alguns são eunucos porque nasceram assim; outros foram feitos assim pelos homens; outros ainda se fizeram eunucos por causa do Reino dos céus. Quem puder aceitar isso, aceite”. – Mateus 19:1-12

Então Jesus saiu dali e foi para a região da Judéia e para o outro lado do Jordão. Novamente uma multidão veio a ele e, segundo o seu costume, ele a ensinava. Alguns fariseus aproximaram-se dele para pô-lo à prova, perguntando: “É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher? ” “O que Moisés lhes ordenou? “, perguntou ele. Eles disseram: “Moisés permitiu que o homem desse uma certidão de divórcio e a mandasse embora”. Respondeu Jesus: “Moisés escreveu essa lei por causa da dureza de coração de vocês. Mas no princípio da criação Deus ‘os fez homem e mulher’.
‘Por esta razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’. Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém o separe”. Quando estava em casa novamente, os discípulos interrogaram Jesus sobre o mesmo assunto. Ele respondeu: “Todo aquele que se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério contra ela. E se ela se divorciar de seu marido e se casar com outro homem, estará cometendo adultério”. – Marcos 10:1-12

“Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher estará cometendo adultério, e o homem que se casar com uma mulher divorciada do seu marido estará cometendo adultério”. – Lucas 16:18

Quando Paulo diz que agora não é o Senhor, mas ele, é porque aquele assunto Jesus não havia tratado e agora ele irá tratar.

Ao responder as perguntas, Paulo tem em mente três grupos distintos:

  1. Cristãos casados com cristãos – 7:1-11
  2. Cristãos casados com não cristãos – 7:12-24
  3. Cristão não casados – 7:25-40

Cristão casados com cristãos – 7:1-11

Na igreja de Corinto havia dois  extremos. Um grupo pensava que sexo era pecado, mesmo no casamento, como ainda hoje alguns pensam. Esse grupo defendia que o celibato é um estado moralmente superior ao casamento.

O outro grupo, talvez formado pela maioria dos judeus, julgava que o casamento não era opcional, mas sim compulsório, obrigatório.

Para Paulo, tanto o casamento quanto a celibato são  dons de Deus, Paulo combateu os dois extremos.

Dois assunto são abordados por Paulo aqui, a pureza do casamento 7:1-9 e sua duração 7:10-11.

A pureza do casamento – 7:1-9

Paulo proíbe a multiplicidade de parceiros no casamento, ou seja, tanto a poligamia quanto a poliandria. Paulo ressalta o aspecto singular do casamento, “cada um deve ter a sua esposa, e cada uma o seu marido”.

Paulo proíbe a união homossexual (7:2). Quando Paulo diz que cada um tenha a sua esposa e cada uma tenha seu marido, fica claro a ideia de uma relação heterossexual. As relações homossexuais eram  algo comum no tempo de Paulo. mas ele define essa prática como uma paixão infame, um erro, uma distorção mental reprovável, uma abominação à Deus. A relação homossexual já é aprovada civilmente em muitos lugares, mas jamais será chancelada pelas leis divinas. O “politicamente correto” não é correto diante de Deus. Uma decisão não é ética apenas por ser legal.

Paulo proíbe o celibato compulsório (7:1). Paulo escreve: “… bom que o homem não toque em mulher…“. Essa expressão tem o sinônimo de casar-se.  O celibato é permitido, mas não ordenado. Nem todos tem o do do celibato (7:7-9). É por isso que a igreja romana enfrenta tantos problemas com a sexualidade de seus sacerdotes. O celibato não tem base bíblica. O celibato não pode ser imposto. Esse é o ensino de Cristo (Mt 19:10-12). O principio estabelecido por Deus desde o principio é que o homem não esteja só (Gn 2:18).

Paulo destaca a completa mutualidade dos direitos conjugais (7:3-4). Paulo vivia em uma sociedade machista, mas ele quebra esse paradigma da cultura prevalecente e afirma a igualdade dos direitos conjugais. Paulo diz: ” O marido conceda à esposa o que lhe devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao marido” (7:3).  Paulo está falando do relacionamento sexual, o dever habitual para ambos. Diante de Deus, o sexo fora do casamento é pecado, mas no casamento, a ausência de sexo também é pecado. Marido e esposa tem direitos assegurados por Deus de desfrutarem a plenitude da satisfação sexual no contexto sacro do casamento.

Paulo prossegue afirmando: ” A mulher não tem poder sobre seu próprio corpo, e sim o marido; também, semelhantemente, o marido não tem poder seu seu próprio corpo, e sim a mulher” (7:4). O conceito divino, é que o sexo é um direito legítimo do cônjuge.

Paulo vai mais profundo nessa questão quando escreve: “Não vos priveis um ao outro” (7:5a). A pratica do sexo no casamento é uma ordem apostólica. A ausência de sexo no casamento é pecado. Hernandes Dias Lopes [1] citando Charles Hodge diz que nada poderia ser mais estranho à mente do apóstolo Paulo do que ver os cristãos enchendo os mosteiros e conventos da igreja medieval.

