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Pastores-Mestre: O Dom de Cristo à sua igreja

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres

Efésios 4:11

As sociedades não se tornam seculares simplesmente quando abandonam totalmente a religião, mas quando já não se sentem incomodadas por ela. Esse é o sinal mais perigoso: quando a fé já não mexe, já não confronta, já não incomoda. E, ironicamente, esse mesmo risco ronda também a própria igreja de Cristo, justamente no lugar em que menos esperaríamos — na compreensão do seu clero. Não porque estejamos descartando o ministério pastoral, mas porque já não enxergamos sua natureza teológica como algo estimulante ou central. A figura do pastor como teólogo — aquele que abre as Escrituras para ajudar o povo a conhecer a Deus, a si mesmo e ao mundo — já não faz mais os corações arderem, como os discípulos a caminho de Emaús (Lc 24.32).

Em nossos dias, muitos pastores, como Esaú, têm trocado sua herança vocacional por um prato de lentilhas (Gn 25.29-34; Hb 12.16). Em vez de mergulharem na Palavra, tornam-se especialistas em gestão, estrategistas de marketing, coachs de liderança e terapeutas improvisados. E o pior: muitas congregações passaram a exigir exatamente isso deles — preferindo títulos de MBA a homens de oração. Não é de se estranhar que tantos recém-formados saiam do seminário reclamando que não foram preparados para o “verdadeiro trabalho” do ministério. Enquanto isso, os próprios seminários, pressionados pelas demandas do mercado eclesiástico, reformulam seus currículos e acabam contribuindo ainda mais para a perda da teologia na vida da igreja.

A história, é claro, é longa e complexa. Já foi contada em muitos livros. Mas a ideia central é clara: a teologia foi banida de Jerusalém e posta em exílio. O resultado é que o conhecimento de Deus se torna cada vez mais raso entre nós. E a comunidade da aliança, chamada a ser jardim frutífero, passa a parecer um deserto — uma terra seca, cheia de oportunidades desperdiçadas, que já não cultiva discípulos como outrora.

Por isso, mais do que nunca, precisamos resgatar a identidade do pastor como teólogo. Não como um acadêmico de gabinete, mas como um servo que conduz o rebanho às verdes pastagens da Palavra. O povo de Deus não precisa de mais “gestores” — precisa de homens que façam os corações arderem novamente com as Escrituras abertas diante deles.

Escrevo a vocês, meus colegas de ministério — e aqui não me refiro apenas aos pastores titulares! — porque percebo o quanto precisamos resgatar a essência teológica da nossa vocação. Não importa se o ministério que você exerce é definido como “pastor de jovens”, “educador cristão”, “pastor de vida congregacional”, “líder de louvor” ou qualquer outra função. A verdade é que todos nós fomos chamados para algo maior do que um cargo: fomos chamados para falar de Deus e, ao mesmo tempo, lidar com as pessoas. E vamos ser honestos: nenhuma dessas duas tarefas é simples… mas ambas são inevitáveis. Cabe a nós, em qualquer área de atuação, comunicar Cristo e ministrar a Palavra em todo tempo, de várias formas e a todas as pessoas. Esse é o coração do nosso chamado: ministrar a Palavra de Deus ao povo de Deus.

Escrevo também a vocês, igrejas, porque sei que precisam ser lembradas da seriedade dessa vocação. É urgente repensar a natureza, a função e até mesmo as credenciais que vocês exigem de seus pastores. Mais do que diplomas bonitos na parede, seus pastores precisam de condições para servir e crescer como teólogos públicos — homens que falam de Deus para o mundo e do mundo diante de Deus. Além disso, lembro a vocês que a igreja não é apenas uma comunidade social, mas uma comunidade teológica, criada pela Palavra e sustentada pelo Espírito. Vocês não escrevem a própria história com Deus como coadjuvante; é o contrário: estão inseridos na grande história de Deus. E é exatamente aí que entra a nossa vocação pastoral. Um pastor-teólogo existe para ajudá-los a enxergar isso, a viver isso e a ensinar outros a crer nisso.

Problema: uma visão perdida

Eu tenho aprendido que, sem visão teológica, nós, pastores, perecemos. A visão é aquilo que nos permite enxergar onde estamos e para onde devemos ir. Muitas vezes, o que vemos assusta e intimida. Pedro andou sobre as águas com os olhos fixos em Jesus, mas quando olhou para o vento e as ondas, começou a afundar (Mt 14.28-31). O que o fez tropeçar não foi a tempestade em si, mas o deslocamento do olhar. E confesso: muitas vezes acontece o mesmo conosco. Quando nossa visão é dominada pela realidade aparente, sufocamos a fé; mas, quando a fé em Cristo guia nosso olhar, somos capazes de ver o mundo como ele realmente é — criado, redimido e amado por Deus. Essa sempre foi a mensagem dos profetas: anunciar o que viam, testemunhando que Deus está renovando todas as coisas por meio de Seu Servo e de Seu povo da aliança. Se essa é a visão que nos foi dada, eu pergunto: por que tantos pastores estão se afogando em pleno mar?

A tempestade não é o problema. O que nos faz afundar, muitas vezes, não são as ondas do mar, mas as ondas do sentimento popular; não é o vento do mar, mas os ventos da opinião pública. Eles sopram contra nós e nos tentam a abandonar nossa tarefa teológica, impedindo-nos de levar o povo de Deus à maturidade em Cristo (cf. Ef 4.14). Nadar contra a corrente cultural nunca é fácil, e sei que o pastor fiel sempre será alguém da contracultura. Afinal, como não ser contracultural quando proclamamos Cristo crucificado e chamamos os discípulos a imitarem o Senhor, morrendo para si mesmos? O chamado ao autoesvaziamento nunca será atraente para um mundo que ama carteiras cheias e guarda-roupas abarrotados.

Mas reconheço que nosso chamado se torna ainda mais desafiador porque lidamos com três públicos diferentes, três realidades sociais diante das quais precisamos falar de Deus: (1) a academia, (2) a igreja e (3) a sociedade em geral. Se Deus é o Criador de tudo, visível e invisível, e se o evangelho é para todo o mundo, então não existe sequer um centímetro quadrado do universo nem um único aspecto da vida humana que não estejam debaixo do senhorio de Cristo. O problema é que a maioria de nós vive em mais de um desses mundos ao mesmo tempo, e isso exige de nós uma sabedoria pastoral que só o Espírito pode dar.

Já aconteceu comigo no púlpito: no mesmo culto tenho diante de mim um adolescente cheio de dúvidas, um universitário mergulhado em filosofia, um marceneiro desempregado, uma mãe exausta pelo trabalho, um prefeito da cidade e até um professor de física. Como falar de Deus a todos eles de forma clara e fiel? Esse é o desafio do pastor-teólogo. O contexto principal é, sem dúvida, a igreja. Mas será que isso me exime de falar também à sociedade mais ampla ou até de dialogar com a academia? De jeito nenhum! O evangelho precisa ecoar em todos os cantos.

É por isso que entendo que nós, pastores-teólogos, precisamos ser “trilíngues”. Não no sentido de dominar idiomas, mas de aprender a falar a língua de cada contexto: da igreja, da universidade e da sociedade em geral. Nem sempre vamos falar com perfeição, mas precisamos, ao menos, nos esforçar para compreender e nos fazer compreender. Esse é o nosso chamado: traduzir fielmente a Palavra eterna em meio aos muitos mundos em que nosso povo vive.

E é justamente aqui que quero começar: analisando como a visão pastoral e teológica foi sendo perdida nesses três públicos.

Academia

E aqui está o ponto: se a teologia é, muitas vezes, escrita por acadêmicos para acadêmicos, eu — como pastor — não posso simplesmente me render a essa distância. É verdade que certas discussões acadêmicas parecem áridas ou irrelevantes para a vida de fé, mas a responsabilidade de mostrar a conexão entre doutrina e vida pertence a nós, pastores-teólogos. Quando alguém me pergunta, por exemplo, o que a doutrina da Trindade tem a ver com o desemprego de um pai de família, eu não posso me esquivar. Preciso mostrar que a vida cristã não é sustentada por psicologia de autoajuda, mas pelo fato de que o Deus triúno, eterno em amor e comunhão, nos chama para viver nele e dele participar. A Trindade não é apenas uma fórmula bonita para recitar — é a base da nossa salvação, da nossa comunhão e da nossa esperança.

