Contra o Calvinismo – Roger Olson

Roger Olson escreve Contra o Calvinismo não como um ataque hostil, mas como uma defesa pastoral e teológica da fé arminiana evangélica. Sua preocupação central é que o chamado “novo calvinismo”, popularizado por nomes como John Piper e influente entre jovens evangélicos, apresente uma visão de Deus que, ao enfatizar a soberania absoluta, corre o risco de transformá-lo em autor do mal e reduzir a responsabilidade humana.

Olson começa reconhecendo a profundidade e a riqueza da tradição reformada, valorizando Calvino, Edwards e outros. Seu alvo, porém, não é todo o legado reformado, mas a versão rígida do sistema conhecido pelo acróstico TULIP (Depravação total, Eleição incondicional, Expiação limitada, Graça irresistível e Perseverança dos santos).

Resumo Esquemático

Cap. 1 – Introdução: Por que este livro agora?

  • Olson explica o crescimento do “novo calvinismo” entre jovens evangélicos.

  • Ele reconhece sua seriedade, mas alerta para as implicações perigosas do determinismo divino.

  • Resposta arminiana: reafirmar uma fé bíblica, cristocêntrica e responsável, que valoriza a soberania de Deus sem torná-lo autor do mal.

Cap. 2 – Calvinismo de quem? Qual teologia reformada?

  • O termo “reformado” é amplo e plural; nem todos os reformados abraçam a TULIP.

  • Muitos calvinistas históricos não reduziram sua fé apenas às cinco pétalas.

  • Resposta arminiana: o arminianismo também é uma expressão legítima da tradição reformada mais ampla, em diálogo com Calvino, mas crítico de Beza e do determinismo.

Cap. 3 – Calvinismo puro e simples: O sistema TULIP

  • Apresenta cada ponto da TULIP e suas implicações.

  • Olson vê o sistema como coerente internamente, mas problemático biblicamente e moralmente insustentável.

  • Resposta arminiana: propor uma alternativa que mantém a graça como central, mas sem negar a liberdade humana.

Cap. 4 – Sim para a soberania divina; não para o determinismo divino

  • Crítica: o calvinismo confunde soberania com controle meticuloso de tudo, até do pecado.

  • Isso gera a visão de Deus como autor do mal.

  • Resposta arminiana: Deus é soberano porque decidiu criar seres livres. Ele governa sem precisar determinar cada ato.

Cap. 5 – Sim para a eleição; não para a dupla predestinação

  • Crítica: a eleição incondicional leva, logicamente, à reprovação incondicional (dupla predestinação).

  • Isso faria Deus escolher alguns para o céu e outros para o inferno, o que contradiz Seu amor universal.

  • Resposta arminiana: a eleição é corporativa e em Cristo (Ef 1.4). Deus elege um povo e todos são convidados a entrar pela fé.

Cap. 6 – Sim para a expiação; não para a expiação limitada

  • Crítica: a expiação limitada reduz o alcance da cruz apenas aos eleitos.

  • Isso contraria textos claros como Jo 3.16, 1Tm 2.4, 1Jo 2.2.

  • Resposta arminiana: a expiação é suficiente para todos, mas eficaz apenas para os que creem. Cristo morreu por todos, e a salvação é oferecida universalmente.

Cap. 7 – Sim para a graça; não para a graça irresistível

  • Crítica: a graça irresistível transforma a conversão em um ato imposto unilateralmente, anulando a resposta humana.

  • Isso contradiz os muitos apelos bíblicos à fé e ao arrependimento.

  • Resposta arminiana: Deus concede graça preveniente, que capacita todo ser humano a responder ao evangelho, sem coagir.

Cap. 8 – Conclusão: Os enigmas do calvinismo

  • Olson argumenta que o calvinismo rígido é incoerente: afirma que Deus é bom, mas também que Ele ordena o mal.

  • Isso torna difícil pregar um evangelho que reflita o caráter amoroso de Deus.

  • Resposta arminiana: a fé deve ser inteligível, bíblica e pastoral, capaz de anunciar a bondade de Deus até diante de Auschwitz.

Apêndices

  • Olson responde a tentativas calvinistas de justificar moralmente suas doutrinas.

  • Ele mostra que, ao final, o calvinismo radical não consegue escapar da acusação de fazer de Deus o autor do pecado.


Síntese geral:
Olson afirma que um cristianismo bíblico deve manter:

  • A soberania de Deus, mas sem determinismo.

  • A eleição, mas em Cristo e corporativa.

  • A expiação, mas ilimitada em alcance.

  • A graça, mas resistível.

Ou seja, um caminho reformado arminiano, que valoriza tanto a centralidade da graça quanto a responsabilidade humana.

Como pastor reformado arminiano, percebo três pontos fortes na obra:

  1. Clareza no propósito pastoral – Olson demonstra preocupação com os jovens crentes fascinados pelo calvinismo determinista. Ele mostra que a alternativa arminiana não é um humanismo raso, mas uma fé igualmente bíblica, que salvaguarda tanto a soberania de Deus quanto a responsabilidade humana.

  2. Afirmação equilibrada da soberania de Deus – Longe de negar a soberania, Olson insiste que o problema não está na grandeza de Deus, mas na forma como alguns calvinistas a interpretam. Ele nos lembra que a Escritura revela um Deus que reina em amor e justiça, não um déspota arbitrário que decreta o pecado e a perdição.

  3. Respeito pelo diálogo teológico – Ao longo do livro, o autor evita caricaturas. Ele busca apresentar o calvinismo de forma justa, para depois expor suas objeções. Essa atitude pastoral é exemplar: debate firme, mas sem demonizar irmãos em Cristo.

Ao criticar a dupla predestinação, a expiação limitada e a graça irresistível, Olson oferece respostas arminianas que ressaltam a universalidade da graça de Deus (cf. 1Tm 2.4; Jo 3.16) e a seriedade da escolha humana. Como reformado arminiano, encontro aqui uma defesa que não apenas ressoa com Armínio e Wesley, mas que também dialoga com a tradição reformada mais ampla, onde a eleição corporativa e o amor preveniente de Deus têm lugar.

Contudo, o livro também desafia os arminianos. Olson reconhece que o evangelicalismo contemporâneo sofre de superficialidade doutrinária e pragmatismo. Nesse ponto, ele concorda com muitos calvinistas: precisamos resgatar uma fé centrada em Cristo e nas Escrituras, e não em moralismo terapêutico.

Conclusão

Contra o Calvinismo é mais que uma polêmica; é um chamado pastoral. Como pastor reformado arminiano, leio a obra como um convite à fidelidade bíblica que afirma tanto a grandeza soberana de Deus quanto a realidade da resposta humana. Olson nos lembra de que a melhor teologia é aquela que pode ser pregada diante de Auschwitz sem transformar Deus em cúmplice do mal, mas mantendo-o como o Deus santo, justo e amoroso revelado em Jesus Cristo.


Contra o Calvinismo — Roger Olson, Editora Reflexão, 2010