Ego transformado – Timothy Keller

Esse é um dos livros que você не pode morrer sem antes lê-lo.

Amados irmãos e irmãs em Cristo, hoje quero compartilhar com vocês uma pérola da literatura cristã que tem o poder de revolucionar a maneira como enxergamos a nós mesmos e, consequentemente, a nossa caminhada com o Senhor. Falo do livrete “Ego Transformado”, do estimado pastor e teólogo Timothy Keller. Em poucas páginas, Keller, com a maestria que lhe é peculiar, nos conduz a uma profunda reflexão sobre a humildade que brota do evangelho e que nos traz a verdadeira alegria.

Este livro é de suma importância para a vida cristã porque ataca a raiz de muitos de nossos problemas espirituais: o orgulho. Seja na forma de uma autoestima inflada ou de uma autodepreciação paralisante, o nosso ego está constantemente no centro de nossas preocupações, nos afastando da verdadeira liberdade encontrada em Cristo. Keller nos mostra que o evangelho oferece uma saída para essa tirania do “eu”.

Capítulo 1: A condição natural do ego humano

No primeiro capítulo, Keller faz um diagnóstico preciso da nossa alma. Ele descreve o ego humano natural como algo “superinflado”, comparando-o a um órgão inchado, prestes a explodir. Com essa imagem poderosa, ele nos mostra que nosso ego, por natureza, é:

  • Vazio: Busca construir sua identidade em qualquer coisa que não seja Deus.
  • Dolorido: Assim como um membro doente do corpo, está sempre chamando a atenção para si, sentindo-se esnobado ou ignorado.
  • Atarefado: Vive em uma busca incessante por autoafirmação, sempre se comparando aos outros e se vangloriando.
  • Frágil: Como um balão muito cheio, vive sob o risco iminente de ser “desinflado” por qualquer crítica ou fracasso.

Capítulo 2: A visão transformada do eu

Avançando para o segundo capítulo, somos apresentados à gloriosa alternativa que o evangelho nos proporciona. Keller usa o exemplo do apóstolo Paulo que afirmava: “pouco me importa se sou julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano; de fato, nem eu julgo a mim mesmo”. Aqui está o cerne da questão: a liberdade cristã não é ter uma autoestima elevada, mas sim um “autoesquecimento”.

A verdadeira humildade que brota do evangelho não é pensar mais de si mesmo, nem pensar menos de si mesmo, mas, como nos ensina C.S. Lewis, citado por Keller, é “pensar menos em mim mesmo”. É ter o ego saciado em Cristo, não mais inflado por elogios ou esvaziado por críticas. É a liberdade de não precisar mais conectar tudo à nossa pessoa, de simplesmente viver para a glória de Deus.

Capítulo 3: Como alcançar uma visão transformada do eu

Por fim, no terceiro e último capítulo, Keller nos aponta o caminho prático para essa transformação. Como Paulo, podemos sair do tribunal do julgamento humano e do nosso próprio autojulgamento? A resposta está no veredito que já foi dado por Deus em Cristo Jesus.

Em todas as outras cosmovisões, o desempenho leva ao veredito. Nós nos esforçamos para sermos bons, justos ou bem-sucedidos, esperando um dia receber a aprovação. No cristianismo, a lógica é invertida: o veredito nos é dado antes do desempenho. Pela fé em Cristo, recebemos o veredito de Deus, que nos declara justos e nos adota como filhos amados. Como Paulo afirma em Romanos 8.1: “agora já не há condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus”.

É porque Jesus Cristo foi julgado em nosso lugar que podemos deixar o tribunal. O veredito final já foi pronunciado. Agora, nossas ações não são mais uma tentativa desesperada de construir uma identidade, mas uma resposta grata ao amor que já recebemos.

Portanto, meus irmãos, a leitura de “Ego Transformado” é um exercício espiritual indispensável. É um convite para abandonarmos a busca frenética por autojustificação e descansarmos na obra consumada de Cristo. É o caminho para a verdadeira humildade e a alegria que dela resulta. Que o Senhor use esta obra para transformar nossos corações e nos levar a essa bendita liberdade do autoesquecimento.