Esse é um dos maiores dramas da transferência da teologia para a academia: quando deixamos de perceber que toda doutrina é pastoral. O ensino sobre a soberania de Deus, por exemplo, não é uma tese para congressos, mas a rocha firme para aquele irmão que acaba de enterrar sua esposa. A doutrina da encarnação não é apenas um debate cristológico — é a boa notícia para a irmã que se sente abandonada: em Cristo, Deus assumiu nossa carne e conhece, por experiência, nossas dores. Cada artigo de fé é alimento para a vida da igreja.

É por isso que digo: quando me coloco diante da congregação, não posso falar apenas como “gestor de pessoas” ou “especialista em liderança”. Preciso ser pastor-teólogo, alguém capaz de traduzir a profundidade das Escrituras e da fé cristã para a realidade concreta do povo de Deus. Isso não significa transformar o púlpito em sala de aula acadêmica, mas deixar que a Palavra forme mentes e corações para viverem no mundo real, com esperança e santidade.

E aqui está a tensão: como falar, ao mesmo tempo, para o erudito que conhece as discussões acadêmicas e para a irmã simples que nunca leu um livro de teologia, mas que carrega no peito a dor de um filho perdido? A resposta é que só conseguiremos isso se não abrirmos mão da nossa vocação pastoral-teológica. É preciso, de fato, aprender a ser “trilíngue” — falar com clareza bíblica na igreja, com rigor teológico na academia e com testemunho vivo na sociedade.

Se a visão pastoral foi perdida na academia, parte da nossa missão é resgatá-la: não como inimigos da teologia acadêmica, mas como aqueles que lembram ao mundo universitário que a teologia não é mero exercício intelectual. Ela é confissão, é doxologia, é pastoral. O verdadeiro teólogo não é apenas quem escreve livros complexos, mas quem abre a Escritura e mostra à igreja que toda verdade sobre Deus é boa nova para o coração cansado.

E aqui está outro grande desafio: o tal “muro de Berlim” erguido dentro da própria academia, separando estudos bíblicos e teologia. Essa divisão, tão artificial quanto prejudicial, tem produzido consequências sérias para a igreja. Nós, pastores, sabemos bem que a pregação é o coração do nosso ministério. Se nos obrigassem a escolher, a maioria de nós, sem pensar duas vezes, ficaria com os estudos bíblicos. Mas aí vem o problema: grande parte do que encontramos nos comentários acadêmicos modernos é quase impossível de ser pregado.

Explico: a academia, em muitos casos, trata a Bíblia apenas como documento histórico, e isso não é pouca coisa. Claro que contexto histórico, línguas originais e paralelos culturais têm o seu valor, mas quando a ênfase se desloca exclusivamente para o “mundo por trás do texto”, a voz de Deus no texto é silenciada. É como se, no esforço de explicar como Israel viveu no Antigo Oriente Próximo, esquecêssemos que o mesmo Deus que falou a Israel fala hoje à Sua igreja. O resultado? Sermões que parecem mais aulas de arqueologia ou história antiga do que proclamação do evangelho.

E aqui eu preciso dizer: um comentário bíblico que não conduz o pregador a Cristo e ao plano de Deus revelado em Cristo falhou em sua tarefa. Porque, no fim das contas, toda a Escritura aponta para Ele (Lc 24.27) e encontra sua unidade no mistério revelado de que Deus está reconciliando todas as coisas em Cristo (Ef 1.9-10). O que me entristece é ver estudiosos tratando a Escritura como material de pesquisa em vez de Palavra viva, e, consequentemente, muitos pastores se alimentando desse tipo de material para, depois, subir ao púlpito com mensagens que não alimentam ninguém.

Não me entendam mal: eu não sou contra a pesquisa acadêmica, nem contra a seriedade histórica. Mas eu creio que qualquer abordagem que retire a centralidade de Cristo do texto bíblico já deixou de ser teológica, ainda que tenha o rótulo de “estudo bíblico”. Para mim, um verdadeiro comentário bíblico é aquele que ajuda o pastor a proclamar o Cristo das Escrituras ao povo de Deus, e não apenas a demonstrar erudição.

É por isso que insisto: o pastor não pode abrir mão de sua identidade de teólogo. Precisamos ser capazes de discernir quando a academia nos oferece ferramentas úteis e quando ela tenta nos oferecer pedras em vez de pão. A igreja não sobrevive de curiosidades históricas, mas da Palavra que revela Cristo e o faz presente em cada geração.

Igreja

A muito tempo, tenho observado uma confusão crescente sobre o que realmente significa ser pastor e o que se espera que os pastores façam. E digo com franqueza: ainda há muita incerteza. O próprio termo “pastor” é uma metáfora, e essas metáforas podem se tornar prisões invisíveis. Muitas vezes, elas não refletem quem somos de fato, mas as preocupações e tendências da sociedade em que vivemos. A imagem que as pessoas têm de nós geralmente revela mais sobre a cultura do que sobre a nossa vocação.

Hoje, temos uma variedade enorme de imagens sobre o pastor: gestor de programas, terapeuta, líder comunitário, administrador de pessoas, comunicador de mídia, conselheiro emocional, agente de esperança… A lista poderia continuar. Cada uma dessas imagens traz alguma verdade, mas nenhuma pode definir integralmente o que significa ser pastor. A questão central permanece: o que faz da nossa vocação algo único e insubstituível?

E essa confusão não se limita à sociedade; ela alcança a formação de pastores. Muitos seminários estruturam seus cursos e conteúdos baseados em modelos de mercado, técnicas de gestão ou ferramentas de aconselhamento, muitas vezes esquecendo que a essência do ministério pastoral é teológica e bíblica.

Não me entendam mal: organizar programas, cuidar de pessoas e aconselhar são tarefas importantes. Mas não podem substituir o que só o pastor pode fazer: ministrar a Palavra de Deus, ensinar, pregar, aconselhar espiritualmente e moldar o povo de Deus para refletir a nova humanidade em Cristo. Essa é a nossa identidade e nossa vocação.

O perigo que vejo é a tendência de nos tornarmos pastores “profissionais” no sentido cultural: buscando reconhecimento, status, carreira ou técnica, e esquecendo que nossa principal autoridade vem de Deus e da fidelidade à Sua Palavra. Quando isso acontece, o pastor perde sua relevância espiritual, e a igreja se empobrece. Deixamos de aplicar categorias teológicas e espirituais à vida cotidiana, e o resultado é que desaparece o sentido do pecado, da graça e, muitas vezes, a presença viva de Deus.

Portanto, pergunto a mim mesmo e a vocês, colegas de ministério: quem queremos ser? Pastores guiados por modismos e pressões culturais ou pastores-teólogos, firmes na Escritura, moldados pelo Espírito e comprometidos em fazer discípulos, pregando, ensinando e formando o povo de Deus para viver a vida nova em Cristo? Minha convicção é clara: sem essa identidade, o ministério perde sua força, e a igreja deixa de cumprir sua missão.

Sociedade

Era uma vez, e nem faz tanto tempo assim — me refiro ao século XIX — pastores que eram figuras públicas respeitadas, valorizadas e reverenciadas. Não raro, eram as pessoas de maior nível educacional em cidades pequenas ou médias, verdadeiros intelectuais de suas comunidades. Avançando um século, porém, vemos como a situação mudou radicalmente. Hoje, a imagem do pastor muitas vezes se reduz a caricaturas: o moralista reprimido, o megalomaníaco cheio de si ou aquele que parece mais preocupado com a aparência do que com a Palavra de Deus. Infelizmente, há uma boa dose de verdade nesse retrato superficial, e precisamos encará-la.

O brasileiro médio que frequenta igreja confessa sua fé em Cristo, mas vive mergulhado na mesma cultura que todo mundo: novelas, filmes, programas de TV e redes sociais moldam suas expectativas e percepções. A cultura popular tanto reflete quanto molda a forma como as pessoas enxergam os pastores. E, nesse cenário, eu me pergunto: que tipo de figura pública o pastor representa? Que imagem projetamos quando falamos de Deus?

Ser um pastor-teólogo — alguém que fala de Deus para diferentes públicos — é, antes de tudo, ser honesto com os olhos das pessoas. E aqui está a difícil situação: precisamos apresentar verdades sobre Deus de maneira que façam sentido no discurso público, sem nos render às expectativas culturais de reconhecimento ou aprovação. Falar de Deus é paradoxal: somos humanos, limitados, e ainda assim chamados a proclamar o Criador do universo. Quem somos nós, criaturas falíveis, para ousar falar sobre Aquele que é soberano, infinito e santo?