Paulo afirma que o casal só pode se abster de sexo quando ambos estão em sintonia a respeito da decisão de que por um curto espaço de tempo, irão dedicar-se expressamente a oração. Muitos casais cometem erros gravíssimos, dando desculpas infundadas para “fugir” da relação sexual, alegando cansaço, dor de cabeça, etc. A bíblia ensina que negligencia sexual para com seu cônjuge é pecado. Sempre que ensino este mandamento alguns casais perguntam-me: “Mas se realmente um dos cônjuges estiver realmente cansado?“. Se o cansaço for uma frequência que traga a interrupção da relação, há uma inversão de valores que deve ser corrigida imediatamente para que nada venha afastar o casal, nem oração, nem trabalho, nem filhos, nem os pais, etc. Há ainda casos de pessoas que se escondem atrás de uma falsa espiritualidade para sonegar ao cônjuge a satisfação sexual. Isso está em desacordo com o padrão bíblico. Mesmo quando a abstinência for por causa de oração, Paulo não recomenda que este período seja longo. Ele diz: “[…] e, novamente vos ajunteis” (7:5).

Paulo conclui dizendo: “[…] para que satanás não vos tente por causa da incontinência” (7:5). Sempre que um casal descumpri esse mandamento, o diabo entra na vida do casal e arrebenta com o casamento, é quando muitos se perguntam, “onde foi que eu errei?“.

A duração do casamento – 7:10-11

Não sei responder quantas vezes por ano sou interpelado sobre a duração do casamento, casais me questionam se realmente não podem separar-se, os “motivos” para separação são inúmeros, na grande maioria sem fundamento, sem razão de ser, desejam separar-se apenas porque na verdade são incapazes ou simplesmente não desejam cumprir o que a palavra de Deus determina para o casamento.

Paulo diz: “Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do seu marido” (7:10). O Senhor já havia tratado do assunto do divórcio (Mt 19:3-12), não é necessário Paulo tratar novamente. O casamento deve durar enquanto durar a vida (7:39-40).

As mesmas perguntas que muitos fazem hoje, a igreja de Corinto também fez.

  • O que fazer se eu estiver arrependido de ter casado?

Há muitos casais nesta situação dentro das nossas igrejas. Há pessoas que depois de terem casado reconhecem que fizeram uma grande besteira. O que fazer agora? Paulo responde com um desafio aos casais que veem poucas ou nenhuma esperança em seu casamento: “Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do seu marido” (7:10-11). Casou, permaneça casado. Busque no Senhor e na sua palavra formas de transformar o casamento conforme deve ser, segundo as escrituras.

  • O que fazer quando a situação se torna insustentável?

Há casamentos que adoecem a tal ponto que a decisão de permanecerem juntos pode ser arriscada, já vi casos que é melhor, até para garantir saúde emocional, a separação. Para esses casos Paulo oferece duas soluções. A primeira solução: separe, mas fique sozinho. (7:11a). A segunda solução: faça a reconciliação (7:11b). Contudo, de maneira algumas o apóstolo apoia o divorcio.

Paulo reafirma assim o ensino de Jesus de que o divórcio só é permitido para o cônjuge que foi vítima de infidelidade conjugal (Mt19:9).  O ensino bíblico é que “[…] o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19:6). Deus colocou muros ao redor do casamento não para fazer dele uma prisão, mas um lugar seguro.

Cristãos casados com não-cristãos – 7:12-24

Antes de mais nada, Paulo não está tratando aqui de casamento misto (cristão casou com não-cristão). O ensino bíblico sobre isso é bastante claro. O casamento deve ser no Senhor (7:39). Para Paulo, namoro misto constitui um ato de desobediência aos preceitos divinos.

Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e Belial? Que há de comum entre o crente e o descrente? – 2 Coríntios 6:14,15

Algumas pessoas na igreja de Corinto se converteram ao evangelho depois de casadas. Essa é a problemática que Paulo trata aqui. A igreja levanta a seguinte pergunta: “Devemos permanecer casados com nossos cônjuges incrédulos?“. Paulo responde com um SIM. “Aos mais digo eu, não o Senhor…” (7:12-13). Aqui o Senhor não havia tratado dessa matéria. Agora é Paulo que vai tratar do assunto, e ele diz: “[…] se algum irmão tem mulher incrédula, e essa consente em morar com ele, não a abandone; e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido” (7:12-13).

É um ato de desobediência um cristão casar-se com um incrédulo, Mas se a pessoa se torna cristão depois de ter se casado, ela não não pode usar esse acontecimento como justificativa para a separação. Ao contrário! Ela precisa exercer a influência que tem como cristã para transformar seu lar e levar seu cônjuge à conversão (7:17-24). Paulo diz que a conversão não altera nossas obrigações sociais.