Uma Análise de Romanos 9 — Jacó Armínio

Poucos textos bíblicos causaram tanto debate teológico quanto Romanos 9. Para alguns, trata-se da defesa mais clara da predestinação incondicional; para outros, é a reafirmação da soberania de Deus aliada à Sua justiça e misericórdia. No livro Uma Análise de Romanos 9, Jacó Armínio – pai do arminianismo – nos conduz a uma leitura cuidadosa, em formato de carta ao erudito Gellius Snecanus, onde explica sua interpretação do capítulo paulino.

Longe de ser um tratado frio, a obra é vibrante: Armínio argumenta que Deus não age de forma arbitrária ou injusta, mas sempre em consonância com Sua santidade. Um ponto fascinante é quando ele discute o endurecimento do coração de Faraó. Para Armínio, isso não significa que Deus tenha transformado um homem inocente em réprobo à força, mas que endureceu alguém já obstinado em sua própria maldade, um “filho da carne”. Assim, a justiça divina é preservada: faraó colhe as consequências da sua rebeldia, e Deus demonstra Seu poder sem ser acusado de injustiça.

Outro aspecto crucial é o equilíbrio entre misericórdia e juízo. Armínio mostra que o texto paulino apresenta Deus como Aquele que “suporta com muita longanimidade” até mesmo os vasos de ira.

Essa visão ressalta que a paciência divina precede o juízo, revelando não um Deus que predestina caprichosamente, mas que chama ao arrependimento antes de exercer Sua justa ira.

A importância dessa obra para o arminianismo é imensa. Primeiro, porque desmonta a acusação de que a teologia arminiana não sabe lidar com Romanos 9 – o texto clássico da predestinação calvinista. Segundo, porque estabelece, a partir do próprio Armínio, uma hermenêutica que combina fidelidade ao texto bíblico com sensibilidade pastoral. Em suas páginas, encontramos o coração de um teólogo que não teme as Escrituras, mas as lê com reverência, buscando compreender a justiça de Deus em Cristo.

Ler Uma Análise de Romanos 9 é entrar em um diálogo profundo com um dos maiores debates da história da teologia cristã. É ver a Bíblia sendo interpretada com rigor, mas também com humildade e senso pastoral. É um livro que não só desafia o intelecto, mas consola o coração: o Deus que se revela em Romanos 9 é soberano, sim, mas também justo, paciente e cheio de misericórdia.

Em resumo, esta pequena obra é grande em relevância. Para o leitor arminiano, é leitura obrigatória; para o calvinista, é um convite ao diálogo honesto; e para qualquer cristão sério, é uma oportunidade de ver como a Palavra de Deus pode ser estudada com profundidade e devoção.


Uma Análise de Romanos 9 — Jacó Armínio por Carlos Augusto Vailatti — Editora Reflexão, 2016

As bases para uma teologia pública – Abraham Kuyper

Se existe uma frase que resume Abraham Kuyper é esta:

“Não há um único centímetro quadrado em todo o domínio da existência humana sobre o qual Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: É meu!”

E é exatamente essa convicção que guia a leitura de As bases para uma teologia pública. Aqui, o autor nos mostra que a fé cristã não é apenas sobre culto de domingo ou devoções pessoais: ela tem impacto direto sobre como pensamos, trabalhamos, nos relacionamos e participamos da sociedade.

Por que este livro é tão importante?

Ler As bases para uma teologia pública não é apenas revisitar um clássico da tradição reformada, mas é abrir os olhos para um cristianismo integral, encarnado e transformador.

Abraham Kuyper nos lembra de algo que a modernidade insiste em apagar: Cristo é Senhor de tudo. Não existe um centímetro da vida que esteja fora do alcance da sua autoridade. E isso muda tudo: muda a forma como votamos, como trabalhamos, como pensamos ciência, como criamos nossos filhos, como apreciamos arte, como usamos a tecnologia e até como consumimos notícias.

