William H. Williamon escreveu um artigo intitulado “What if Wesley was right?” (E se Wesley estava certo?), dentro do livro “Our Calling to Fulfill” (Nosso Chamado para Cumprir), abordando os conceitos de John Wesley e suas implicações práticas para os dias atuais. Ele dialogou com a teologia de Wesley acerca de Deus e a Graça transformadora, afirmando que “se Wesley estava certo, então conferências sobre Wesley podem ser perigosas”, pois quando nos confrontamos com seus pensamentos teremos que rever nossas ações.

Tendo como inspiração o tema que Williamon levantou, parei para meditar em outras áreas que, se Wesley estava certo biblicamente e teologicamente, então, teremos sérios problemas com as nossas ações e pensamentos, pois não são somente as suas convicções, mas, em realidade, as convicções que o próprio Deus quer de nós. Em vista disso, enumerei cinco pontos que John Wesley pode nos instruir.

ECLESIOLOGIA: o mundo é minha paróquia

O modo que Wesley enxergava a igreja é muito diferente do que normalmente temos visto. Para ele, a Igreja não é o templo que usamos para cultuar a Deus e os membros não são aqueles que entram no prédio. Vai muito além disso! Seu campo de atuação é o mundo inteiro e seu público para a pregação são todos aqueles que não conhecem a Cristo. Se Wesley estava certo, não devemos focar nossos esforços demasiadamente nos templos e prédios apainelados, mas investir nossos esforços e recursos humanos nos campos brancos que estão à espera dos trabalhadores.

POBREZA: preferência aos desprovidos financeiramente

Uma das marcas mais nítidas na vida e ministério de Wesley é seu envolvimento com os pobres e os necessitados. De acordo com Mckenna “ter o espírito de compaixão pelo pobre” foi à forma como eram “conhecidos os wesleyanos”. A santidade de Deus é acompanhada pela justiça social, ela é a santidade de Deus em ação. Devemos ressaltar que o amor de Cristo vai além de simplesmente querer uma troca ou de um proselitismo camuflado de ação social; o amor dEle é verdadeiro e real. Se Wesley estava certo, nossas igrejas devem amar, ajudar e resgatar os desprovidos financeiramente.

EVANGELIZAÇÃO: pregação ao ar livre e em todos lugares

A história mostra que Wesley teve muitas dificuldades no início para aceitar a ideia de pregar ao ar livre, sendo somente depois de muita insistência do seu amigo George Whitefield que ele começou a ir para as ruas, fábricas, praças e aonde o aceitarem. Porém, depois de convencido dedicou-se a finco à sua responsabilidade missionária, que de acordo com Lelièvre: “Calcula-se que nos nove últimos meses do ano de 1739 ele pregou cerca de 500 vezes, das quais somente umas oito ou dez foram nas igrejas (…) [Wesley] Viajava em média 5.000 quilômetros por ano, a maior parte deles a cavalo. (…) [ele] aceitou a vida missionária como um dever, e sabia transformar a sua obrigação em trabalho verdadeiramente agradável”. Se Wesley estava certo, cada nação será nosso campo missionário, cada igreja será uma sociedade que envia missionários e cada membro aceitará sua responsabilidade missionária.

ECONOMIA: ganhe tudo o que puder, poupe tudo que puder e doe tudo o que puder

Uma das maiores dificuldades da sociedade moderna é se desfazer do apego financeiro. Na época de Wesley essa realidade não era diferente, e ele foi de encontro com qualquer tipo de pensamento e atitude gananciosa. Não foi por acaso que Wesley e seus companheiros foram apelidados pejorativamente de metodistas, pois seu estilo de vida era extremamente rigoroso, especialmente a parte financeira. Se Wesley estava certo, não ganhamos para ostentar, tão pouco poupamos para nos enriquecermos, mas utilizamos os recursos que Deus nos deu para investirmos no Reino dEle e para dividir o pão nosso com o nosso irmão desprovido.

JUSTIÇA: a luta contra a escravidão

Uma das contribuições mais significativas de Wesley para a sociedade é sua influência política contra a escravatura. O até então jovem William Wilberforce estava iniciando seus longos anos na carreira política e recebeu uma carta do respeitado pastor da Inglaterra, John Wesley, dizendo a ele que “Não se canse de fazer o bem. Eu sigo em frente em nome de Deus e no poder de Sua força, até que a escravidão americana (a mais vil que alguma vez viu o sol) possa ser banida diante dele”. Wesley tinha convicção que o cristão deve lutar pelos seus direitos e dos outros, para que haja justiça no mundo. Se Wesley estava certo, nós cristãos nos envolveremos com a política não para obtermos poder, mas para que a retidão, a justiça e a equidade, sejam garantidas (Pv 2:9).