A dissolução do casamento – 7:15

Há casos em que o cônjuge incrédulo se recusa a conviver com o cônjuge crente. Caso o cônjuge incrédulo tome a iniciativa de separar-se do cônjuge crente, este fica livre do jugo conjugal (7:15). John Stott diz:

Se o cônjuge incrédulo desejar permanecer casado, então o cônjuge crente não deve recorrer ao divórcio. Mas se o cônjuge incrédulo não desejar permanecer casado, então o cônjuge crente está livre para divorciar-se e até casar novamente. – John Stott [2]

Em resumo, dos assuntos não tratados por Jesus, Paulo esclarece que só por abandono é permitido o divórcio aos cristãos. A regra geral, é que só há duas condições aceitas para o divórcio do cristão: infidelidade (Mt 19:9) ou abandono (7:15). A confissão de fé de Westminster retifica a infidelidade e o abandono como os únicos motivos para o divórcio e um novo casamento.


Notas:

[1] Henandes Dias Lopes, 1 Coríntios – Comentários expositivos, Hagnos

[2] John Stott, Grades questões sobre sexo.

1 Corintios, Simon Kistemaker, cultura cristã

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Simonia

Esse comportamento derivou o seu nome de Simão, o mágico, um personagem bíblico que tentou comprar dos apóstolos Pedro e João o poder de conceder o Espírito Santo àqueles sobre os quais ele impusesse as mãos (At 8.18-24). Assim, a simonia veio a se referir à concessão ou obtenção de qualquer coisa espiritual ou sagrada mediante remuneração, fosse ela monetária ou de outra espécie. Em outras palavras, era a compra e venda de coisas religiosas. Cometia esse pecado quem oferecia e quem recebia pagamento em troca de um bem espiritual ou eclesiástico. Na Idade Média, referia-se principalmente ao comércio de cargos da igreja. Um papa que se notabilizou por sua luta incessante contra esses males foi Hildebrando, ou Gregório VII (1073–1085), que adotou como lema de seu pontificado as contundentes palavras de Jeremias 48.10: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente!”.

Curiosamente, em certo sentido a Reforma Protestante surgiu como consequência de dois casos de simonia. Um deles foi a compra do arcebispado de Mainz, ou Mogúncia, na Alemanha, pela poderosa família Hohenzollern, mediante uma negociação questionável com o papa Leão X envolvendo altas somas de dinheiro. O segundo caso ocorreu quando o novo arcebispo (e futuro cardeal) Alberto de Brandenburgo promoveu uma venda especial de indulgências, cujos rendimentos foram utilizados em parte para saldar a dívida da compra do arcebispado, sendo a outra parte entregue ao papa para financiar a construção da catedral de São Pedro, em Roma. A reação de Martinho Lutero contra esse comércio do perdão, mediante suas Noventa e Cinco Teses, foi o estopim da Reforma.

Durante séculos, o ministério protestante foi caracterizado por elevados padrões éticos, especialmente na sensível área das finanças. Seguindo o exemplo de Cristo e seus apóstolos (At 20.33s; 2Co 11.7), a maior parte dos pastores e líderes procuravam realizar o seu trabalho como uma expressão de serviço desinteressado a Deus e às pessoas, isento de ambições materiais. Mesmo indivíduos de grande projeção, como avivalistas e evangelistas de massa (Wesley, Whitefield, Spurgeon, Billy Graham e outros), jamais usaram de seu grande carisma e influência para auferir vantagens pecuniárias e aumentar o seu patrimônio. Tal comportamento sóbrio e consciencioso ocorreu em todos os ramos do protestantismo, tanto os tradicionais ou históricos como, mais tarde, os pentecostais clássicos.

Esse honroso legado sofreu um abalo lamentável e constrangedor no Brasil, a partir da década de 1970, com o surgimento do chamado neopentecostalismo. Firmados numa teologia duvidosa, resultante de uma interpretação tendenciosa e altamente seletiva das Escrituras, os principais líderes desse movimento vêm demonstrando uma atitude em relação ao dinheiro que em nada difere do velho pecado da simonia. Servindo-se do poderoso veículo da televisão e manipulando com habilidade as carências e ambições de uma considerável parcela da população, esses pregadores têm transformado o evangelho e suas bênçãos em mercadoria e fonte de lucro (2Co 2.17; 1Tm 6.5,10).

A recepção de benefícios como a cura, a prosperidade e a felicidade é condicionada à entrega de contribuições, dando-se a entender que as bênçãos serão proporcionais à generosidade do ofertante. Fica inteiramente esquecido o ensino claro de Jesus: “[…] de graça recebestes, de graça dai” (Mt 10.8). Em consequência disso, surgiu uma geração de pastores-empresários que estão se colocando entre os homens mais ricos do país. Dominados pela ganância condenada com tanta veemência nas Escrituras (1Ts 2.5; Tt 1.7; 1Pe 5.2), estão acumulando grandes fortunas na forma de mansões, fazendas, carros de luxo e, agora, o símbolo máximo dos novos ricos – jatinhos particulares. Eles influenciam de tal forma os seus seguidores que estes, além de não questionarem tal procedimento, acham que seus líderes merecem os privilégios que usufruem.