Quando a fé é relegada apenas ao espaço privado, o cristianismo perde sua força cultural e social. Torna-se uma espiritualidade “doméstica”, restrita ao quarto de oração e ao culto dominical. Kuyper rompe com essa visão reducionista e nos convida a enxergar que o Reino de Deus invade todas as esferas da vida.

Esse é o grande valor do livro: ele confronta duas tentações do nosso tempo —

  1. O secularismo, que tenta excluir Deus da vida pública.

  2. O clericalismo, que quer impor a igreja como senhora de todas as áreas.

Kuyper mostra um caminho mais bíblico: cada esfera da vida (família, ciência, arte, estado, igreja) possui sua autonomia relativa, mas todas encontram o seu sentido e limite no senhorio de Cristo.

Um passeio pelos capítulos

  • Cap. 1 – A soberania de Deus e a vida pública: Kuyper começa estabelecendo a centralidade da soberania divina. Deus governa não apenas a igreja, mas toda a criação. Isso significa que política, ciência e cultura não são neutras: todas devem ser vividas sob o senhorio de Cristo.

  • Cap. 2 – Graça comum e graça especial: Um dos pontos mais marcantes da teologia kuyperiana. Ele explica como Deus, em sua graça comum, restringe o mal e permite que até os não-cristãos contribuam com avanços na ciência, na arte e no pensamento. Mas a graça especial, revelada em Cristo, é o que transforma o coração e dá sentido último à vida.

  • Cap. 3 – Esfera de soberania: Kuyper apresenta sua famosa doutrina das esferas (família, igreja, estado, arte, ciência etc.). Cada esfera tem sua autonomia relativa, mas todas devem se submeter a Cristo. É uma visão que nos protege tanto do clericalismo (igreja dominando tudo) quanto do secularismo (Deus sendo excluído da vida pública).

  • Cap. 4 – A cosmovisão cristã: Kuyper mostra como o cristão deve pensar o mundo de forma integrada, sem compartimentalizar fé e vida. A cosmovisão reformada nos permite enxergar o mundo com os óculos do evangelho, reconhecendo o pecado, mas também celebrando a redenção em todas as áreas.

  • Cap. 5 – Fé, política e cultura: Aqui, o autor demonstra na prática como a fé influencia a esfera pública. Ele mesmo, como político e estadista, viveu essa tensão. Para Kuyper, cristãos não podem se omitir da vida pública, pois a ausência deles abre espaço para ideologias anticristãs moldarem a sociedade.

  • Cap. 6 – O papel da igreja: A igreja, segundo Kuyper, não deve se fechar em si mesma, mas formar discípulos que vivam sua fé em todas as esferas. O culto prepara, mas a vida cristã acontece também fora das quatro paredes.

Impacto para o leitor de hoje

No Brasil de hoje, marcado por polarizações políticas, debates sobre laicidade, crises de ética na esfera pública e o avanço de ideologias que moldam cultura e educação, a leitura de Kuyper é um verdadeiro mapa espiritual e intelectual.

  • Para o jovem cristão que ingressa na universidade e se depara com visões de mundo materialistas e relativistas, Kuyper oferece a segurança de uma cosmovisão cristã robusta.

  • Para líderes e pastores, é uma obra que evita dois extremos perigosos: um evangelho alienado (sem impacto social) e um ativismo político sem evangelho.

  • Para todo cristão comum, o livro é um lembrete precioso: a fé não é um acessório da vida, mas a estrutura que dá sentido a tudo.

A relevância eterna da mensagem

Kuyper escreveu no século XIX, mas sua mensagem ecoa com ainda mais força hoje. Quando ele diz que não há um único centímetro da existência humana que Cristo não reivindique como Seu, está nos lembrando que o evangelho não é apenas sobre ir ao céu, mas sobre viver aqui e agora sob a luz do Reino.