Mas é justamente nesse paradoxo que reside o chamado do pastor. Não estamos aqui para crescer socialmente, para angariar prestígio ou fama, nem para atrair atenção para nós mesmos. Nosso objetivo é apontar para Deus, levando as pessoas a adotarem a forma de pensar, sentir e viver que Ele deseja. É um chamado que exige humildade: muitas vezes precisamos diminuir nossa posição social, reconhecer nossa fragilidade e nossa contínua necessidade da graça de Deus, assim como Paulo fazia (1Tm 1.15).

Além disso, somos chamados a falar em público sobre temas amplos — o sentido da vida, o bem comum, a moralidade, a fé — mesmo sem ter credenciais reconhecidas pela sociedade, ao contrário de especialistas que dominam suas áreas. A situação é ainda mais desafiadora quando consideramos que, na opinião geral, figuras públicas são frequentemente vistas com desconfiança. As pessoas tendem a questionar as motivações de quem representa uma instituição ou organização.

É certo que confiamos em neurocirurgiões para operar cérebros ou em pilotos para voar aviões, porque suas habilidades são reconhecidas e mensuráveis. O pastor, porém, enfrenta outro tipo de desafio: explicar sua contribuição para o bem público exige afirmar um conhecimento especializado que nem sempre é tangível aos olhos da sociedade — um conhecimento que une teologia, ética e a aplicação da Palavra de Deus à vida cotidiana. Precisamos vestir o manto da autoridade intelectual sem nos tornarmos arrogantes, sempre apontando para Cristo e não para nós mesmos.

O paradoxo é grande, mas necessário: o pastor deve ser autoridade sem buscar prestígio, guia sem buscar adulação, e mestre sem se reduzir a mero consultor de bem-estar social. A tarefa é difícil, mas é o que nos distingue. Falar de Deus ao mundo de forma pública e relevante é o que nos mantém fiéis ao chamado, e é isso que garante que nossas comunidades realmente conheçam e experimentem a presença viva de Cristo.

Então, vamos resumir o que venho afirmando até aqui. Primeiro, os pastores são e sempre foram teólogos. Em segundo lugar, cada teólogo é, de certa forma, um teólogo público, um intelectual com uma missão específica, um generalista da fé que fala para pessoas reais, em contextos reais. E quero enfatizar algo que considero central: não é preciso ter uma cadeira acadêmica ou QI elevado para ser um intelectual. Mas é preciso ter QT — quociente de teologia — elevado, uma capacidade de pensar, compreender e aplicar a Palavra de Deus de forma clara, fiel e relevante. Em terceiro lugar, o propósito de o pastor-teólogo atuar como intelectual público é servir ao povo de Deus, edificando-o na fé que nos foi entregue “uma vez por todas” (Jd 3).

Quando falo que pastores são teólogos, não me refiro apenas a títulos acadêmicos ou publicações em revistas especializadas. Falo de algo muito mais profundo: dizer com clareza e fidelidade o que Deus está fazendo em Cristo. Historicamente, esse aspecto de nossa vocação tem sido esquecido, relegado a um grupo restrito de “profissionais da teologia”. Mas essa separação é prejudicial. Ela sugere — ainda que indiretamente — que pastores e leigos não seriam capazes de elaborar teologia, ou que não teriam autoridade para falar de Deus porque não possuem credenciais formais. Essa é uma mentira que precisa ser confrontada.

A teologia é demasiado importante para ser monopolizada. Cada pastor, cada discípulo, cada cristão é responsável diante de Deus por compreender e agir conforme o conhecimento de Deus que lhe é dado — seja por meio da criação, seja pelo coração humano, seja pela própria Escritura (Rm 1.19-21). O que isso significa na prática? Significa que todos nós somos chamados a ler, meditar, refletir e aplicar a Palavra, sempre com amor, obediência e confiança. Não existe cristão “comum” incapaz de pensar teologicamente; existe, sim, uma responsabilidade real de crescer nesse entendimento e de não deixar que outros falem por nós em questões de fé.

E é exatamente aqui que entra a urgência do pastor-teólogo: precisamos resgatar nossa vocação de falar sobre Deus de maneira pública, relevante e fiel. Precisamos ensinar e guiar nossa igreja para que compreenda Cristo, sua obra e a realidade do mundo segundo os olhos de Deus. Ser pastor não é apenas gerir pessoas ou programas; é ser um mestre do povo de Deus, capaz de traduzir a grandeza de Deus para a vida cotidiana das pessoas.

A pergunta que nos move é simples, mas profunda: se não nós, quem falará? Se não com fidelidade e clareza, quem conduzirá nosso povo ao entendimento da Palavra? Pastores que não exercitam sua função de teólogos públicos correm o risco de ver a igreja perder não apenas a direção, mas o próprio sentido da fé em Cristo. E isso, meus irmãos, é inaceitável.

Quando lemos Efésios 4:11, vemos que Cristo “deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres”. Muitos olham para essa passagem e entendem que “pastor” e “mestre” são dons distintos, como se alguém pudesse ser apenas pastor ou apenas mestre. Mas, na prática, não é assim. A Palavra nos mostra que o dom de pastor e o dom de mestre são, na realidade, duas faces da mesma moeda: o mesmo dom se manifestando de maneiras complementares.

O pastor que não é mestre corre o risco de cuidar de pessoas sem levá-las a entender profundamente a Palavra de Deus. Ele se torna apenas um gestor de emoções ou um conselheiro de situações imediatas. Por outro lado, o mestre que não é pastor corre o risco de ser um acadêmico isolado, incapaz de aplicar sua teologia à vida concreta das pessoas. O dom completo se manifesta quando o pastor é também mestre: alguém que cuida do rebanho e, ao mesmo tempo, ensina e edifica o povo na verdade de Deus.

Ser pastor e mestre significa, portanto, guiar vidas com coração e cabeça: com compaixão e com conhecimento. É proclamar Cristo de maneira que as pessoas compreendam o que Ele fez, o que Ele está fazendo e como Ele quer que vivamos em resposta à sua graça. É transformar a igreja não apenas em um lugar de encontros emocionais, mas em uma comunidade de discípulos formados, capazes de entender, aplicar e defender a fé.

Efésios 4:12 reforça essa aplicação: o propósito desse dom é “aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo”. Ou seja, o pastor-teólogo não está a serviço do próprio ego, nem para ocupar um espaço social ou cultural; está a serviço da igreja, preparando o povo de Deus para crescer em maturidade, em santidade e em conhecimento da Palavra.

Portanto, todo pastor que se vê apenas como cuidador de almas precisa se lembrar: o Senhor o chamou para ser também mestre. E todo mestre que se contenta apenas com o estudo e o ensino da Bíblia precisa se lembrar: Cristo o chamou para pastorear, para se relacionar com pessoas, para guiá-las na vida prática da fé. O verdadeiro pastor-teólogo é aquele que une ambos os aspectos: cuidado e ensino, coração e mente, zelo pastoral e profundidade teológica.

De olho no texto

O versículo de Efésios 4:11 diz:

“E ele mesmo deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres” (NVI).

No grego original, a expressão é “καὶ ἑτέρους ποιμένας καὶ διδασκάλους” (kai heterous poimenas kai didaskalous). Aqui está a chave: a conjunção καὶ (kai) geralmente significa “e”, mas o grego permite que ela seja usada de forma distributiva ou inclusiva. Ou seja, não necessariamente indica dois grupos distintos; pode muito bem indicar uma função única com duas dimensões.

Em termos práticos, isso significa que o “pastor” e o “mestre” não são dois dons separados, mas duas facetas de um mesmo dom que se manifesta na liderança espiritual do povo de Deus. O pastor cuida do rebanho, protege, guia e sustenta. O mestre, por sua vez, instrui, explica a Palavra, edifica, corrige e ensina o povo a viver segundo a vontade de Deus. Mas na prática do ministério, essas funções se entrelaçam: um verdadeiro pastor não pode cuidar sem ensinar; um verdadeiro mestre não pode ensinar sem cuidar.

O texto grego reforça isso pelo uso da palavra ἑτέρους (heterous), que significa “outros”, ou “uns outros”, e pelo kai entre “poimenas” e “didaskalous”. Paulo não está dizendo que há alguns pastores e outros mestres isolados; ele está descrevendo uma função pastoral completa: cuidar e ensinar ao mesmo tempo.

