Paternidade bíblica
Vivemos uma época em que os valores bíblicos são cada vez mais desafiados e distorcidos. O que antes era considerado bom agora é visto como mau, a luz é confundida com trevas, e conceitos fundamentais, especialmente os relacionados à família e à paternidade, estão sendo desconstruídos de forma alarmante. Este cenário nos leva a refletir sobre a urgência de reafirmar os princípios bíblicos em um mundo que constantemente os rejeita.
O movimento feminista moderno, por exemplo, levanta críticas severas ao patriarcado, frequentemente apontando o cristianismo como um dos pilares dessa estrutura que consideram opressora. Em muitos círculos, a visão bíblica de Deus como Pai é vista como arcaica e precisa ser desconstruída. No entanto, essa perspectiva ignora o verdadeiro significado do patriarcado nas Escrituras. Longe de ser uma forma de opressão, o patriarcado bíblico é um sistema onde o homem, como marido e pai, é chamado a cuidar, prover e proteger sua família, refletindo o amor e a provisão de Deus.
Ao rejeitar essa visão, o feminismo moderno muitas vezes promove um ódio contra a estrutura patriarcal sem entender seu propósito original. Essa ideologia, ao invés de buscar a verdadeira igualdade, acaba por criar uma competição entre os gêneros que desvirtua a harmonia que Deus projetou para homens e mulheres. O empoderamento feminino, que deveria ser uma celebração da dignidade e do valor inerente das mulheres, frequentemente se traduz em uma negação da feminilidade e em uma rejeição dos papéis complementares que Deus designou.
Além disso, a ausência paterna tem se tornado um problema cada vez mais comum. Com a crescente ênfase na autonomia feminina, muitos homens têm se afastado de seus papéis de liderança espiritual e moral dentro da família. Isso resulta em lares onde a figura paterna é desvalorizada ou mesmo ausente, deixando um vácuo que afeta profundamente a estrutura familiar.
Outro fator preocupante é a crescente intervenção do Estado na educação e na vida familiar. Historicamente, a responsabilidade de educar e guiar os filhos sempre pertenceu à família, com a escola e a igreja desempenhando papéis complementares. No entanto, hoje vemos uma tendência crescente de o Estado tentar assumir esse papel, promovendo ideologias que muitas vezes se opõem aos valores cristãos. Essa intervenção não é acidental, mas parte de uma agenda mais ampla que visa desconstruir a família tradicional e os valores judaico-cristãos que sustentam a sociedade ocidental.
O marxismo cultural, por sua vez, tem desempenhado um papel significativo nessa desconstrução. Ao relativizar princípios absolutos e promover ideologias como a ideologia de gênero, o feminismo radical e o politicamente correto, esse movimento visa desestabilizar a família, corroendo os valores que a mantêm unida. Karl Marx e Friedrich Engels, em suas obras, defenderam a abolição da família como uma estrutura opressora, e vemos hoje essa visão sendo colocada em prática de maneiras sutis, mas eficazes.
Diante de tudo isso, é essencial que os cristãos voltem à Palavra de Deus como sua referência principal. A Bíblia é clara ao ensinar que a responsabilidade de liderar e educar os filhos recai sobre os pais, e que essa liderança deve ser exercida com amor, sacrifício e respeito. A inversão desses papéis, promovida por ideologias modernas, tem causado confusão e disfunção em muitas famílias.
Precisamos lembrar que os princípios bíblicos não são apenas valores antigos que podem ser descartados ou adaptados conforme a conveniência cultural. Eles são fundamentos eternos, dados por Deus para o bem da humanidade. Em tempos de tanta incerteza e mudança, é mais importante do que nunca que os cristãos se mantenham firmes na fé, resistindo às pressões culturais e reafirmando o papel vital que a família desempenha no plano de Deus.
A Epidemia Silenciosa do Abandono Paterno
Vivemos em uma era onde o trabalho é altamente valorizado, mas, por vezes, essa dedicação excessiva ao trabalho pode gerar sérias consequências para as famílias. Um estudo realizado em 1999 revelou que divórcios são duas vezes mais comuns em casais onde um dos parceiros é considerado “workaholic”. Além disso, os filhos de pessoas viciadas em trabalho tendem a sofrer níveis maiores de depressão e ansiedade, até mais do que os filhos de alcoólatras. Isso demonstra que o excesso de trabalho pode ser tão prejudicial quanto vícios mais conhecidos.
No contexto familiar, o impacto de um pai ou mãe ausente pode ser devastador, mesmo que fisicamente presente em casa. Atualmente, não é necessário sair de casa para se ausentar dos filhos; muitos pais permanecem no lar, mas estão emocionalmente distantes. Essa ausência emocional gera filhos que, embora tenham pais vivos, crescem como órfãos. A desculpa mais comum é a falta de tempo, motivada pela necessidade de trabalhar para prover para a família. No entanto, o que muitas vezes ocorre é uma troca equivocada: a presença, o amor e os conselhos são substituídos por bens materiais, perpetuando um ciclo de trabalho compulsivo.
A presença paterna é tão crucial que o próprio Deus não permitiu que José, o pai terreno de Jesus, abandonasse Maria e o Filho que ela carregava. A Bíblia nos conta que José, ao considerar deixar Maria, foi instruído por um anjo a permanecer ao lado dela, reconhecendo que a criança em seu ventre era obra do Espírito Santo (Mt 1.20). José foi um pai presente e protetor, levando Jesus ao Egito para protegê-lo de Herodes e, depois, de volta a Nazaré, demonstrando a importância da presença paterna na vida do Filho de Deus.