Ler este livro é reencontrar a beleza de uma fé que não foge do mundo, mas o encara de frente. É descobrir que o cristão não é chamado apenas para pregar no púlpito ou cantar no culto, mas também para ser sal e luz na política, na arte, no jornalismo, na economia e em todas as esferas que moldam a vida em sociedade.

“A fé reformada não é um quarto escuro onde nos escondemos do mundo, mas uma janela aberta pela qual enxergamos toda a realidade iluminada pela luz de Cristo.”

Por isso, este não é apenas um livro a ser lido — é um livro a ser digerido, discutido em grupos, aplicado na vida prática e levado como ferramenta para engajar o mundo sem perder o evangelho de vista.


As bases para uma teologia pública — Abraham Kuyper por MOREIRA, Thiago — Editora Monergismo, 2020

O Deus que destrói sonhos – Rodrigo Bibo

Você já percebeu que a oração do Pai Nosso é a mais perigosa que existe?
Isso mesmo! Quando dizemos: “seja feita a tua vontade”, estamos, na prática, pedindo que Deus destrua os nossos sonhos. Pode soar duro, mas é libertador.

É essa a grande provocação do livro O Deus que destrói sonhos, escrito por Rodrigo Bibo, conhecido comunicador cristão, criador do Bibotalk e alguém que tem ajudado milhares de pessoas a pensar a fé de forma bíblica e realista.

Neste livro, Bibo pega na nossa mão e, com seu estilo divertido, cheio de referências da cultura pop (sim, tem até Xuxa, Homem-Aranha e Star Wars no meio!), mas com muita profundidade bíblica, nos conduz a uma reflexão séria:
Será que buscamos a Deus porque Ele é Deus, ou apenas porque queremos que Ele realize nossos desejos?

Um passeio pelos capítulos

  • Cap. 1 – A fábrica de sonhos (ou a Teologia da Xuxa): Bibo mostra como nosso coração é uma fábrica incansável de planos e desejos. O problema é que, corrompidos pelo pecado, nossos sonhos tendem a girar em torno de nós mesmos. É a chamada teologia good vibes, que transforma Deus em um “gênio da lâmpada gospel”.

  • Cap. 2 – Crucificando os sonhos: Seguir Jesus não é sobre ter autoestima elevada ou ouvir frases motivacionais. É sobre tomar a cruz e negar-se a si mesmo. O autor lembra que, na lógica do Reino, antes de ressuscitar, precisamos morrer — morrer para o ego, para a ambição e para a glória humana.

  • Cap. 3 – Os sonhos de um discípulo: Aqui aprendemos que ser discípulo não é ser fã de Jesus, mas imitador d’Ele. O discípulo sonha diferente, porque sonha com o Reino. É alguém que ama como Cristo amou, servindo ao próximo de maneira sacrificial.

  • Cap. 4 – Abrindo mão para viver a vontade de Deus: Bibo confronta uma das maiores ilusões do nosso tempo: achar que Jesus é apenas um “acréscimo espiritual” para a vida que já temos. Não! Seguir a Cristo exige abrir mão de ídolos e reposicionar toda a nossa existência debaixo do Seu senhorio.

  • Cap. 5 – Senhor, qual a tua vontade para minha vida? Esse é um dos pontos altos do livro. Em vez de reforçar a mentira de que “podemos ser o que quisermos”, o autor lembra que, segundo Romanos 6, somos escravos: ou do pecado ou de Deus. Não existe neutralidade. A grande questão não é “qual é o meu sonho?”, mas “qual é o meu chamado em Cristo?”.

  • Cap. 6 – A oração de um discípulo: Se começamos falando do Pai Nosso, terminamos também com ele. Orar é alinhar a nossa vontade à do Pai. E isso significa, muitas vezes, ver nossos projetos frustrados para que os planos eternos de Deus prevaleçam.

Por que ler este livro?