Essa leitura é reforçada pelo contexto imediato: Efésios 4:12 explica o propósito desses dons:

“para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo”.

O dom de pastor-mestre existe para preparar o povo de Deus, e para isso é necessário que quem o exerce tenha tanto a capacidade de cuidar com amor quanto a de ensinar com clareza e fidelidade. Não há espaço para separar as duas dimensões, porque a maturidade do corpo de Cristo depende de ambas.

Em resumo: o grego nos mostra que o chamado pastoral é unitário e multifacetado. Pastores e mestres não são grupos distintos; são dois aspectos do mesmo dom que Deus dá à igreja para que sua Palavra seja fielmente proclamada e praticada. Quem entende isso reconhece que exercer o ministério é cuidar do povo enquanto o ensina na verdade, e é exatamente essa visão que precisa ser recuperada em nossas igrejas brasileiras hoje.

A necessidade teológica

Diante de tudo que já analisamos, torna-se evidente que o pastor não pode prescindir de uma base teológica sólida. Não estou falando apenas de decorar versículos ou repetir frases bonitas — falo de entender profundamente o que a Bíblia ensina sobre Deus, sobre o ser humano e sobre a salvação, e de conseguir comunicar isso de forma clara e fiel à congregação. Alguns aspectos são absolutamente centrais: escatologia, soteriologia, e a própria definição teológica do pastor quanto a tradições como arminianismo ou calvinismo, pactualismo ou dispensacionalismo.

Por que isso é tão importante? Porque essas áreas da teologia moldam a maneira como o pastor interpreta a Palavra e aplica a fé na vida das pessoas. A escatologia, por exemplo, nos ajuda a orientar o povo em esperança, em perseverança e em discernimento do que virá; a soteriologia nos permite explicar a obra de Cristo na cruz e a relação do pecador com Deus de maneira sólida e não superficial. Se o pastor não tem clareza sobre esses pontos, sua pregação corre o risco de ser vaga, incoerente ou facilmente distorcida por interpretações populares ou modismos culturais.

Além disso, a definição teológica do próprio pastor é fundamental. Saber se você se alinha mais a uma perspectiva arminiana ou calvinista, pactualista ou dispensacionalista, não é um detalhe acadêmico: isso define como você entende a graça, a eleição, o pacto de Deus com seu povo, e como você orienta a vida e a fé de sua igreja. Um pastor que não tem essa clareza está navegando no escuro, e é terrível para a igreja quando ela não tem um norte teológico. Sem esse ponto de referência, a congregação se torna vulnerável a confusões doutrinárias, a interpretações superficiais da Bíblia e a práticas religiosas que podem até ser emocionantes, mas não edificam na fé nem levam à maturidade cristã.

Quando pastores negligenciam a teologia e não conseguem ensinar com segurança sobre Deus, sobre a salvação ou sobre os desígnios do Senhor, a igreja perde identidade. Ela deixa de ser comunidade de discípulos para se tornar apenas um grupo que compartilha sentimentos e experiências, sem entendimento profundo da Palavra. E, como sabemos, uma igreja sem direção teológica sólida facilmente se afasta da verdade, mesmo sem perceber, abrindo espaço para heresias sutis, distorções do evangelho e uma fé que não transforma de verdade.

Portanto, pastores, não podemos fugir desse desafio: devemos ser capazes de explicar e ensinar a teologia em suas dimensões fundamentais, definindo com clareza nossas convicções à luz das Escrituras. Ser pastor-teólogo não é luxo ou formalidade; é necessidade urgente para o bem da igreja, para a fidelidade ao evangelho e para o crescimento espiritual do povo de Deus.

Do púlpito para a sociedade

Além de dominar os fundamentos teológicos da fé — soteriologia, escatologia, cristologia e definição doutrinária —, o pastor tem a responsabilidade de dar respostas bíblicas a questões que atravessam a sociedade. Temas como feminismo, aborto, ética sexual, política, economia e cultura não são meros debates sociais; eles refletem visões de mundo que moldam comportamentos, valores e decisões. A igreja, e o povo de Deus em particular, precisa de orientação clara, baseada na Palavra de Deus, para discernir o que é certo e verdadeiro à luz do evangelho.

Quando falo em feminismo, por exemplo, não me refiro a debates ideológicos simplistas, mas à necessidade de apresentar a dignidade do homem e da mulher como criados à imagem de Deus, respeitando a diferença e a igualdade de valor diante de Deus. No aborto, o pastor deve declarar, com coragem e mansidão, o valor da vida humana desde a concepção, fundamentado nas Escrituras. Em política e cidadania, o pastor deve ajudar o povo a pensar sobre justiça, autoridade e responsabilidade social à luz de Romanos 13, sem cair no ativismo ou no sectarismo partidário, mas trazendo a perspectiva bíblica sobre como viver como sal e luz no mundo.

O pastor-teólogo não pode se omitir dessas discussões. Negar a necessidade de apresentar a cosmovisão bíblica é deixar a igreja sem bússola, vulnerável a ideologias passageiras e modismos culturais. Ao mesmo tempo, o pastor não fala apenas para a congregação. Efésios 4 nos lembra que o dom do pastor-mestre existe para edificar o corpo de Cristo, mas o ministério do pastor também tem dimensão pública. A sociedade em geral precisa ouvir de alguém que entende e pode explicar como a Palavra de Deus responde a grandes questões humanas e sociais, não de forma sectária, mas com clareza e autoridade.

Em outras palavras, o pastor é chamado a ser voz do evangelho em todos os contextos, apresentando a verdade de Deus tanto para os santos quanto para o mundo. Não é sobre impor uma visão, mas sobre apresentar a cosmovisão bíblica, mostrando que a fé cristã não é um sentimento particular ou privado, mas uma forma coerente e prática de compreender e viver o mundo. Uma igreja sem pastores capazes de falar sobre essas questões com segurança teológica e pastoral corre o risco de se perder em um mar de opiniões, modismos e pressões culturais.

Portanto, pastores, precisamos ser pastores-teólogos que conhecem, aplicam e comunicam a Palavra, capazes de cuidar do povo e ao mesmo tempo instruir a sociedade, sem medo, com amor, clareza e fidelidade à Escritura. Esse é o chamado urgente para a igreja brasileira hoje

Conclusão

Diante de tudo que vimos, fica claro que ser pastor-teólogo não é um detalhe ou luxo acadêmico — é uma exigência do próprio Senhor. Não podemos nos contentar com ministérios superficiais, com respostas prontas ou com posições vagas diante das grandes questões da vida e da sociedade. Somos chamados a ministrar a Palavra de Deus com fidelidade, clareza e autoridade, edificando o povo de Deus e proclamando a verdade ao mundo, mesmo quando isso contraria tendências culturais ou opiniões populares.

E, como nos lembra o apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 4:2: “Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel”. O Senhor não nos cobra sucesso segundo os padrões do mundo, nem prestígio, nem popularidade. Ele espera nos encontrar fieis à Palavra, fiéis à nossa vocação, fiéis em ensinar, pregar, aconselhar e guiar seu povo na verdade. Essa fidelidade é a medida de nosso ministério, e é a fidelidade que produz fruto duradouro na vida da igreja e na sociedade.

Portanto, pastores, nosso desafio é grande, mas nossa recompensa é certa: servir a Cristo com fidelidade, como mestres e pastores, apresentando a Palavra com clareza, coragem e convicção, confiando que o Senhor encontrará cada um de nós sendo fiel ao chamado que Ele confiou. Que possamos abraçar nossa vocação como teólogos públicos, conscientes de que nossa vida e ministério têm impacto eterno, não apenas na igreja, mas em toda a sociedade.


Referências:

O Pastor Como Teólogo Público – Kevin J. Vanhoozer e Owen Strachan – Editora Vida Nova

O Pastor como Mestre e o Mestre como Pastor – John Piper , D. A. Carson – Editora Fiel

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Dízimo, outra vez?

Um dos assuntos mais debatidos hoje dentro das igrejas sem dúvidas é a validade do DÍZIMO, todos os dias vejo cristãos postando nas redes sociais frases contrarias ao dízimo, o que mais chama a atenção não é apenas o posicionamento das pessoas sobre o assunto, mas a fundamentação, TODAS as pessoas que conheço que se dizem contrarias ao dízimo são superficiais biblicamente, inconstantes, alheios a todo corpo e alegam não ser uma prática no Novo Testamento.