Não se discute que os obreiros cristãos sejam remunerados condignamente pelo seu trabalho (2Co 8.14). O que se lamenta é a mercantilização da fé, que tantos prejuízos tem trazido para a causa de Cristo ao longo dos séculos, obscurecendo a graça de Deus, o seu favor imerecido. Os modernos simoníacos não só estão manchando para sempre a sua própria reputação, mas também contribuindo para prejudicar a imagem de toda a classe ministerial e das comunidades evangélicas. Suas ações têm produzido e continuarão a produzir reações negativas da imprensa, da opinião pública e dos governantes. Eles fariam bem em considerar as palavras ditas pelos apóstolos a Simão, o mágico – e se arrependerem enquanto é tempo.

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Dízimo, outra vez?

Um dos assuntos mais debatidos hoje dentro das igrejas sem dúvidas é a validade do DÍZIMO, todos os dias vejo cristãos postando nas redes sociais frases contrarias ao dízimo, o que mais chama a atenção não é apenas o posicionamento das pessoas sobre o assunto, mas a fundamentação, TODAS as pessoas que conheço que se dizem contrarias ao dízimo são superficiais biblicamente, inconstantes, alheios a todo corpo e alegam não ser uma prática no Novo Testamento.

Em minha opinião apesar de entender que do ponto de vista neotestamentário o dízimo  não é normativo, tenho percebido que muitos daqueles que advogam a abolição do dízimo  o fazem por razões escusas, cujas motivações principais se devem  a avareza, falta de conhecimento bíblico e/ou adesão ao pluralismo e relativismo religioso.

DIRETO AO PONTO

O dízimo assim como muitas das instruções/mandamentos veterotestamentário são princípios e não meramente um conjunto de regras, vamos entender. Todo o antigo testamento serve de AIO (tutor), Gálatas 3:24 – παιδαγωγος paidagogos. Tutor, i.e., um guardião e guia de meninos. Entre os gregos e os romanos, o nome era aplicado a escravos dignos de confiança que eram encarregados de supervisionar a vida e a moralidade dos meninos pertencentes à elite. Aos meninos não era nem mesmo permitido sair de casa sem a sua companhia até que alcançassem a idade viril.

Para quem acredita que o dízimo é algo imposto pela lei mosaica, deve entender que antes da lei Abraão dizimou.

Esse Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, encontrou-se com Abraão quando este voltava, depois de derrotar os reis, e o abençoou; e Abraão lhe deu o dízimo de tudo. Em primeiro lugar, seu nome significa “rei de justiça”; depois, “rei de Salém” quer dizer “rei de paz”. Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, feito semelhante ao Filho de Deus, ele permanece sacerdote para sempre. Considerem a grandeza desse homem: até mesmo o patriarca Abraão lhe deu o dízimo dos despojos! – Hebreus 7:1-4

E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou seus inimigos em suas mãos”. E Abrão lhe deu o dízimo de tudo. – Gênesis 14:20

Melquisedeque recebeu dízimos – מעשר ma Ìaser = dízimo, décima parte – de Abraão, 2.000 anos antes de Cristo e 700 anos antes da lei mosaica. O costume de pagar o dízimo era muito comum entre os povos semíticos. A forma como este fato foi mencionado parece indicar que se tratava de um costume estabelecido. O voto de Jacó (Gn 28.22) acrescenta ainda mais peso a esta opinião.

O dízimo de Israel consistia de um décimo de toda a produção anual de alimentos e do crescimento dos rebanhos de ovelhas e gado. Era um costume considerado sagrado para Jeová, da mesma forma que o aluguel ou imposto feudal dedicado a Ele que era, realmente, o dono da terra. Certas Escrituras sugerem que esses dízimos consistiam de décimo de tudo que restava das “primícias de todos os frutos da terra”, depois que a oferta sacerdotal havia sido separada (Êx 23.19; Dt 26.1ss). Como a lei não estabelecia a quantidade a ser oferecida como uma oferta das primícias, alguns consideram as regras do dízimo como a definição do que deveria ser pago. Outros consideram o dízimo um complemento destes primeiros frutos. Fontes judaicas indicam que essa segunda hipótese é verdadeira e que as “primícias dos primeiros frutos” geralmente representavam uma quinta parte da produção.

No Pentateuco, a legislação sobre os dízimos era a seguinte:

1. Levítico 27.30-33. Um décimo de toda a produção (safras, frutas, azeite, vinho) e de todos os animais deveria ser dedicado ao Senhor. O dízimo da produção da terra podia ser compensado (ou “remido”) se a ele fosse acrescido um quinto de seu valor. O dízimo dos animais não podia ser compensado. O crescimento do rebanho era calculado e todo décimo animal era considerado santificado para o Senhor. Isso estava de acordo com as instruções dadas a Israel, anteriores ao Sinai, de que os primogênitos dos rebanhos pertenciam ao Senhor (Êx 13.12,13). Tudo o que passasse “debaixo da vara” (Lv 27.32) era designado aos levitas para fazer o que bem entendessem, pois não haviam recebido nenhuma parte da terra como herança (cf. Nm 18.21-32). Além desse dízimo, os levitas pagavam um dízimo (ou oferta alçada) aos sacerdotes, que deveria ser levado ao templo de Jerusalém. Neemias 10.38 sugere que havia uma supervisão dessa divisão de dízimos.