O maior mérito desta obra é ser um antídoto contra o cristianismo superficial.
Em um cenário evangélico cada vez mais marcado por triunfalismo, coaching gospel e promessas fáceis, O Deus que destrói sonhos nos lembra que o evangelho não é sobre nós, mas sobre Cristo.

  • É um chamado à maturidade.

  • É um convite à desilusão santa.

  • É uma convocação para abandonar a fé utilitarista e abraçar o discipulado de verdade.

Sonhar não é errado. O problema é quando nossos sonhos se tornam ídolos, e Deus precisa destruí-los para que possamos viver os d’Ele.

E, acredite, quando Ele destrói, não é para nos frustrar, mas para nos salvar de nós mesmos. Afinal, a vontade de Deus é “boa, perfeita e agradável” (Rm 12:2).

Para quem é este livro?

  • Para quem está cansado de mensagens de autoajuda travestidas de evangelho.

  • Para quem deseja amadurecer na fé e compreender o verdadeiro significado de ser discípulo de Jesus.

  • Para quem já viu seus sonhos ruírem e precisa redescobrir que há vida abundante mesmo assim.

“Deus não está comprometido com os nossos sonhos, mas com a Sua vontade. E isso, meu irmão, é infinitamente melhor do que qualquer plano que possamos fazer.”

Leia este livro com o coração aberto. Ele pode virar seus planos de cabeça para baixo, mas vai colocar você de joelhos diante de Cristo — e não existe lugar melhor para estar.


O Deus que destrói sonhos — BIBO, Rodrigo — Mundo Cristão, 2021

Contra o Calvinismo – Roger Olson

Roger Olson escreve Contra o Calvinismo não como um ataque hostil, mas como uma defesa pastoral e teológica da fé arminiana evangélica. Sua preocupação central é que o chamado “novo calvinismo”, popularizado por nomes como John Piper e influente entre jovens evangélicos, apresente uma visão de Deus que, ao enfatizar a soberania absoluta, corre o risco de transformá-lo em autor do mal e reduzir a responsabilidade humana.

Olson começa reconhecendo a profundidade e a riqueza da tradição reformada, valorizando Calvino, Edwards e outros. Seu alvo, porém, não é todo o legado reformado, mas a versão rígida do sistema conhecido pelo acróstico TULIP (Depravação total, Eleição incondicional, Expiação limitada, Graça irresistível e Perseverança dos santos).

Resumo Esquemático

Cap. 1 – Introdução: Por que este livro agora?

  • Olson explica o crescimento do “novo calvinismo” entre jovens evangélicos.

  • Ele reconhece sua seriedade, mas alerta para as implicações perigosas do determinismo divino.

  • Resposta arminiana: reafirmar uma fé bíblica, cristocêntrica e responsável, que valoriza a soberania de Deus sem torná-lo autor do mal.

Cap. 2 – Calvinismo de quem? Qual teologia reformada?

  • O termo “reformado” é amplo e plural; nem todos os reformados abraçam a TULIP.

  • Muitos calvinistas históricos não reduziram sua fé apenas às cinco pétalas.

  • Resposta arminiana: o arminianismo também é uma expressão legítima da tradição reformada mais ampla, em diálogo com Calvino, mas crítico de Beza e do determinismo.

Cap. 3 – Calvinismo puro e simples: O sistema TULIP

  • Apresenta cada ponto da TULIP e suas implicações.

  • Olson vê o sistema como coerente internamente, mas problemático biblicamente e moralmente insustentável.

  • Resposta arminiana: propor uma alternativa que mantém a graça como central, mas sem negar a liberdade humana.

Cap. 4 – Sim para a soberania divina; não para o determinismo divino

  • Crítica: o calvinismo confunde soberania com controle meticuloso de tudo, até do pecado.

  • Isso gera a visão de Deus como autor do mal.

  • Resposta arminiana: Deus é soberano porque decidiu criar seres livres. Ele governa sem precisar determinar cada ato.

Cap. 5 – Sim para a eleição; não para a dupla predestinação

  • Crítica: a eleição incondicional leva, logicamente, à reprovação incondicional (dupla predestinação).