Soli Deo gloria

Até pouco tempo, ser “evangélico” indicava vagamente aqueles protestantes de todas as denominaçoes – presbiterianos, batistas, metodistas, anglicanos, luteranos e pentecostais, entre outros – que detinham pelo menos três características: consideravam a Bíblia como Palavra de Deus, autoritativa e infalível; eram conservadores no culto e nos padrões morais; cultivavam uma visão missionaria. Hoje, no Brasil, o termo não abrange mais tais itens, mas tem sido usado para se referir a todos os que, no âmbito do cristianismo. não são católicos romanos: protestantes históricos, pentecostais, neopentecostais, igrejas emergentes, comunidades dos mais variados tipos etc. Os evangélicos tem tido dificuldade para escolher uma única palavra que os defina, já que “evangélico” praticamente perdeu seu sentido original. Quando, para nos identificarmos, precisarmos pedir licença para tecer longas explicações e depois temos de lançar mão de três ou quatro atributos. isto é sinal de que a coisa está realmente feia.

Quando me converti ao cristianismo, era em uma igreja pentecostal que tem na sua história uma tentativa de romper com o legalismo, lembro-me que quando fui a igreja pela primeira vez fiquei impactado pelo amor e a forma diferente dos irmãos daquela igreja, aos poucos fui conhecendo a igreja e seus costumes, observei que nem tudo era liberado aos membros daquela igreja.

Contudo, a igreja parecia realmente viver aquilo que seu pastor presidente escrevera em seu livro,-É proibido, do pastor Ricardo Gondim -. Ainda hoje muitas igrejas tem tentado tirar o rótulo de legalista, mas ao tentar fugir do legalismo tem caído em uma perigosa armadilha, a falta de disciplina, o que tem levado igrejas a um liberalismo sem precedentes, alias, foi por isso que o ministério o qual conheci a Cristo fracassou no Ceará.

É evidente a crise gigantesca em que os evangélicos se encontram: indefinição quanto aos rumos teológicos. multiplicidade de teologias divergentes. falta de liderança com autoridade moral e espiritual. derrocada doutrinaria e moral de lideres que um dia foram reconhecidos como referenda, ascensão de lideres totalitários que se autodenominam pastores, bispos e apóstolos, conquista gradual das escotas de teologia pelo liberalismo teológico, ausência de padrões morais que pautem ao menos a disciplina eclesiástica, depravação da doutrina.

Como resultado. cada vez mais pessoas procuraram igrejas para se sentirem bem, para buscarem solução imediata de seus problemas. Sem sequer refletir nas questões mais profundas acerca da existência e da eternidade. migrando de uma comunidade para outra sem qualquer compromisso ou engajamento com a vida crista.

O que aconteceu para que 0 evangelicalismo brasileiro? Entendo que a Reforma, com sua teologia e pratica. nunca chegou plenamente a nosso pais. Como declarou alguém: “Somos evangélicos moldados por uma argamassa meio católica, melo espirita e pouco ou quase nada reformada”.

Na fuga quase que desesperada para fugir do legalismo criamos ou permitimos que a disciplina fosse frouxa ou em alguns casos nem houvesse, aos poucos, enfraqueceu-se a aderência aos pontos fundamentais, com o objetivo de alargar a base de “comunhão” com outras linhas dentro da cristandade. Com a progressiva redução do que era básico, e com a “desculpa” de fazer-se “loucos” para ganhar os loucos, nos perdemos e nós é que estamos loucos.

A igreja pentecostal vem sofrendo uma mutação, da teologia Armínio/Wesleyana tem passado ser caracterizada pela teologia pelagiana e semi-pelagiana, tal mutação acarreta várias consequências, como: neopentecostalíssimo, uma espiritualidade mística empírica, uma doutrina pragmática e centrada no homem, e por fim, a perda da cosmo visão bíblica. O que se vê hoje, é uma igreja evangélica limitada a ações isoladas e fragmentadas na área social e politica, muitas vezes sem conexão alguma com a visão crista de mundo.

A frouxidão doutrinária e teológica e a escassez de disciplina tem nos conduzidos a uma vida meramente religiosa, mas sem relacionamento íntimo com Deus, somos os novos “católicos”, buscamos avivamento mas não temos santidade, sem qual ninguém verá a Deus.

Hoje ouço muito falar em AVIVAMENTO ESPIRITUAL nos púlpitos ,mas quase não ouvimos falar em SANTIDADE, precisamos compreender de uma vez por todas, SEM SANTIDADE não haverá AVIVAMENTO.

A disciplina eclesiástica está em risco de extinção. Desde que o pós-modernismo encontrou lugar em nossas igrejas, qualquer conceito que ameace o individualismo e seu estilo de vida, logo é taxado de arcaico. Volto a afirmar que muitos dos que se denominam cristão, acreditam que santidade é apenas um comportamento interno da igreja e em nada tem haver com o procedimento secular dos membros. O medo da impopularidade tem levado muitos crentes a serem complacentes com o pecado e tem tentado inutilmente justificar certos atos como comum a natureza humana e que a bíblia e a igreja não devem interferir. Por outro lado, o que dizer daqueles que, em nome do zelo pela disciplina, cometem injustiças e causam mais males do que bens?

Em todo esse contexto, a disciplina tem vida curta e a tolerância consagra-se como a virtude da moda. Porém, o que acontece com uma igreja sem disciplina?

Biblicamente a disciplina na igreja tem um triplo objetivo:

  1. Reestabelecer o pecador (MT 18:15; 1CO 5:5; GL 6:1)
  2. Manter a pureza da igreja (1CO 5:6-8)
  3. Dissuadir outro (1TM 5:20)