2. Deuteronômio 12.5,6,11,18 (cf. Am 4.4). O dízimo das festas correspondia a um décimo dos nove décimos que restava. Devia ser separado e levado para Jerusalém onde era consumido como refeição sagrada pelo ofertante e seus familiares, junto com o levita que está dentro das suas portas (Dt 12.15). Se a distância era proibitiva, os dízimos podiam ser vendidos e o dinheiro usado para a compra de alimentos ou animais para servirem como ofertas em Jerusalém (cf. Dt 14.22-27).

3. Deuteronômio 26.12-15; 14.28-29. O dízimo trienal ou dízimo da caridade, oferecido durante o terceiro ano, era destinado aos levitas, aos estrangeiros, aos órfãos de pai e às viúvas.
As opiniões diferem em relação a esse terceiro dízimo. De acordo com Josefo ele era, na verdade, um terceiro dízimo oferecido a cada três anos, do qual os levitas e os sacerdotes eram obrigados a participar. Outros afirmam que a cada três anos, o segundo dízimo, ou dízimo da festa, era oferecido aos pobres em casa, invés de ser levado a Jerusalém.
O pagamento do dízimo não era obrigatório, mas uma questão de consciência perante o Senhor. O povo deveria obedecer a estes decretos com todo coração e alma (Dt 26.16). A cada três anos deveria ser feita uma solene declaração no último dia da Páscoa, dizendo o seguinte: “Obedeci à voz do Senhor, meu Deus; conforme tudo o que me ordenaste, tenho feito” (Dt 26.14).

Dízimo nos tempos de Jesus mas ainda na antiga aliança

A nova aliança inicia-se quando Jesus é assunto aos céus, isso significa que as narrativas da vida de Jesus são regidas pela antiga aliança, uma vez que para a nova aliança ter inicio, Cristo precisava morrer.

Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para que os que são chamados recebam a promessa da herança eterna, visto que ele morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a primeira aliança.

No caso de um testamento, é necessário que comprove a morte daquele que o fez; pois um testamento só é validado no caso de morte, uma vez que nunca vigora enquanto está vivo aquele que o fez. – Hebreus 9:15-17

Embora haja algumas passagens mencionando o termo dízimo no novo testamento, todas as vezes ainda é feita sob a antiga aliança, no entanto Jesus não faz nenhuma exortação contrariando a prática, exemplo:

Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas. – Mateus 23:23

Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho – Lucas 18:12

Ai de vocês, fariseus, porque dão a Deus o dízimo da hortelã, da arruda e de toda a sorte de hortaliças, mas desprezam a justiça e o amor de Deus! Vocês deviam praticar estas coisas, sem deixar de fazer aquelas. – Lucas 11:42

Na nova aliança

Na nova aliança há uma passagem que refere-se ao dízimo, Hb 7. 1-10; Eis as lições desse texto:

  • O Pai da fé deu dízimo de tudo – v. 2;
  • O pai da fé deu o dízimo do melhor – v. 4;
  • A entrega dos dízimos se deu não por pressão da lei, uma vez que o povo israelita ainda não existia e, portanto, muito menos a lei judaica – v. 6;
  • Hebreus nos faz perceber e reconhecer a superioridade do valor do dízimo que é dado a Cristo (imortal) em relação ao dado aos sacerdotes (mortais) – v. 8;
  • O autor destaca que os que administram os dízimos também devem ser dizimistas – v. 9.

Ser ou não ser dizimista é uma questão de acreditarmos na causa que abraçamos, na “pérola que encontramos.” Se não houvesse a necessidade de dizimar, por que nem Jesus nem os apóstolos não fizeram menção contraria a essa prática? Haja vista que em diversas passagens Jesus e/ou os apóstolos reformularam, anulando algumas práticas veterotestamentárias. Por exemplo, quando quiseram continuar com a prática do que seria adultério, veja como Jesus opôs-se reformulando o conceito:

Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’.
Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. – Mateus 5:27,28

Alguns homens desceram da Judéia para Antioquia e passaram a ensinar aos irmãos: “Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos”.
Isso levou Paulo e Barnabé a uma grande contenda e discussão com eles. Assim, Paulo e Barnabé foram designados, juntamente com outros, para irem a Jerusalém tratar dessa questão com os apóstolos e com os presbíteros. – Atos 15:1,2

Por que Jesus nem os apóstolo não rejeitaram essa prática?