Em minha opinião apesar de entender que do ponto de vista neotestamentário o dízimo  não é normativo, tenho percebido que muitos daqueles que advogam a abolição do dízimo  o fazem por razões escusas, cujas motivações principais se devem  a avareza, falta de conhecimento bíblico e/ou adesão ao pluralismo e relativismo religioso.

DIRETO AO PONTO

O dízimo assim como muitas das instruções/mandamentos veterotestamentário são princípios e não meramente um conjunto de regras, vamos entender. Todo o antigo testamento serve de AIO (tutor), Gálatas 3:24 – παιδαγωγος paidagogos. Tutor, i.e., um guardião e guia de meninos. Entre os gregos e os romanos, o nome era aplicado a escravos dignos de confiança que eram encarregados de supervisionar a vida e a moralidade dos meninos pertencentes à elite. Aos meninos não era nem mesmo permitido sair de casa sem a sua companhia até que alcançassem a idade viril.

Para quem acredita que o dízimo é algo imposto pela lei mosaica, deve entender que antes da lei Abraão dizimou.

Esse Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, encontrou-se com Abraão quando este voltava, depois de derrotar os reis, e o abençoou; e Abraão lhe deu o dízimo de tudo. Em primeiro lugar, seu nome significa “rei de justiça”; depois, “rei de Salém” quer dizer “rei de paz”. Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, feito semelhante ao Filho de Deus, ele permanece sacerdote para sempre. Considerem a grandeza desse homem: até mesmo o patriarca Abraão lhe deu o dízimo dos despojos! – Hebreus 7:1-4

E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou seus inimigos em suas mãos”. E Abrão lhe deu o dízimo de tudo. – Gênesis 14:20

Melquisedeque recebeu dízimos – מעשר ma Ìaser = dízimo, décima parte – de Abraão, 2.000 anos antes de Cristo e 700 anos antes da lei mosaica. O costume de pagar o dízimo era muito comum entre os povos semíticos. A forma como este fato foi mencionado parece indicar que se tratava de um costume estabelecido. O voto de Jacó (Gn 28.22) acrescenta ainda mais peso a esta opinião.

O dízimo de Israel consistia de um décimo de toda a produção anual de alimentos e do crescimento dos rebanhos de ovelhas e gado. Era um costume considerado sagrado para Jeová, da mesma forma que o aluguel ou imposto feudal dedicado a Ele que era, realmente, o dono da terra. Certas Escrituras sugerem que esses dízimos consistiam de décimo de tudo que restava das “primícias de todos os frutos da terra”, depois que a oferta sacerdotal havia sido separada (Êx 23.19; Dt 26.1ss). Como a lei não estabelecia a quantidade a ser oferecida como uma oferta das primícias, alguns consideram as regras do dízimo como a definição do que deveria ser pago. Outros consideram o dízimo um complemento destes primeiros frutos. Fontes judaicas indicam que essa segunda hipótese é verdadeira e que as “primícias dos primeiros frutos” geralmente representavam uma quinta parte da produção.

No Pentateuco, a legislação sobre os dízimos era a seguinte:

1. Levítico 27.30-33. Um décimo de toda a produção (safras, frutas, azeite, vinho) e de todos os animais deveria ser dedicado ao Senhor. O dízimo da produção da terra podia ser compensado (ou “remido”) se a ele fosse acrescido um quinto de seu valor. O dízimo dos animais não podia ser compensado. O crescimento do rebanho era calculado e todo décimo animal era considerado santificado para o Senhor. Isso estava de acordo com as instruções dadas a Israel, anteriores ao Sinai, de que os primogênitos dos rebanhos pertenciam ao Senhor (Êx 13.12,13). Tudo o que passasse “debaixo da vara” (Lv 27.32) era designado aos levitas para fazer o que bem entendessem, pois não haviam recebido nenhuma parte da terra como herança (cf. Nm 18.21-32). Além desse dízimo, os levitas pagavam um dízimo (ou oferta alçada) aos sacerdotes, que deveria ser levado ao templo de Jerusalém. Neemias 10.38 sugere que havia uma supervisão dessa divisão de dízimos.

2. Deuteronômio 12.5,6,11,18 (cf. Am 4.4). O dízimo das festas correspondia a um décimo dos nove décimos que restava. Devia ser separado e levado para Jerusalém onde era consumido como refeição sagrada pelo ofertante e seus familiares, junto com o levita que está dentro das suas portas (Dt 12.15). Se a distância era proibitiva, os dízimos podiam ser vendidos e o dinheiro usado para a compra de alimentos ou animais para servirem como ofertas em Jerusalém (cf. Dt 14.22-27).

3. Deuteronômio 26.12-15; 14.28-29. O dízimo trienal ou dízimo da caridade, oferecido durante o terceiro ano, era destinado aos levitas, aos estrangeiros, aos órfãos de pai e às viúvas.
As opiniões diferem em relação a esse terceiro dízimo. De acordo com Josefo ele era, na verdade, um terceiro dízimo oferecido a cada três anos, do qual os levitas e os sacerdotes eram obrigados a participar. Outros afirmam que a cada três anos, o segundo dízimo, ou dízimo da festa, era oferecido aos pobres em casa, invés de ser levado a Jerusalém.
O pagamento do dízimo não era obrigatório, mas uma questão de consciência perante o Senhor. O povo deveria obedecer a estes decretos com todo coração e alma (Dt 26.16). A cada três anos deveria ser feita uma solene declaração no último dia da Páscoa, dizendo o seguinte: “Obedeci à voz do Senhor, meu Deus; conforme tudo o que me ordenaste, tenho feito” (Dt 26.14).

Dízimo nos tempos de Jesus mas ainda na antiga aliança

A nova aliança inicia-se quando Jesus é assunto aos céus, isso significa que as narrativas da vida de Jesus são regidas pela antiga aliança, uma vez que para a nova aliança ter inicio, Cristo precisava morrer.

Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para que os que são chamados recebam a promessa da herança eterna, visto que ele morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a primeira aliança.

No caso de um testamento, é necessário que comprove a morte daquele que o fez; pois um testamento só é validado no caso de morte, uma vez que nunca vigora enquanto está vivo aquele que o fez. – Hebreus 9:15-17

Embora haja algumas passagens mencionando o termo dízimo no novo testamento, todas as vezes ainda é feita sob a antiga aliança, no entanto Jesus não faz nenhuma exortação contrariando a prática, exemplo:

Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas. – Mateus 23:23

Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho – Lucas 18:12

Ai de vocês, fariseus, porque dão a Deus o dízimo da hortelã, da arruda e de toda a sorte de hortaliças, mas desprezam a justiça e o amor de Deus! Vocês deviam praticar estas coisas, sem deixar de fazer aquelas. – Lucas 11:42

Na nova aliança

Na nova aliança há uma passagem que refere-se ao dízimo, Hb 7. 1-10; Eis as lições desse texto:

  • O Pai da fé deu dízimo de tudo – v. 2;
  • O pai da fé deu o dízimo do melhor – v. 4;
  • A entrega dos dízimos se deu não por pressão da lei, uma vez que o povo israelita ainda não existia e, portanto, muito menos a lei judaica – v. 6;
  • Hebreus nos faz perceber e reconhecer a superioridade do valor do dízimo que é dado a Cristo (imortal) em relação ao dado aos sacerdotes (mortais) – v. 8;
  • O autor destaca que os que administram os dízimos também devem ser dizimistas – v. 9.

Ser ou não ser dizimista é uma questão de acreditarmos na causa que abraçamos, na “pérola que encontramos.” Se não houvesse a necessidade de dizimar, por que nem Jesus nem os apóstolos não fizeram menção contraria a essa prática? Haja vista que em diversas passagens Jesus e/ou os apóstolos reformularam, anulando algumas práticas veterotestamentárias. Por exemplo, quando quiseram continuar com a prática do que seria adultério, veja como Jesus opôs-se reformulando o conceito:

Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’.
Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. – Mateus 5:27,28

Alguns homens desceram da Judéia para Antioquia e passaram a ensinar aos irmãos: “Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos”.
Isso levou Paulo e Barnabé a uma grande contenda e discussão com eles. Assim, Paulo e Barnabé foram designados, juntamente com outros, para irem a Jerusalém tratar dessa questão com os apóstolos e com os presbíteros. – Atos 15:1,2

Por que Jesus nem os apóstolo não rejeitaram essa prática?