  • Isso faria Deus escolher alguns para o céu e outros para o inferno, o que contradiz Seu amor universal.

  • Resposta arminiana: a eleição é corporativa e em Cristo (Ef 1.4). Deus elege um povo e todos são convidados a entrar pela fé.

Cap. 6 – Sim para a expiação; não para a expiação limitada

  • Crítica: a expiação limitada reduz o alcance da cruz apenas aos eleitos.

  • Isso contraria textos claros como Jo 3.16, 1Tm 2.4, 1Jo 2.2.

  • Resposta arminiana: a expiação é suficiente para todos, mas eficaz apenas para os que creem. Cristo morreu por todos, e a salvação é oferecida universalmente.

Cap. 7 – Sim para a graça; não para a graça irresistível

  • Crítica: a graça irresistível transforma a conversão em um ato imposto unilateralmente, anulando a resposta humana.

  • Isso contradiz os muitos apelos bíblicos à fé e ao arrependimento.

  • Resposta arminiana: Deus concede graça preveniente, que capacita todo ser humano a responder ao evangelho, sem coagir.

Cap. 8 – Conclusão: Os enigmas do calvinismo

  • Olson argumenta que o calvinismo rígido é incoerente: afirma que Deus é bom, mas também que Ele ordena o mal.

  • Isso torna difícil pregar um evangelho que reflita o caráter amoroso de Deus.

  • Resposta arminiana: a fé deve ser inteligível, bíblica e pastoral, capaz de anunciar a bondade de Deus até diante de Auschwitz.

Apêndices

  • Olson responde a tentativas calvinistas de justificar moralmente suas doutrinas.

  • Ele mostra que, ao final, o calvinismo radical não consegue escapar da acusação de fazer de Deus o autor do pecado.


Síntese geral:
Olson afirma que um cristianismo bíblico deve manter:

  • A soberania de Deus, mas sem determinismo.

  • A eleição, mas em Cristo e corporativa.

  • A expiação, mas ilimitada em alcance.

  • A graça, mas resistível.

Ou seja, um caminho reformado arminiano, que valoriza tanto a centralidade da graça quanto a responsabilidade humana.

Como pastor reformado arminiano, percebo três pontos fortes na obra:

  1. Clareza no propósito pastoral – Olson demonstra preocupação com os jovens crentes fascinados pelo calvinismo determinista. Ele mostra que a alternativa arminiana não é um humanismo raso, mas uma fé igualmente bíblica, que salvaguarda tanto a soberania de Deus quanto a responsabilidade humana.

  2. Afirmação equilibrada da soberania de Deus – Longe de negar a soberania, Olson insiste que o problema não está na grandeza de Deus, mas na forma como alguns calvinistas a interpretam. Ele nos lembra que a Escritura revela um Deus que reina em amor e justiça, não um déspota arbitrário que decreta o pecado e a perdição.

  3. Respeito pelo diálogo teológico – Ao longo do livro, o autor evita caricaturas. Ele busca apresentar o calvinismo de forma justa, para depois expor suas objeções. Essa atitude pastoral é exemplar: debate firme, mas sem demonizar irmãos em Cristo.

Ao criticar a dupla predestinação, a expiação limitada e a graça irresistível, Olson oferece respostas arminianas que ressaltam a universalidade da graça de Deus (cf. 1Tm 2.4; Jo 3.16) e a seriedade da escolha humana. Como reformado arminiano, encontro aqui uma defesa que não apenas ressoa com Armínio e Wesley, mas que também dialoga com a tradição reformada mais ampla, onde a eleição corporativa e o amor preveniente de Deus têm lugar.

Contudo, o livro também desafia os arminianos. Olson reconhece que o evangelicalismo contemporâneo sofre de superficialidade doutrinária e pragmatismo. Nesse ponto, ele concorda com muitos calvinistas: precisamos resgatar uma fé centrada em Cristo e nas Escrituras, e não em moralismo terapêutico.