Ainda na Nova Aliança

Embora a palavra dízimo,  δεκατη dekate =  décima parte de algo, não aparece em outras ocasiões da nova aliança, há inúmeras passagens falando de GENEROSIDADE. A bíblia ensina que a igreja  (seus membros) devem doar recursos financeiros, embora não o chame de dízimo, o principio permanece inalterado.

Se alguma mulher crente tem viúvas em sua família, deve ajudá-las. Não seja a igreja sobrecarregada com elas, a fim de que as viúvas realmente necessitadas sejam auxiliadas. Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino, pois a Escritura diz: “Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal”, e “o trabalhador merece o seu salário – 1 Timóteo 5:16-18

O exemplo acima citado menciona que o “obreiro” deve receber SALÁRIO, como poderia receber sem que a igreja venha contribuir ?

O que prevalece na nova aliança realmente não é a obrigatoriedade do cumprimento da lei, mas o principio que ela nos ensinou, ainda acerca não mais de dízimo, mas agora sobre o principio de generosidade Paulo ensina:

Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra. – Romanos 7:6

Assim, por exemplo, quando o apóstolo Paulo dá instruções sobre como devemos dar, ele nunca nos instrui a deixar o dízimo de lado. Ele diz coisas como:

No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas quando eu chegar. –  I Co 16.2

E então, o apóstolo Paulo diz em II Coríntios 8.3 que nós deveríamos dar de acordo com a medida de nossas posses:

“Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários.”

E em II Coríntios 9.6-7, o apóstolo Paulo descreve o dar com o qual Deus se deleita:

“E isto afirmo: aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.”

Assim, a questão aqui não é que nós deveríamos ser governados por porcentagens ou pela lei do antigo testamento. Elas não são obrigatórias. Ao invés disto, nós deveríamos ser governados pela generosidade pródiga e sacrificial que transborda livremente e alegremente.

O ensino de Paulo sobre GENEROSIDADE é que devemos ofertar com coração alegre, sistematicamente e proporcionalmente.

Negar esse principio é negar as escrituras. Hoje muitos crentes não são fiéis a Deus na entrega dos dízimos. Para justificar esta atitude criam vários justificativas e desculpas. Se dependessem deles a igreja fecharia as portas. Não existiria templos, nem pastores, nem missionários, nem bíblias distribuídas, nem assistência social.
Eis as justificativas clássicas dos não-dizimistas:

I. JUSTIFICATIVA TEOLÓGICA
Ah, eu não sou dizimista, porque DÍZIMO é da lei. E eu não estou debaixo da lei, mas sim da graça.
Sim! O dízimo é da lei, é antes da lei e é depois da lei. Ele foi sancionado por Cristo. Se é a graça que domina a nossa vida, porque ficamos sempre aquém da lei? Será que a graça não nos motiva a ir além da lei?
Veja: a lei dizia: Não matarás = EU PORÉM VOS DIGO AQUELE QUE ODIAR É RÉU DE JUÍZO
a lei dizia: Não adulterarás = EU PORÉM VOS DIGO QUALQUER QUE OLHAR COM INTENÇÃO IMPURA…
a lei dizia: Olho por olho, dente por dente = EU PORÉM VOS DIGO: SE ALGUÉM TE FERIR A FACE DIREITA, DÁ-LHE TAMBÉM A ESQUERDA.
A graça vai além da lei: porque só nesta questão do dízimo, ela ficaria aquém da lei? Esta, portanto, é uma justificativa infundada.

II. JUSTIFICATIVA SENTIMENTAL
Muitos dizem: A bíblia diz em II Co 9.7 “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria” = espontânea e com alegria.
Perguntamos também: O que estará acontecendo em nosso coração que não permite que não tenhamos alegria em dizimar? Em sustentar a Causa que abraçamos e defendemos?

III. JUSTIFICATIVA FINANCEIRA
“O que eu ganho não sobra ou mal dá para o meu sustento.
1) O dízimo não é sobra = Dízimo é primícias. “Honra ao Senhor com as primícias da tua renda.” Deus não é Deus de sobras, de restos. Ele exige o primeiro e o melhor.
2) Contribua conforme a tua renda para que a tua renda não seja conforme a tua contribuição = Deus é fiel. Ele jamais fez uma exigência que não pudéssemos cumprir.
3) Se não formos fiéis, Deus não deixa sobrar = Ageu diz que o infiel recebe salário e o coloca num saco furado. Vaza tudo. Foge entre os dedos. Quando somos infiéis fechamos as janelas dos céu com as nossas próprias mãos e espalhamos o devorador sobre os nossos próprios bens.

IV. JUSTIFICATIVA ASSISTENCIAL
“Prefiro dar meu dízimo aos pobres. Prefiro eu mesmo administrar meu dízimo.
“ A Bíblia não nos autoriza a administrar por nossa conta os dízimos que são do Senhor. O dízimo não é nosso. Ele não nos pertence. Não temos o direito nem a permissão nem para retê-lo nem para administrá-lo.
A ordem é: TRAZEI TODOS OS DÍZIMOS À CASA DO TESOURO PARA QUE HAJA MANTIMENTO NA MINHA CASA. A casa do Tesouro é a congregação onde assistimos e somos alimentados.
Mas será que damos realmente os “nossos” dízimos aos pobres? Com que regularidade? Será uma boa atitude fazer caridade com a parte que não nos pertence?