Ainda na Nova Aliança

Embora a palavra dízimo,  δεκατη dekate =  décima parte de algo, não aparece em outras ocasiões da nova aliança, há inúmeras passagens falando de GENEROSIDADE. A bíblia ensina que a igreja  (seus membros) devem doar recursos financeiros, embora não o chame de dízimo, o principio permanece inalterado.

Se alguma mulher crente tem viúvas em sua família, deve ajudá-las. Não seja a igreja sobrecarregada com elas, a fim de que as viúvas realmente necessitadas sejam auxiliadas. Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino, pois a Escritura diz: “Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal”, e “o trabalhador merece o seu salário – 1 Timóteo 5:16-18

O exemplo acima citado menciona que o “obreiro” deve receber SALÁRIO, como poderia receber sem que a igreja venha contribuir ?

O que prevalece na nova aliança realmente não é a obrigatoriedade do cumprimento da lei, mas o principio que ela nos ensinou, ainda acerca não mais de dízimo, mas agora sobre o principio de generosidade Paulo ensina:

Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra. – Romanos 7:6

Assim, por exemplo, quando o apóstolo Paulo dá instruções sobre como devemos dar, ele nunca nos instrui a deixar o dízimo de lado. Ele diz coisas como:

No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas quando eu chegar. –  I Co 16.2

E então, o apóstolo Paulo diz em II Coríntios 8.3 que nós deveríamos dar de acordo com a medida de nossas posses:

“Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários.”

E em II Coríntios 9.6-7, o apóstolo Paulo descreve o dar com o qual Deus se deleita:

“E isto afirmo: aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.”

Assim, a questão aqui não é que nós deveríamos ser governados por porcentagens ou pela lei do antigo testamento. Elas não são obrigatórias. Ao invés disto, nós deveríamos ser governados pela generosidade pródiga e sacrificial que transborda livremente e alegremente.

O ensino de Paulo sobre GENEROSIDADE é que devemos ofertar com coração alegre, sistematicamente e proporcionalmente.

Negar esse principio é negar as escrituras. Hoje muitos crentes não são fiéis a Deus na entrega dos dízimos. Para justificar esta atitude criam vários justificativas e desculpas. Se dependessem deles a igreja fecharia as portas. Não existiria templos, nem pastores, nem missionários, nem bíblias distribuídas, nem assistência social.
Eis as justificativas clássicas dos não-dizimistas:

I. JUSTIFICATIVA TEOLÓGICA
Ah, eu não sou dizimista, porque DÍZIMO é da lei. E eu não estou debaixo da lei, mas sim da graça.
Sim! O dízimo é da lei, é antes da lei e é depois da lei. Ele foi sancionado por Cristo. Se é a graça que domina a nossa vida, porque ficamos sempre aquém da lei? Será que a graça não nos motiva a ir além da lei?
Veja: a lei dizia: Não matarás = EU PORÉM VOS DIGO AQUELE QUE ODIAR É RÉU DE JUÍZO
a lei dizia: Não adulterarás = EU PORÉM VOS DIGO QUALQUER QUE OLHAR COM INTENÇÃO IMPURA…
a lei dizia: Olho por olho, dente por dente = EU PORÉM VOS DIGO: SE ALGUÉM TE FERIR A FACE DIREITA, DÁ-LHE TAMBÉM A ESQUERDA.
A graça vai além da lei: porque só nesta questão do dízimo, ela ficaria aquém da lei? Esta, portanto, é uma justificativa infundada.

II. JUSTIFICATIVA SENTIMENTAL
Muitos dizem: A bíblia diz em II Co 9.7 “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria” = espontânea e com alegria.
Perguntamos também: O que estará acontecendo em nosso coração que não permite que não tenhamos alegria em dizimar? Em sustentar a Causa que abraçamos e defendemos?

III. JUSTIFICATIVA FINANCEIRA
“O que eu ganho não sobra ou mal dá para o meu sustento.
1) O dízimo não é sobra = Dízimo é primícias. “Honra ao Senhor com as primícias da tua renda.” Deus não é Deus de sobras, de restos. Ele exige o primeiro e o melhor.
2) Contribua conforme a tua renda para que a tua renda não seja conforme a tua contribuição = Deus é fiel. Ele jamais fez uma exigência que não pudéssemos cumprir.
3) Se não formos fiéis, Deus não deixa sobrar = Ageu diz que o infiel recebe salário e o coloca num saco furado. Vaza tudo. Foge entre os dedos. Quando somos infiéis fechamos as janelas dos céu com as nossas próprias mãos e espalhamos o devorador sobre os nossos próprios bens.

IV. JUSTIFICATIVA ASSISTENCIAL
“Prefiro dar meu dízimo aos pobres. Prefiro eu mesmo administrar meu dízimo.
“ A Bíblia não nos autoriza a administrar por nossa conta os dízimos que são do Senhor. O dízimo não é nosso. Ele não nos pertence. Não temos o direito nem a permissão nem para retê-lo nem para administrá-lo.
A ordem é: TRAZEI TODOS OS DÍZIMOS À CASA DO TESOURO PARA QUE HAJA MANTIMENTO NA MINHA CASA. A casa do Tesouro é a congregação onde assistimos e somos alimentados.
Mas será que damos realmente os “nossos” dízimos aos pobres? Com que regularidade? Será uma boa atitude fazer caridade com a parte que não nos pertence?

V. JUSTIFICATIVA POLÍTICA
“Eu não entrego mais os meus dízimos, porque eles não estão sendo bem administrados.”
Não cabe a nós determinar e administrar do nosso jeito o dízimo do Senhor que entregamos. Se os dízimos não estão sendo bem administrados, os administradores darão conta a Deus. Não cabe a nós julgá-los mas sim Deus é quem julga. Cabe a nós sermos fiéis.
Não será também que esta atitude seja aquela do menino briguento, dono da bola, que a coloca debaixo do braço sempre que as coisas não ocorrem do seu jeito?
Deus mandou que eu trouxesse os dízimos, mas não me nomeou fiscal do dízimo.

VI. JUSTIFICATIVA MÍOPE
“A igreja é rica e não precisa do meu dízimo.”
Temos conhecimento das necessidades da igreja? Temos visão das possibilidades de investimento em prol do avanço da obra? Estamos com essa visão míope, estrábica, amarrando o avanço da obra de Deus, limitando a expansão do Evangelho?
AINDA, não entregamos o dízimo para a igreja. O dízimo não é da igreja. É DO SENHOR. Entregamo-lo ao Deus que é dono de todo ouro e de toda prata. Ele é rico. Ele não precisa de nada, mas exige fidelidade. Essa desculpa é a máscara da infidelidade.

VII. JUSTIFICATIVA CONTÁBIL
“Não tenho salário fixo e não sei o quanto ganho.”
Será que admitimos que somos maus administradores dos nossos recursos? Como sabemos se o nosso dinheiro dará para cobrir as despesas de casa no final do mês?
Não sabendo o valor exato do salário, será que o nosso dízimo é maior ou menor do que a estimativa? Porque ficamos sempre aquém da estimativa? Será auto-proteção? Será desinteresse?

VIII. JUSTIFICATIVA ECLESIOLÓGICA
“Não sou membro da igreja”
Acreditamos mesmo que os nossos deveres de cristãos iniciam-se com o Batismo e a Profissão de Fé ou com a inclusão do nosso nome num rol de membros?
Não será incoerência defendermos que os privilégios começam quando aceitamos a Cristo: (o perdão, a vida eterna) e os deveres só depois que nos tornamos membros da igreja? Somos menos responsáveis pelo crescimento do Reino de Deus só porque não somos membros da igreja?

Para os desigrejados (quem não faz parte de uma igreja local ou denominação), qualquer sistema de contribuição com a instituição religiosa é visto com antipatia, pois são esses recursos que mantêm a instituição eclesiástica. Para alguns igrejados (que pertence a uma igreja local ou denominação) o dízimo não tem sido dado a devida atenção, em virtude dos desafetos com o abuso dos líderes eclesiásticos, criou-se uma repulsa aos assuntos relacionados a dinheiro, dízimos, contribuições para uma igreja local, quando segundo caso é a motivação vale lembrar que os reformadores ao se depararem com o mau uso das doutrinas bíblicas não negaram a validade delas, mas fizeram com que se retornasse a elas como deveria ser, negar as escrituras com base nos erros de autoridades eclesiásticas é negar também a reforma, além do que não se encontra nenhum reformador, pai da igreja ou um grande teólogo refutando tal ensino. Por isso acho que aqueles que negam esse ensino são os mesmos que vivem trocando de igrejas, sem nunca  relacionar-se com o corpo de Cristo, sua igreja.