Conclusão

Contra o Calvinismo é mais que uma polêmica; é um chamado pastoral. Como pastor reformado arminiano, leio a obra como um convite à fidelidade bíblica que afirma tanto a grandeza soberana de Deus quanto a realidade da resposta humana. Olson nos lembra de que a melhor teologia é aquela que pode ser pregada diante de Auschwitz sem transformar Deus em cúmplice do mal, mas mantendo-o como o Deus santo, justo e amoroso revelado em Jesus Cristo.


Contra o Calvinismo — Roger Olson, Editora Reflexão, 2010

Livre-Arbítrio Revisitado – Robert E. Picirilli

Introdução

O tema do livre-arbítrio sempre foi uma das questões mais debatidas na história da teologia cristã. Desde os escritos de Agostinho contra Pelágio até os embates da Reforma Protestante, passando pelos desenvolvimentos do arminianismo e calvinismo, a pergunta permanece: o homem pode escolher livremente a Deus?

É nesse cenário que se insere o livro Livre-Arbítrio Revisitado: Uma Resposta Respeitosa a Lutero, Calvino e Edwards, de Robert E. Picirilli (Editora Palavra Fiel, 2019). O autor é conhecido por suas obras sobre arminianismo reformado e pela defesa do que chama de “libertarian free will” (livre-arbítrio libertário). Sua proposta é oferecer uma resposta respeitosa, mas firme, às objeções clássicas levantadas por três gigantes da teologia: Martinho Lutero, João Calvino e Jonathan Edwards.

A Estrutura da Obra

O livro é bem organizado e pode ser dividido em quatro grandes partes:

  1. Definição de livre-arbítrio: Picirilli estabelece que livre-arbítrio é a capacidade humana de escolher entre alternativas reais, desde que o indivíduo possua conhecimento suficiente para discernir essas opções. Ele rejeita tanto o determinismo naturalista quanto o compatibilismo calvinista, defendendo o chamado autodeterminismo.

  2. Diálogo com Lutero, Calvino e Edwards: O autor analisa A Escravidão da Vontade de Lutero, A Escravidão e a Libertação da Vontade de Calvino, e A Liberdade da Vontade de Edwards. Picirilli demonstra respeito por esses teólogos, mas argumenta que suas críticas ao livre-arbítrio partiram de uma reação legítima contra o orgulho humano, acabando por negar mais do que a Escritura autoriza.

  3. Questões centrais: Aqui, ele enfrenta os grandes dilemas teológicos: a relação entre presciência divina e liberdade humana; a realidade da depravação total; o papel da graça preveniente; e a soberania de Deus em relação à responsabilidade moral do homem. Picirilli sustenta que a soberania divina não é ameaçada pelo livre-arbítrio, mas confirmada por ele, pois Deus quis criar seres capazes de responder livremente ao Seu amor.

  4. Conclusão: O autor reafirma a importância da liberdade da vontade como condição para a responsabilidade humana. Para ele, negar o livre-arbítrio enfraquece a justiça divina e compromete o entendimento da relação entre Deus e a humanidade.

Pontos Positivos

O mérito da obra está em três aspectos principais:

  • Clareza didática: Picirilli consegue apresentar conceitos complexos de forma acessível, o que faz do livro uma boa introdução ao debate.

  • Tom respeitoso: Mesmo discordando de Lutero, Calvino e Edwards, o autor reconhece sua grandeza e não os trata com superficialidade.

  • Ênfase pastoral: Mais do que uma disputa filosófica, o livro toca em implicações práticas: como pregamos o evangelho? Como entendemos a responsabilidade humana? Como preservamos a justiça de Deus?

Minha Crítica: O Problema do Termo “Livre-Arbítrio”

Embora reconheça o esforço do autor, considero que sua formulação sobre o livre-arbítrio gera mais confusão do que clareza. Isso porque, historicamente, Jacó Armínio — a quem Picirilli se diz herdeiro — não sustentava o livre-arbítrio no sentido natural ou libertário.