V. JUSTIFICATIVA POLÍTICA
“Eu não entrego mais os meus dízimos, porque eles não estão sendo bem administrados.”
Não cabe a nós determinar e administrar do nosso jeito o dízimo do Senhor que entregamos. Se os dízimos não estão sendo bem administrados, os administradores darão conta a Deus. Não cabe a nós julgá-los mas sim Deus é quem julga. Cabe a nós sermos fiéis.
Não será também que esta atitude seja aquela do menino briguento, dono da bola, que a coloca debaixo do braço sempre que as coisas não ocorrem do seu jeito?
Deus mandou que eu trouxesse os dízimos, mas não me nomeou fiscal do dízimo.

VI. JUSTIFICATIVA MÍOPE
“A igreja é rica e não precisa do meu dízimo.”
Temos conhecimento das necessidades da igreja? Temos visão das possibilidades de investimento em prol do avanço da obra? Estamos com essa visão míope, estrábica, amarrando o avanço da obra de Deus, limitando a expansão do Evangelho?
AINDA, não entregamos o dízimo para a igreja. O dízimo não é da igreja. É DO SENHOR. Entregamo-lo ao Deus que é dono de todo ouro e de toda prata. Ele é rico. Ele não precisa de nada, mas exige fidelidade. Essa desculpa é a máscara da infidelidade.

VII. JUSTIFICATIVA CONTÁBIL
“Não tenho salário fixo e não sei o quanto ganho.”
Será que admitimos que somos maus administradores dos nossos recursos? Como sabemos se o nosso dinheiro dará para cobrir as despesas de casa no final do mês?
Não sabendo o valor exato do salário, será que o nosso dízimo é maior ou menor do que a estimativa? Porque ficamos sempre aquém da estimativa? Será auto-proteção? Será desinteresse?

VIII. JUSTIFICATIVA ECLESIOLÓGICA
“Não sou membro da igreja”
Acreditamos mesmo que os nossos deveres de cristãos iniciam-se com o Batismo e a Profissão de Fé ou com a inclusão do nosso nome num rol de membros?
Não será incoerência defendermos que os privilégios começam quando aceitamos a Cristo: (o perdão, a vida eterna) e os deveres só depois que nos tornamos membros da igreja? Somos menos responsáveis pelo crescimento do Reino de Deus só porque não somos membros da igreja?

Para os desigrejados (quem não faz parte de uma igreja local ou denominação), qualquer sistema de contribuição com a instituição religiosa é visto com antipatia, pois são esses recursos que mantêm a instituição eclesiástica. Para alguns igrejados (que pertence a uma igreja local ou denominação) o dízimo não tem sido dado a devida atenção, em virtude dos desafetos com o abuso dos líderes eclesiásticos, criou-se uma repulsa aos assuntos relacionados a dinheiro, dízimos, contribuições para uma igreja local, quando segundo caso é a motivação vale lembrar que os reformadores ao se depararem com o mau uso das doutrinas bíblicas não negaram a validade delas, mas fizeram com que se retornasse a elas como deveria ser, negar as escrituras com base nos erros de autoridades eclesiásticas é negar também a reforma, além do que não se encontra nenhum reformador, pai da igreja ou um grande teólogo refutando tal ensino. Por isso acho que aqueles que negam esse ensino são os mesmos que vivem trocando de igrejas, sem nunca  relacionar-se com o corpo de Cristo, sua igreja.

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. – 2 Timóteo 3:1-5
Portanto, livrem-se de toda impureza moral e da maldade que prevalece, e aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los. Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos. Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência. – Tiago 1:21-24
Sola Scriptura

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Jesus e os pobres, nenhuma semelhança com o socialismo

Hoje a pobreza é quase tão comum quanto as doenças. Na época do ministério terreno de Jesus, essa realidade era muito mais forte. Nos Evangelhos, Jesus curava com muita frequência, principalmente os pobres. Contudo, mesmo encontrando multidões de pobres diariamente, ele só os alimentou em duas ocasiões específicas, não porque simplesmente eles eram pobres, porém porque nessas ocasiões as multidões vieram ouvir o Evangelho cedo de manhã e permaneceram com ele três dias inteiros ouvindo o Evangelho. As multidões passaram tanto tempo ouvindo a Palavra de Deus dos lábios de Jesus que ficou muito tarde, quase de noite, no terceiro dia para voltarem e se alimentarem, pois o lugar em que estavam era deserto e distante, longe de casas e lugares onde poderiam encontrar alimento.

Não há a menor dúvida de que se os adeptos do Evangelho social estivessem no lugar de Jesus, eles alimentariam os pobres já no primeiro dia e todos os dias, ou então utilizariam a maior parte de seu tempo não para proclamar e demonstrar o Evangelho do Reino de Deus, mas para pressionar as autoridades para cobrarem mais impostos para ajudar os pobres.