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. – 2 Timóteo 3:1-5
Portanto, livrem-se de toda impureza moral e da maldade que prevalece, e aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los. Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos. Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência. – Tiago 1:21-24
Sola Scriptura

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A dificil tarefa da esposa de pastor

“Todos os dias da sua vida, ela só lhe faz o bem, e nunca o mal.” – Provérbios 31:12

Sabemos que a função de um pastor é desafiadora, repleta de exigências urgentes e pressões constantes. No entanto, a tarefa da esposa do pastor é ainda mais complexa. Enquanto o pastor enfrenta as demandas diretas do ministério, sua esposa, de forma indireta, também o acompanha. Ela não apenas compartilha o fardo, mas também cuida e apoia ativamente o marido.

O conselheiro bíblico Ed Welch define com acerto essa responsabilidade como “o trabalho mais difícil do planeta”. Nem todas as esposas de pastores podem sentir o peso dessa responsabilidade da mesma forma, mas aquelas que reconhecem a importância do ministério do esposo à luz da Palavra, que valorizam o amor e a dedicação genuína dele ao Reino, e que enfrentam as constantes demandas do rebanho, muitas vezes se veem desafiadas e exauridas por essa missão. Isso sem mencionar as expectativas da comunidade em relação a ela, à sua casa e aos seus filhos. Em algumas ocasiões, tudo pode parecer avassalador.

O pesquisador batista Thom Rainer elaborou uma lista das dez expectativas impossíveis que algumas esposas de pastores enfrentam ao apoiar seus maridos no ministério. A reprodução dessa lista aqui evidencia o peso que essas mulheres carregam:

  1. Ser ativa em todas as áreas da igreja, sem gerar ressentimentos por atividades fora dela.
  2. Conhecer todos os detalhes da vida da igreja, mesmo quando o próprio marido não possui esse conhecimento completo.
  3. Estar sempre disposta a ouvir críticas que as pessoas fazem sobre o marido, como se fosse um canal direto de comunicação com ele.
  4. Desempenhar o papel de “secretária eletrônica”, recebendo e transmitindo mensagens constantemente.
  5. Assumir cargos na igreja por ser a esposa do pastor, em vez de basear as atribuições em seus próprios dons e chamado.
  6. Ter filhos perfeitos e com comportamento irrepreensível, suportando a pressão adicional por serem os filhos do pastor.
  7. Manter o controle emocional em todas as situações, mesmo quando profundamente tocada pela mensagem ou pelo culto.
  8. Viver com modéstia financeira, evitando qualquer sinal de prosperidade material que possa gerar rumores.
  9. Ser a melhor amiga de todas as senhoras da igreja, embora isso nem sempre seja uma realidade viável.
  10. Agir como co-pastora, interferindo em áreas exclusivas do ministério pastoral.

Contrariando essas expectativas injustas, a esposa de pastor deve compreender o privilégio de ser uma auxiliadora na obra eterna de seu marido. Se o pastor é verdadeiramente dedicado ao Senhor, a convivência com ele é uma bênção. O que se requer dela é o mesmo que de qualquer esposa: ser uma fiel companheira.

Se o Senhor providenciou que uma de suas servas se tornasse esposa de pastor, Ele mesmo será a sua fonte diária de força. A esposa de pastor não deve se sentir intimidada por esse importante ministério, pois sua suficiência vem do Senhor. Além disso, a igreja, muitas vezes, possui irmãos amorosos que intercedem diariamente pela família do pastor, e alguns, generosos, contribuem para tornar a jornada no ministério mais agradável.

Apoiadora: O maior presente para um pastor não é um excelente co-pastor, um presbítero leal ou um diácono fiel. É uma esposa que o conhece melhor do que ninguém, conhece suas lutas, falhas e fraquezas, e ainda assim o apoia com amor, afirmação e cuidado inabaláveis. É uma esposa de fé firme em Deus, que sustenta seu marido nos momentos mais dolorosos e enfrenta as dificuldades da igreja com coragem.

Porém, é importante não idealizar em excesso: embora o apoio inabalável de uma esposa seja crucial, é igualmente essencial que ela veja a realidade com clareza. Ela deve ser uma apoiadora, mas não deve perder a objetividade. Não hesite em confrontar as áreas de orgulho e autoengano no coração do pastor. Seja uma ouvinte crítica para ajudá-lo a crescer em sua pregação. Não se deixe encantar a ponto de ignorar críticas válidas de pessoas confiáveis na igreja.

As mulheres casadas com pastores enfrentam desafios únicos. Lembrar-se dos seguintes pontos, além de orar regularmente por elas e pelo casamento, pode impactar a igreja de maneira significativa:

  1. Ela tem uma personalidade própria: Não é uma extensão do pastor e pode ter visões diferentes em diversos aspectos. Respeite sua individualidade e permita que ela seja quem é.
  2. Ela tem um chamado: Pode não se alinhar exatamente com o chamado do marido, e isso é normal. Algumas veem o ministério como uma vocação conjunta, outras têm um foco diferente.
  3. Ela pode enfrentar dificuldades financeiras: Muitas vezes, a esposa do pastor lida com as questões financeiras da casa pastoral, o que pode ser desafiador. Lembre-se de que cuidar dela é cuidar do pastor também.
  4. Ela compartilha seu marido com a igreja: Isso pode ser um desafio, pois limita o tempo em família. É importante valorizá-la como a pessoa valiosa que é.
  5. Ela vive sob expectativas irreais: As pressões da igreja podem ser intensas. Lembre-a de que o mais importante é a comunhão com Deus.
  6. Ela pode enfrentar amizades complicadas na igreja: É difícil discernir se as amizades são autênticas ou influenciadas pelo papel do marido.
  7. Ela é afetada pelas críticas ao marido: Entender a dificuldade do ministério pastoral e apoiar ambos é crucial.
  8. Ela lida com estresse e ambiguidade: A natureza do ministério muitas vezes é incerta. Compaixão e compreensão são essenciais

Lembrem-se , esposa de pastor não é uma função eclesiástica. É uma mulher como qualquer outra, as orientações bíblicas para as mulheres valem para todas as esposas: de pastor, de motorista, de policial, faxineiro, advogado…

Deus abençoe ricamente as esposa de pastores.

 


Notas:

  • Rev. Valdeci S. Santos
  • Thom Rainer
  • Edward T. Welch
  • Rev. Augustus Nicodemus
  • Brian Croft

Soli Deo gloria

Férias pastorais? Como assim?

Fim de ano chegando, os filhos irão entrar de férias, muitos na igreja viajam, o clima é de descanso, festa e confraternizações. Foi nesse clima que alguns dias atrás conversando com um pastor amigo falei que mais uma vez iria à Fortaleza na minhas férias, foi quando o pastor se  mostrou surpreso com a informação de que pastor tira férias. Ao que parece, para ele isso era inconcebível… afinal, como um pastor pode  dar uma pausa nessa magnífica missão? Na sua compreensão havia, logicamente, algumas distorções.

Acreditem, essa não foi a primeira vez que me deparei com esse tipo de situação, alguém achando que pastor não cansa, que não precisa tirar férias, mas o fato é que pastores se cansam. Jesus se cansou. Não foram poucas as vezes que o Mestre se retirou para um monte para orar e descansar da demanda das multidões.

Mas o cansaço pastoral é bom sinal? Eu diria que sim, caso seja observado como um sinalizador para uma parada. Isso porque uma igreja que tem um pastor que se cansa pode ter consigo o privilégio de ter alguém que é humano e que tem realmente um coração pastoral.

O apóstolo Paulo, em Atos 20:28 mostra a necessidade de o pastor ter um sério compromisso consigo mesmo.

Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue. – Atos 20:28

O pastor precisa cuidar de si mesmo antes de cuidar do rebanho de Deus.
A vida do pastor é a vida do seu pastorado. Conheço inúmeros amigos pastores cansados da obra de Deus e ainda assim continuam a obra sem parar, esses, acham que precisam continuar cuidando dos outros sem cuidar de si mesmos.

Antes de pastorear os outros, precisamos pastorear a nós mesmos. A vida do pastor é a base de sustentação do seu ministério, aquilo que aconselhamos aos membros das nossas igrejas, nós devemos ser os primeiros a praticar. O ministério pastoral não é uma apólice de seguro contra o esgotamento físico, mental ou espiritual.