Se até Jesus teve um pai presente, o que dizer de nós? A ausência paterna é uma epidemia silenciosa que tem destruído famílias dentro e fora das igrejas. Muitas crianças sentem a ausência de seus pais, e as consequências desse abandono são profundas. Especialistas em comportamento infantil identificam que a falta de uma figura paterna presente afeta as crianças desde cedo, resultando em baixo desempenho escolar, instabilidade emocional, baixa autoestima e comportamentos agressivos.
Pais que não cumprem seu papel e se ausentam de suas responsabilidades dentro do lar, transferindo a tarefa de educar, corrigir e amar seus filhos, contribuem para o desenvolvimento de traumas emocionais que podem durar uma vida inteira. Como igreja, precisamos estar atentos a essa realidade, incentivando pais a priorizarem sua presença e envolvimento na vida de seus filhos, seguindo o exemplo de José, que esteve ao lado de Jesus em todos os momentos cruciais de sua vida.
A paternidade bíblica
Segundo as Escrituras, a função dos pais e principalmente do PAI, vai muito mais além que ser o provedor das necessidades dos filhos, vai além de ser o super-herói, vai além da proteção, embora tudo isso seja função do pai, diante de Deus proteger e cuidar dos filhos não a função primordial.
Efésios 6:1-4
Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo. “Honra teu pai e tua mãe”, este é o primeiro mandamento com promessa: “para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra”. Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor.
O contexto que Paulo fala aqui da relação entre pais e filhos, indica que se trata de filhos pequenos, algo como crianças ou no máximo adolescentes, e traz importantes lições:
Em primeiro lugar: Os filhos devem obedecer aos pais (pai e mãe), ou seja, os pais têm autoridade sobre os filhos. Paulo entende que a relação entre pais e filhos é uma relação também espiritual, conforme ele mesmo ensina a partir de 5:18, e que, portanto, deve existir autoridade e submissão, exercer autoridade ou submetermos, é uma demonstração de que somos cheios do Espírito Santo.
Se os filhos devem obedecer aos pais, isso significa que os pais devem exercer autoridade sobre os filhos. Por tanto, ao educar os filhos, os pais não podem igualar-se aos filhos no sentido hierárquico, os pais não podem agir na educação dos filhos como “amigos”, que não tem autoridade sobre suas vidas, mas como pais, com autoridade de corrigir (com amor) quando necessário.
Os pais precisam transmitir valores de obediência aos filhos, isso acontece quando os pais ensinam que:
- As ordens ou pedidos devem ser obedecidos;
- Devem ser obedecidas de imediato;
- Obedecer de forma respeitosa.
Fuja do modelo de pai que o mundo criou, o PAI AMIGO sem autoridade, essa não é a função bíblica do pai, pois antes de ser amigo (embora essa também seja a função do pai), precisa ser o pai educador e discipulador, aquele que ensina a criança o caminho que ela deve andar, o amigo não ensina, apenas acompanha, o pai ensina, encoraja, acompanha e corrige, e só se faz isso com autoridade.
O pai deve ser o grande companheiro de aventura, mas na condição sempre de autoridade.
Tudo isso porque a criação de filhos não é apenas sobre comportamento, mas principalmente sobre o coração, não é apenas levar o filha à igreja, mas ensinar quem é Jesus Cristo. A preocupação dos pais deve ser o coração do filho, a Palavra de Deus nos diz:
- Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida. (Pv 4:23);
- O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. (Jr 17:9);
- Pois do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos… (Mc 7:21).
Se você não alcançar o coração do seu filho (pequeno), você fracassou como pai ou mãe. Toda a educação dos filhos deve ser direcionada ao coração.
Em segundo lugar: Os filhos aprendem a honrar os pais observando os próprios pais.
Há um texto atribuído a William Shakespeare que diz:
Há muito mais dos nossos pais em nós do que podemos imaginar…
Não sei se o texto é realmente de Shakespeare, mas está correto. Os filhos precisam do exemplo, os filhos precisam observar os pais orando, lendo a bíblia, obedecendo à Palavra de Deus, se submetendo ao Senhor, indo com alegria à igreja, visitando os pais (os avós da criança) e cuidando deles.
Muitos dos pensamentos e atitudes dos nossos filhos são repetições aprendidas conosco. Seja o exemplo para seu filho.
Em terceiro lugar: No versículo 1 Paulo se refere aos pais (pai e mãe) mas no versículo 4 ele se volta ao pai somente.
Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor
A responsabilidade de provisão da família está sobre o homem. Aqui Paulo diz o que fazer e o que não fazer na educação dos filhos.
O que não fazer: Não irretem seus filhos
Não use de sua autoridade para ser opressor, carrasco, legalista, autoritário. Essas atitudes levam ira ao coração dos filhos. Concordo com João Calvino que disse em seu comentário sobre o livro de Efésios:
Tal atitude excitaria o ódio e os levaria a lançar de si o jugo [paterno] de uma vez para sempre. Conseqüentemente, em Colossenses [3.21] ele adiciona: “para que não fiquem desanimados.” O tratamento bondoso e liberal conserva a reverência dos filhos para com seus pais, e aumenta a prontidão e a alegria de sua obediência; enquanto que uma severidade austera e inclemente suscita sua obstinação e destrói seu senso de dever.
O que fazer: criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor
Não podemos abandonar a disciplina, mas exercer a disciplina do Senhor, ensinado e o que Deus ensina e tratando nossos filhos como Deus nos trata.
Soli Deo gloria
Esse artigo foi baseado no livro Paternidade em Crise do Pastor Renato Vargens.
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