O Evangelho social dos evangélicos progressistas (ou esquerdistas, petistas, comunistas, socialistas, adeptos da teologia da libertação ou qualquer outro rótulo que eles utilizem) é tão convidativo quanto a visitação de um anjo de luz trazendo um evangelho cheio de propostas interessantes para os pobres. Mas assim como nem tudo que reluz é ouro, nem tudo o que tem aparência angelical é de Deus.

Tal qual os evangélicos progressistas, a igreja primitiva tinha também uma preocupação obsessiva de ajudar todos os pobres da sociedade? A igreja primitiva tinha como principal missão pressionar o governo para “ajudar” todos os pobres? Não. A igreja primitiva não só não ajudava todos os pobres da sociedade, como também era extremamente seletiva na assistência aos pobres que estavam em seu meio.

Quando a nação de Israel estava passando por uma crise geral de fome, Paulo mobilizou as igrejas de outros países para ajudar — não os pobres em geral da nação de Israel, mas somente as igrejas, que também estavam passando necessidade. E mesmo nas igrejas, a ajuda não era dada a qualquer pessoa.

A ajuda de Paulo era distribuída dentro das igrejas judias. E qual era o padrão que Paulo utilizava para ajudar quem era da igreja? Uma boa pista de como Paulo e as igrejas procediam na assistência aos pobres encontra-se no texto em que Paulo trata da questão das viúvas pobres nas igrejas. De acordo com Paulo, essas viúvas pobres só poderiam receber assistência material da igreja se tivessem demonstrado bom testemunho durante sua vida. Paulo recomenda a Timóteo, um dos pastores sob sua liderança:

“Cuide das viúvas que não tenham ninguém para ajudá-las. Mas, se alguma viúva tem filhos ou netos, são eles que devem primeiro aprender a cumprir os seus deveres religiosos, cuidando da sua própria família. Assim eles pagarão o que receberam dos seus pais e avós, pois Deus gosta disso. A verdadeira viúva, aquela que não tem ninguém para cuidar dela, põe a sua esperança em Deus e ora, de dia e de noite, pedindo a ajuda dele. Porém a viúva que se entrega ao prazer está morta em vida. Timóteo, mande que as viúvas façam o que eu aconselho para que ninguém possa culpá-las de nada. Porém aquele que não cuida dos seus parentes, especialmente dos da sua própria família, negou a fé e é pior do que os que não crêem. Coloque na lista das viúvas somente a que tiver mais de sessenta anos e que tiver casado uma vez só. Ela deve ser conhecida como uma mulher que sempre praticou boas ações, criou bem os filhos, hospedou pessoas na sua casa, prestou serviços humildes aos que pertencem ao povo de Deus, ajudou os necessitados, enfim, fez todo tipo de coisas boas.” (1 Timóteo 5:3-10 NTLH, o destaque é meu.)

Contudo, os evangélicos progressistas têm ambições muito mais elevadas para “ajudar” as viúvas e outros necessitados. Eles não querem simplesmente que as igrejas ajudem todos os pobres. Eles querem que o governo faça isso. Na proposta deles, os nossos recursos, através de impostos, seriam redistribuídos pelo governo para atender às necessidades dos pobres, quer esses necessitados mereçam ou não. Se não é justo quem trabalhou não receber o que merece, também não é justo o imposto do trabalhador se escoar na assistência a pobres que vivem na imoralidade ou outros tipos de perversão. Afinal, ao contrário das pregações “proféticas” dos progressistas, a corrupção, o mal, a imoralidade e a perversão não são qualidades exclusivas dos ricos.

A Bíblia é bem clara que todos são pecadores: ricos e pobres, pretos e brancos, etc. A Bíblia também é bem clara na orientação para a igreja de quem dos necessitados merece a assistência da igreja. A igreja tem o chamado de ajudar, sob a direção da Palavra de Deus, e tem o chamado igual de fazer uma triagem de quem merece e não merece ajuda. Só os pobres moralmente aptos são qualificados. Tal norma não era legalismo, mas medida prudente. Seu autor, o apóstolo Paulo, era um ardente combatente contra o legalismo, sempre condenando-o. Assim, quem tentasse julgar essa triagem necessária como legalismo estaria apenas fazendo julgamento precipitado e cruel da preciosa direção de Paulo à igreja em suas responsabilidades para com os necessitados.

Precisamos então aprender com Jesus a ter como principal preocupação levar os Evangelho aos pobres. E precisamos aprender com Paulo a ajudar os pobres com amor e prudência. É claro que essa tarefa só pode ser melhor realizada pela igreja. Por mais boa vontade que o governo tenha em cumprir tudo o que os progressistas desejam, a fria máquina governamental jamais saberia aplicar os princípios bíblicos, pois não pode substituir nem a Deus nem a igreja, embora lute incansavelmente para ocupar ambas as posições.


Autor: Júlio Severo