Atividades ministeriais com horários descabidos, pois o rebanho precisa ser apascentado e isso não tem hora, em muitos casos não dá pra agendar, a responsabilidade em lidar com a natureza humana, as pressões decorrentes dos setores da igreja (louvor, presbíteros, diáconos, etc), as finanças pessoais e ministeriais e tantas outras coisas que pairam na mente do pastor, o colocam em perigo. O pastor precisa se prevenir para que seu mundo interior não desmorone.

Entre nós pastores conheço também aqueles que dizem não necessitar de férias, a esses, gostaria que respondessem algumas perguntas: Sua mente acha que precisa, e seu corpo? Você acha justo com seus filhos e principalmente com sua esposa não tirar férias?

Infelizmente é fato que muitos pastores acreditam que não precisam de férias, mas se eu puder sugerir, verifique junto a sua família e em seu próprio corpo alguns sinais (sintomas) que devem ser encarados como alerta.

1. Peso institucional: há certas comunidades que possuem tanto “script” a ser cumprido que as relações perdem sua naturalidade e se tornam artificializadas. Todos ali cumprindo seus papéis, o que termina fomentando a criação de máscaras. A falta de autenticidade gera perda de combustível emocional, cansando os que ali estão.

2. O excesso de demanda também cansa. Há comunidades que absorvem demais o pastor. Ou porque são imaturas demais para poder lidar com suas questões, trazendo ao líder tudo que acontece; ou porque o pastor é tão bom que dá vontade de ficar perto dele o tempo todo. Não há “Moisés” que consiga se manter com saúde emocional diante de uma demanda que ultrapassa os limites do que é razoável. Igrejas imaturas não caminham sozinhas.

3. A crítica desgasta, especialmente aquela que é fruto de incompreensão. Pastores que são “julgados” numa determinada situação, quando os membros não sabem da história e passam a desconsiderar a trajetória daquele líder que diz exatamente o contrário do que se passou a pensar e a verbalizar sobre ele. Essa incompreensão desgasta muito e acaba por drenar a energia emocional do pastor.

4. Perseguição. Há alguns membros que elencam o pastor como alvo de suas frustrações. Outros, por motivações infernais, passam a perseguir o líder. Como ao pastor não cabe retribuir na mesma moeda, a perseguição o conduz para o enfado e, não raras vezes, à precipitação do tempo de ministério pastoral numa localidade.

5. Desgaste familiar. A família pastoral é composta de gente. Por esta razão, sofre por vezes com conflitos. Nem o pastor, nem ninguém mais, tem família perfeita; portanto, a igreja precisa ter certa dose de compreensão e apoio para com a família pastoral, especialmente com os filhos. Se o pastor e a esposa estavam cônscios de sua missão como casal, ou mesmo da missão do marido, os filhos por sua vez não foram chamados a opinar. Por vezes o cansaço do pastor advém do seu abatimento ao ver a insana expectativa que é colocada sobre seus filhos, como se “pastorzinhos” fossem.

6. Falta de descanso programado. Há pastores que não respeitam sua folga semanal, necessária para recarregar baterias. Há muitos irmãos que também não respeitam essa folga, esperando um problema agudizar, explodir, para então chamar o pastor. E como explodem situações nos dias de folga e feriado! Perceba: há coisas que acontecem de modo inesperado, como uma perda. No entanto, há outras que podiam ser tratadas antes, evitando a explosão. O fato que ao ultrapassar os limites do descanso, princípio estabelecido por Deus na Criação, e fazendo-o de modo sistemático, o cansaço se acumula minando a saúde pastoral.

7. A traição da liderança é outro fator de desgaste. É um componente ético-emocional. Pessoas que lhe acompanham ou que você acompanha e que de repente rompem com sua liderança. Pessoas que lhe acompanham ou que você acompanha sobre as quais se descobre posteriormente (daí a estupefação e o cansaço dela decorrente) que elas já estavam rompidas com todo projeto de liderança cristã, de santidade e coerência que o Reino requer. Essa traição é doída, e por ser assim enrijece o coração. O problema é que não há ministério possível com coração endurecido. Essa é uma área de extremo enfado… e deserto.

8. A imaturidade dos membros que criam tensões desnecessárias. Pequenos choques sem reconciliações ou alguém com uma palavra de sabedoria para contornar essas rusgas acabam respingando no pastor. Ao fazê-lo, há uma perda de energia emocional, a qual vai sendo sugada a conta-gotas. Contudo, o fato de sair aos poucos não desmerece pra onde ela aponta: o esvaziamento do tanque emocional.

9. Falta de retorno da Igreja. Uma igreja que não responde, nem “sim”, nem “não”, às demandas, provocações e ideias pastorais, pode trazer um profundo desgosto e questionamento de chamado ao pastor. É quando o ralo está dentro do coração pastoral, escoando toda a energia emocional ali presente. Essa frustração ministerial ao lidar com “walkingdeads” eclesiásticos desgasta o coração do pastor.

10. Uma igreja essencialmente carnal. Lidar com uma igreja que busca o lenitivo espiritual e pastoral, ao mesmo tempo que se fere com o pecado, fere o pastor. Embora ele esteja ali também para escutar os membros mediante aconselhamento pastoral, é muito angustiante para o pastor ver suas ovelhas se machucando nos arames farpados do pecado. Ouvir como algumas, embora com a vida (ou seria sobrevida?) preservadas, tiveram pedaços inteiros arrancados pelas garras de lobos, ursos e leões, dói. Faz o coração chorar! Por fim, cansa ver tanta gente cansada e que insiste nesse projeto de vida que na verdade é um convite à morte diária.

Todas essas demandas cansam, tanto o pastor quanto sua esposa e filhos, por isso lhes digo, cumpram o principio bíblico do descanso semanal e também tirem férias. Nesse fim de ano tire alguns dias de descanso com a família, vá a um lugar onde toda a família pastoral possa recarregar a energia, durante esses dias desligue-se dos problemas eclesiásticos.

Admitir o cansaço é importantíssimo para garantir o prosseguimento da caminhada. Mas não basta admitir: é necessário também descansar. E isso extrapola a questão física. É necessário descansar a mente e, como sugeriu Agostinho de Hipona, descansar também a alma. Essa é minha sugestão para os homens e os ‘anjos’: admitam seu cansaço, não permitam que ele os impeça de chegar aonde podem e, principalmente, aonde Deus quer que cheguem. E se perceberem que o cansaço já se tornou extremo, então a urgência em descansar se torna imperativo e não opção.

É melhor admitir o cansaço quando ele ainda é suportável e não permitir que ele avance para níveis insuportáveis e doentios. Caso você tenha vergonha de admitir seu cansaço, vale a pena lembrar que até Jesus Cristo se cansou depois de uma rotina intensa (João 4.6) e sugeriu aos discípulos uma parada estratégica para descansar (Marcos 6.31-32), pois estavam sem tempo até para comer. Bom, acredito que não há melhor exemplo que o dele.

É SAGRADO

A família missionária não pode prescindir de suas férias. Elas são essenciais para o descanso do físico, emocional e psíquico. O Senhor Jesus, na Sua condição humana, se retirava para orar, descansar e refletir. Os Seus retiros eram fundamentais para o exercício do Seu ministério. As férias não podem ser vendidas, adiadas e nem omitidas. Precisam ser curtidas com toda a intensidade. O doutor Merval Rosa assinala: “É imperativo que os membros da família, além dos seus interesses pessoais, procurem desenvolver interesses dos quais todos participem. Planejar atividades em conjunto, passear juntos, ler juntos, brincar juntos, tudo isso cria uma atmosfera de cordialidade entre os membros da família, que os faz mais unidos, mais próximos uns dos outros. Revelar genuíno interesse naquilo que os outros membros da família fazem e aceitar nosso papel no seio da família robustece os laços familiares”. Não nos esqueçamos: o tempo com a família é o tempo mais bem investido depois da nossa comunhão com o Senhor.

Está ligado à saúde dos seus membros

As férias devem ser precedidas de exames médicos para ver se está tudo em ordem com os membros da família. É muito relevante sabermos que as férias são uma feliz oportunidade de relaxamento, reflexão e descanso criativo. A nossa mente, as nossas emoções e o nosso corpo necessitam de paradas periódicas. As férias são, portanto, uma recomendação médica segura e, acima de tudo, uma recomendação do Senhor.

Tenham um bom descanso de fim de ano e que no ano que se inicia possámos estar bem para Glória do Senhor.


Soli Deo gloria