Armínio afirmava que, após a queda, a vontade humana está em cativeiro espiritual. O homem pode escolher entre coisas naturais (como comer, beber, trabalhar), mas é incapaz de escolher a Deus ou o bem espiritual por si mesmo. Ele escreveu:

“Neste estado, o livre-arbítrio do homem em relação ao verdadeiro bem não apenas é ferido, manco, enfraquecido, dobrado e diminuído, mas também aprisionado, destruído e perdido. E sua força não é nada além daquilo que é excitado pela graça divina.”
(Declaração de Sentimentos, 1608).

Portanto, quando Picirilli fala de livre-arbítrio como “capacidade constitucional” de escolher a Deus, corre o risco de se afastar da tradição arminiana clássica e se aproximar de uma linguagem semipelagiana, ainda que não seja essa sua intenção.

O Coração da Teologia Arminiana: Graça Preveniente

Para Armínio, o ponto central não é o livre-arbítrio humano, mas a graça preveniente de Deus. O homem está morto em delitos e pecados (Ef 2:1), e só pode ser despertado pelo Espírito Santo. Essa graça antecede toda decisão humana, tornando possível ao pecador ouvir, compreender e responder ao evangelho.

Dessa forma:

  • Sem a graça, o homem está perdido, incapaz de escolher a Deus.

  • Pela graça, o homem é capacitado a responder, mas ainda pode resistir (At 7:51).

  • A salvação, portanto, é obra da graça do início ao fim, e não produto da autonomia humana.

Assim, a salvação é obra de Deus do início ao fim (Fp 1:6), mas sem anular a responsabilidade humana.

A Voz de Wesley

João Wesley, herdeiro espiritual de Armínio e principal difusor do metodismo, reforçou essa mesma compreensão. Ele rejeitou qualquer noção de livre-arbítrio natural, mas celebrou a graça preveniente:

“Não há homem que tenha naturalmente poder para escolher o bem e rejeitar o mal. Mas todo homem tem, pela graça de Deus, poder para escolher a vida ou a morte.”
(Sermão 85: Sobre a Obediência à Consciência).

Para Wesley, assim como para Armínio, a questão não é exaltar a liberdade humana, mas glorificar a graça de Deus que restaura a liberdade perdida no Éden.

Para Wesley, como para Armínio, não celebramos a liberdade humana, mas a livre graça de Deus que restaura a vontade (Tt 3:4-7).

Conclusão

Livre-Arbítrio Revisitado é uma obra de grande valor, especialmente para quem deseja compreender como arminianos dialogam com o legado reformado. Picirilli apresenta argumentos consistentes e faz uma defesa respeitosa da responsabilidade humana diante de Deus.

Contudo, ao colocar o livre-arbítrio como conceito central, corre o risco de desviar o foco do ponto mais importante da soteriologia arminiana: a primazia da graça divina. O verdadeiro legado de Armínio e Wesley não é a defesa de uma autonomia da vontade, mas a proclamação da graça preveniente, que ilumina, desperta e capacita o homem caído a crer em Cristo.

Assim, como pastor, entendo que a igreja precisa ser cautelosa ao lidar com o termo “livre-arbítrio”. O que deve ser exaltado não é a liberdade humana em si, mas a livre graça de Deus que alcança pecadores, restaura vontades e conduz à fé salvadora.

Não devemos exaltar a liberdade humana, mas a livre graça de Deus (Ef 2:8-9; 1Co 15:10), que salva, transforma e sustenta.

Resumo final: O livro de Picirilli contribui para o debate e oferece bons insights, mas, em fidelidade a Armínio e Wesley, prefiro falar menos de “livre-arbítrio” e mais da “graça preveniente”. É ela que sustenta toda a esperança do pecador e garante que, pela ação do Espírito Santo, o homem possa verdadeiramente responder ao chamado de Cristo.


Livre-Arbítrio Revisitado — Robert E. Picirilli, Editora Palavra Fiel, 2019